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Fake news: Mãe do Jacarezinho processa blogueiro e deputados bolsonaristas

Marlon Santana de Araújo e a mãe dele, Adriana Santana de Araújo - Arquivo Pessoal
Marlon Santana de Araújo e a mãe dele, Adriana Santana de Araújo Imagem: Arquivo Pessoal

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

20/05/2021 04h00Atualizada em 21/05/2021 14h43

Adriana Santana, que teve o filho morto na operação policial mais letal do Rio, na favela do Jacarezinho, entrou na Justiça com pedidos de indenização por danos morais contra quatro deputados, além do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, o ator Thiago Gagliasso e o youtuber Victor Lucchesi. Todos compartilharam um vídeo falso em que associavam ela ao tráfico de drogas.

No vídeo, uma mulher aparece brincando com um suposto fuzil. Foi provado que não era Adriana nas imagens e que se tratava de uma arma de airsoft em encenação para um canal do YouTube. Agora, a mãe de Marlon Santana, 23, pede pagamento de R$ 20 mil a R$ 40 mil a cada um dos citados, a retirada dos vídeos e uma retratação em suas redes sociais e em jornal de grande circulação.

O advogado de Adriana, João Tancredo, argumenta que a atitude de Allan dos Santos é recorrente, e cita o inquérito das fake news que corre no STF (Supremo Tribunal Federal) no qual o blogueiro é investigado. Ao UOL, o defensor afirmou que o histórico de Allan pode influenciar na decisão judicial relativa ao processo de Adriana.

"Eu acho que, nesse processo contra ele, o juiz vai considerar [o histórico] na hora de aplicar o dano moral. O juiz tem que reiterar a conduta repetida dele, para fixar uma indenização punitiva, para ele não fazer mais isso."

Também são processados os deputados estaduais Gil Diniz (sem partido-SP), Delegada Sheila (PSL-MG) e Filipe Poubel (PSL-RJ), além do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF).

Tancredo argumenta que todos têm milhares de seguidores, o que ajudou na ampla divulgação do vídeo e no impacto na imagem de Adriana.

"A imunidade parlamentar se dá em razão do exercício da função. E publicar mentiras não é exercício da função", afirmou.

Adriana pede que o ator Thiago Gagliasso pague R$ 40 mil e os demais citados, R$ 20 mil.

O pedido para a retratação em jornal de grande circulação, além da retirada, é para "limpar" a imagem de Adriana. "É importante se retratar porque quem viu a notícia mentirosa, depois que sai do ar não vê mais nada. É importante se retratarem com a verdade para atingir as mesmas pessoas que viram", diz o defensor.

O advogado pediu urgência ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para retirada dos vídeos do ar.

Até a tarde de ontem (19), a Justiça havia determinado que quatro deles apagassem o conteúdo, sob risco de multa diária de R$ 200 enquanto o vídeo estiver no ar —eles são Allan dos Santos, Delegada Sheila, Luis Miranda e Victor Lucchesi.

O que dizem os citados

Em nota ao UOL, a Delegada Sheila afirmou que ainda não tem conhecimento oficial do processo, mas que, quando fez o compartilhamento em suas redes, o vídeo "já estava em domínio público em outros canais". Mesmo diante de uma fake news, a parlamentar procurou justificar a publicação.

"O objetivo era mostrar o paralelo entre uma mãe desesperada pela perda dos filhos, policiais enlutados pela perda de um companheiro e a realidade de traficantes nas comunidades cariocas, fato que conheço muito bem após ter trabalhado por 6 anos na Polícia Civil do Rio de Janeiro", diz a nota.

A deputada estadual também diz que nunca afirmou que a mulher e Adriana eram a mesma pessoa. "No momento em que percebi que parte da audiência estava reagindo de forma equivocada na publicação, excluí para evitar mal-entendidos."

Filippe Poubel afirmou que sua assessoria jurídica não tinha ciência do processo.

Luis Miranda disse que soube do processo pela reportagem e logo excluiu os vídeos. "A publicação teve como único objetivo a defesa das forças policiais, bandeira que carrego orgulhosamente e pela qual seguirei lutando de forma implacável", afirma em nota.

Em nota enviada ao UOL, Victor Lucchesi afirmou que não foi notificado oficialmente sobre o processo, mas que excluiu o vídeo. Em relação aos danos morais, ele diz que não pode repará-los porque o vídeo já tinha atingido "considerável público" antes de sua postagem.

Apesar de a fake news já ter sido comprovada, Lucchesi insiste que "há uma clara semelhança física entre as supostas duas mulheres envoltas no fato em questão", e que, por isso, é possível inferir que "podem ser a mesma pessoa".

Até o fechamento desta reportagem, Gil Diniz e Thiago Gagliasso não haviam respondido aos questionamentos. Até a tarde de quarta (19), as publicações continuavam no ar.

O UOL não conseguiu contato com Allan dos Santos.