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Bando de urubus invade cemitério e assusta moradores de Jaraguá (GO)

Cemitério de Jaraguá (GO) é invadido por urubus - Reprodução
Cemitério de Jaraguá (GO) é invadido por urubus Imagem: Reprodução

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos (SP)

01/03/2021 14h48

Um bando com mais de uma centena de urubus invadiu o cemitério do Parque da Serra, na cidade de Jaraguá, na região de São Patrício II, em Goiás, no dia 21 de fevereiro. A cena foi registrada de forma anônima, por um morador da cidade. Nas imagens, é possível ver a grande quantidade das aves de rapina, conhecidamente necrófagas, algumas pousadas sobre os túmulos enquanto outras apareceram ciscando e descansando sobre o chão de terra vermelha.

As imagens despertaram a atenção da população da pequena cidade com 52 mil habitantes, que está apavorada com a situação crítica do sistema de saúde municipal por conta da covid-19. Desde o início de fevereiro, já não há leitos disponíveis na cidade. Até o momento, 77 pessoas tiveram que ser transferidas para UTIs (Unidade de Terapia Intensiva) de cidades vizinhas.

A explosão de casos em fevereiro se revela em números alarmantes para uma cidade tão pequena, segundo o superintendente de Comunicação de Jaraguá, José Augusto da Silva Filho.

Do total de 2.516 casos confirmados de covid-19 (4,84% da população total da cidade), 1.008 foram registrados somente nos últimos 30 dias: 42,93% do total. Já das 71 mortes registradas desde o início da pandemia, 33 ocorreram em fevereiro, representando 46,48% do total em um único mês.

Na véspera da invasão do cemitério da cidade por urubus, no dia 20, a prefeitura havia lançado oficialmente um vídeo polêmico nas redes sociais, onde uma máquina retroescavadeira abre covas no cemitério da cidade para conscientizar a população sobre as altas taxas de infecção por covid-19 no município.

A campanha, como era de se esperar, dividiu opiniões e recebeu críticas de moradores que consideraram o conteúdo "desrespeitoso" e "doloroso".

"O trabalho não para em Jaraguá", diz o narrador do vídeo institucional, enquanto surge a imagem da retroescavadeira cavando um buraco no solo do cemitério. "Devido à falta de conscientização de uma parte da população, os números da covid-19 seguem em alta em nosso município. Por isso, para suprir o aumento do número de óbitos, está sendo necessária a abertura de novas covas no Cemitério Parque da Serra."

O vídeo mostra o trabalho iniciado pela prefeitura há algumas semanas, de abrir novas covas e já deixá-las preparadas, um indício claro do avanço da pandemia e do aumento da demanda por sepultamentos no local.

Placenta de vaca pode ter atraído as aves

"É como se tivéssemos duas mortes por dia desde o dia 1º de fevereiro", afirmou Silva Filho, desconsiderando que os urubus tenham sido atraídos para o cemitério por conta dos corpos enterrados recentemente. Coincidentemente, seis pessoas haviam sido enterradas no cemitério naquele domingo, mas tanto os servidores que trabalham no cemitério quanto funcionários mais antigos do setor de serviços públicos garantem que nunca viram um fenômeno como esse.

"Soubemos que uma vaca deu à luz numa propriedade rural perto do cemitério e provavelmente os urubus foram atraídos pelo cheiro da placenta. Só não sabemos ainda por que eles resolveram permanecer no cemitério depois", informou o superintendente de Comunicação, acrescentando que, na semana seguinte à invasão pelos urubus, o cemitério do Parque da Serra passou a receber uma intensificação nos serviços de limpeza e higienização, como forma de "prevenção".

"Todos na cidade estão muito assustados", desabafou Silva Filho. "Só não foi decretada calamidade ainda porque o prefeito está aumentando as restrições", complementou, lembrando que ao todo 571 estabelecimentos foram vistoriados, quando foram constatadas irregularidades em três. A prefeitura realizou também 25 autuações de cidadãos, sendo que 22 foram pelo não uso de máscaras.

O decreto de medidas de restrição na cidade foi reeditado, proibindo funcionamento de academias e aplicando regras de lei seca, atendendo o exposto na norma técnica publicada pela Secretaria de Estado de Saúde de Goiás.

"Enfrentamos em fevereiro o resultado das férias de final de ano e janeiro", explicou o prefeito de Jaraguá, Paulo Vitor Avelar (DEM), que foi ex-chefe de gabinete do governador Ronaldo Caiado (DEM). "Medidas restritivas tiveram que ser tomadas junto a ações rígidas, como fiscalização em massa, bem como desinfecção de locais públicos e abertura de novas UBSs [Unidade Básica de Saúde]."