Local secreto e venda com senha: festas driblam fiscais no Carnaval do RJ
Produtores de festas lançam mão de diferentes táticas para fugir da fiscalização no Rio e promover eventos durante o Carnaval, oficialmente cancelado na cidade.
Venda de ingressos mediante senha e sem revelar o local do evento —informado somente horas antes da festa— estão entre as soluções de quem tenta burlar as regras.
Para conter blocos e festas clandestinas, a Prefeitura do Rio monitora redes sociais e sites de vendas de ingressos. Com o cerco mais fechado, a saída tem sido listas de transmissão e grupos no WhatsApp, além de mecanismos de segurança dos próprios sites de vendas de ingresso.
A empresa Party Industry, por exemplo, organiza entre sábado (13) e terça-feira (16) quatro eventos com ingressos de R$ 90 a R$ 700. As informações são repassadas pelo WhatsApp com informações básicas: horário, duração, artistas convidados, link de compra e uma senha de acesso.
Sem senha, não se consegue comprar ou sequer encontrar o evento no site de vendas. Nas páginas, vê-se que a maioria dos eventos omitiu informações de local ou descrição sobre os artistas convidados.
A única festa organizada pela Party Industry que tem mais detalhes na página de vendas é a Folklore, marcada para segunda (15). Com bebida liberada e ingressos de até R$ 400, os organizadores prometem 8 horas de evento. Entre os convidados anunciados está o Bloco 442, que assinou no início do ano manifesto pela não realização do Carnaval. Questionada pelo UOL, a produção da banda reforçou, na manhã de hoje, que não irá realizar nenhum evento no feriadão e pediu informações sobre a divulgação do evento em que consta seu nome.
A Secretaria Municipal de Ordem Pública informou ao UOL que não são todos os eventos no Rio que estão proibidos durante o Carnaval. Estabelecimentos que já tenham sido liberados para funcionar e cumprirem medidas de segurança, como distanciamento entre mesas e público reduzido, não precisam cancelar seus eventos no feriadão.
Para a pasta, eventos que omitem informações e exigem senha para venda de ingressos têm características de festa clandestina. Esses também estão sendo monitorados.
A Party Industry não respondeu à reportagem —poucos minutos após o primeiro contato, a empresa retirou seu nome da organização dos eventos no site.
Pagamento via PIX
Outros organizadores de eventos encontraram formas ainda mais difíceis de serem monitorados, fora dos sites tradicionais de vendas de ingressos.
O esquema é o seguinte: é criada uma página gratuita na internet, com os valores dos ingressos. O interessado tem que acessar a página, descobrir o valor, fazer um PIX para o número de celular disponibilizado e enviar para um e-mail os dados básicos para retirada de ingresso. O local do evento só é informado horas antes da festa.
Ao menos três festas usam o mesmo esquema para atrair pagantes. O UOL tentou contato com os três números disponíveis, mas somente um atendeu a ligação. Sem se identificar, a reportagem perguntou se seria possível informar ao menos a região da cidade em que o evento acontecerá. Um homem, que não quis falar o nome, pediu desculpas: "Não posso, meu amor, por questões de segurança. Se você comprar, a gente informa por e-mail duas horas antes do início da festa".
Fiscalização
A prefeitura reforça que eventos poderão ser cancelados. Ainda não há um processo simples para reaver dinheiro transferido via PIX e, portanto, há o risco de prejuízo financeiro para quem comprar ingresso de festa clandestina.
Comboios com auxílio da Polícia Militar irão fiscalizar a cidade a partir de informações obtidas por esses sites, blogs e denúncias recebidas pela Central 1746.
A Guarda Municipal também estará nas ruas com a "Operação Caça Bloco", com 490 agentes fiscalizando todos os dias ruas, praças e pontos tradicionais de festas para coibir blocos clandestinos.
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