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Trigêmeos que perderam mãe, avó e tia para covid-19 são adotados pelo tio

Douglas com a família - Acervo pessoal
Douglas com a família Imagem: Acervo pessoal

Simone Machado

Colaboração para o UOL, de Ribeirão Preto

02/04/2021 18h18

Depois de perderem a mãe, a tia e a avó para a covid-19 em um intervalo de apenas oito dias no mês passado, os trigêmeos Pedro, Paulo e Felipe, de apenas cinco anos, foram acolhidos e estão recomeçando a vida ao lado do tio e agora pai, o vendedor Douglas Junior Faria Amaral, de 26 anos.

As crianças, que moravam com a família em Parisi, cidade a cerca de 550 km de São Paulo, já haviam perdido o pai no fim do ano passado vítima de um acidente de trânsito.

Douglas, que também é padrinho das crianças, mora em Votuporanga, cidade vizinha, junto da esposa e da filha biológica, de um ano. Por ser o único familiar materno que sobreviveu e ter mais proximidade com as crianças, entrou com o pedido de guarda definitiva dos trigêmeos.

As crianças têm um irmão mais velho, de 18 anos, de um relacionamento anterior da mãe. O jovem está sob os cuidados do pai.

"A minha família sempre foi muito unida e eu sempre fui muito próximo dos meninos. Quando tudo aconteceu, eu conversei com minha esposa e não tivemos dúvidas de que iríamos ficar com eles e cuidar como filhos mesmo", relata Douglas.

Morando em uma pequena casa com dois quartos, sala, cozinha e banheiro, o vendedor não mede esforços para cuidar dos trigêmeos. Sem muito espaço, os meninos dormem em colchões que foram colocados de maneira improvisada no quarto do casal.

"A nossa casa é pequena, mas para morar eu, minha esposa e minha filha, estava ótima. De repente tivemos essa reviravolta e agora precisamos de mais espaço, queremos construir um quarto para eles, para que eles tenham o próprio espaço", explica.

Depois de tantas perdas e de ter a vida totalmente mudada em tão pouco tempo, Amaral relata que sonha em dar melhores condições de vida para os trigêmeos e que vem recebendo bastante ajuda de amigos e de moradores da cidade.

"A gente recebeu muitas roupas, sapatos e alimentos. Não imaginávamos que a nossa família seria tão acolhida pelas pessoas. Meu maior sonho é conseguir uma bolsa de estudos para eles. São crianças que já passaram por tantas coisas na vida e ter um apoio educacional é o que vai fazer a diferença no futuro deles", conta.

Campanha para os trigêmeos

Para ajudar a família a ampliar a casa onde moram construindo um quarto para os trigêmeos e comprar um carro com sete lugares, uma campanha virtual para arrecadar dinheiro foi criada ontem.

A meta é conseguir R$ 90 mil para a família. Até o momento, pouco mais de R$ 12 mil já foram arrecadados. A campanha tem duração de mais 16 dias.

"Minha família tem um carro e uma moto financiados, mas agora vamos precisar nos reestruturar porque em um veículo popular não cabe todo mundo. Fomos ver o valor de um carro com sete lugares e mesmo os mais antigos são caros. Mas acredito que vamos conseguir", diz.

Vítimas da covid-19

A avó dos trigêmeos Valentina Peres Machado, de 66 anos, foi a primeira a ser internada na Santa Casa de Votuporanga (SP) no início de março, quando foi diagnosticada com o coronavírus. Ela e suas duas filhas, Ana Paula Faria, de 36 anos, mãe dos trigêmeos, e Karina Angélica Faria, de 33, haviam sido contaminadas.

Na sequência, as duas filhas, Karina e Ana Paula, também precisaram ser internadas. Karina foi a primeira a não resistir às complicações da doença e morreu no dia 13 de março. Três dias depois, a outra irmã e mãe dos trigêmeos, Ana Paula, também não resistiu. A última a vir a óbito da família foi a avó Valentina, que morreu uma semana depois das filhas.

O irmão mais velho dos trigêmeos, de 18 anos, também foi infectado. Ele foi o único que ficou internado e se recuperou da doença.

"As crianças ainda não têm muita noção do que realmente aconteceu. Eles sabem que a mãe, a tia, a avó e o pai viraram estrelinhas, mas eles acham que um dia eles vão voltar. Esses dias um deles me perguntou por que todo mundo que ele gosta vira estrelinha. A gente fica até sem saber o que responder", lembra Douglas.