Dizer que mortos no Jacarezinho eram bandidos é política, diz coronel da PM
O coronel reformado da Polícia Militar José Vicente afirmou que o discurso de que todos os 28 mortos na operação na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, eram bandidos "é político". Ele foi um dos convidados de hoje do UOL Debate sobre violência policial, apresentado por Fabíola Cidral.
"Nós estamos observando que há uma saída política por policiais envolvidos na operação ou responsáveis por ela, assim como autoridades de Brasília, desculpando a ação porque eram todos bandidos e mereciam morrer de toda forma. Foram executados mesmo sem pena de morte no país. Acho importante que seja um marco", disse José Vicente.
Ele reforçou que a polícia tem um papel de agente da democracia e que hoje é "um momento importante para ela entender esse papel".
"Democracia não é feita apenas como funcionamento do Congresso, da Justiça ou com eleições, mas também como o Estado se apresenta para regular as interações da sociedade lá nas suas periferias. Aí que se mostra o papel da polícia e a democracia", afirmou.
Nós não podemos aceitar que esse policial seja o vingador da sociedade, que ele possa romper com a sua obrigação no cumprimento da lei para atingir pessoas que quebraram a lei.
José Vicente, coronel reformado da PM
O encerramento da Secretaria de Segurança pelo ex-governador Wilson Witzel foi criticado pelo coronel reformado. A medida, para ele, teria dado uma autonomia indevida à polícia.
"A Secretaria da Segurança Pública deveria estar fazendo um trabalho de coordenação das operações, dos valores, de padrões de qualidade do serviço policial. E não dar essa autonomia extrema que nós temos na polícia do Rio de Janeiro. As falas dos chefes logo após a operação, a insolência de mostrar poucas armas, de recolher 25 dos corpos dos combates mostram uma autonomia sobre seu próprio chefe, que é o governo do estado. Seus excessos não podem ser admitidos nem sequer em discurso", afirmou.
Polícia precisa treinar olhar antirracista, diz sociólogo
O cientista social Paulo César Ramos citou outro problema na atuação da polícia hoje: a discriminação. Para ele a polícia precisa ser treinada para não ser racista.
"É preciso reconhecer que existe um sistema de seleção e filtragem racial na seleção dos suspeitos. É preciso fazer um debate muito sério a respeito disso. Existe uma cultura policial, que já é importada de um sociedade que é racista, por isso o policial precisa ser treinado para não discriminar racialmente na rua", disse Ramos.
Para ele, os policiais precisariam "incorporar o discurso de que não basta não ser racista, tem que ser antirracista". "Acho que as polícias precisam incorporar isso e de que maneira? Na observação, no processo de vigilância, treinar o olhar para não discriminar racialmente. Onde eles veem o potencial suspeito, pode ser um menino indo para escola, pode ser um trabalhador voltando para casa e pode até mesmo ser seu colega de corporação que não está fardado", concluiu.
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