A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou hoje que o número de mortos na operação realizada ontem na comunidade do Jacarezinho, zona norte da cidade, subiu de 25 para 28. A operação gerou protestos e críticas, além de um pedido da ONU para que sejam investigadas denúncias de execuções sumárias.
Em entrevista ao Brasil Urgente, da Band, o secretário da Polícia Civil do estado, Allan Turnowski, disse que eram 27 motos. Porém, ele não considerou a morte do inspetor André Leonardo Mello Frias. O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, que afirmou que foram 28 óbitos — 27 civis e um policial.
"Não são 24 mortos, já são 27 mortos. 26 deles com antecedentes criminais. Então, não são cidadãos que foram feridos em uma ação errada da Polícia Civil. Foram criminosos, traficantes, que resistiram", declarou Turnowski.
De acordo com o secretário, essas pessoas teriam resistido por orientação dos líderes da facção que, segundo ele, são "politizados, com acesso às mídias sociais" e que incentivam a resistência "porque isso gera um desgaste para a polícia e evita que eles voltem nas suas comunidades".
O corpo do inspetor foi enterrado na tarde de hoje no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, zona oeste da capital fluminense, sob forte comoção de amigos e familiares.
Durante a entrevista, Turnowski explicou ainda que a operação no Jacarezinho teve 10 meses de investigação. "A polícia trabalha com dados de inteligência e depois a investigação mostra. Durante 10 meses buscamos todas essas informações. Montamos uma operação com mais de 200 homens, e os mandados de prisão de 21 traficantes eram recentes, tinham 2 dias", ressaltou.
Operação mais letal da história do Rio
A ação de ontem na favela é considerada a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, segundo pesquisadores, associações e profissionais que atuam na área. Ela ocorreu após o STF (Supremo Tribunal Federal) restringir operações durante a pandemia e a menos de uma semana da posse definitiva do governador Cláudio Castro (PSC) depois do impeachment de Wilson Witzel.
O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos criticou a violência na comunidade e pediu que investigações imparciais sejam abertas.
"Estamos profundamente perturbados pelas mortes de 25 pessoas numa operação policial", disse Ruppert Colville, porta-voz da ONU, numa coletiva de imprensa em Genebra que ocorreu hoje.
Segundo ele, tal caso confirma a tendência de uso excessivo de força por parte dos agentes policiais, cita "problemas sistêmicos" e diz que algo "claramente está errado". Para o porta-voz, o modelo de policiamento de favelas precisa ser repensado pelo país e um debate deve ser aberto.
Moradores protestam
Um grupo de manifestantes realizou um protesto na manhã de hoje nos acessos à comunidade do Jacarezinho. O grupo ocupou também o acesso à Cidade da Polícia, que fica na mesma região da comunidade. Uma faixa da Avenida Dom Hélder Câmara foi bloqueada.
Manifestantes carregaram um pano preto com a seguinte mensagem: "Justiça para Jacarezinho. Fim do massacre nas favelas". Outra mensagem dizia: "Não vamos esquecer". Um desenho de 24 cruzes acompanhava o texto. "Parem de nos matar", afirmava outra mensagem.
Operação no Jacarezinho (RJ) deixa dezenas de mortos
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