Quem são os mortos da operação policial mais letal da história do Rio
Com 28 mortos, a operação policial ocorrida no dia 6 de maio na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio, se tornou a mais letal da história do estado.
Por volta das 6h, logo no começo da ação contra o tráfico de drogas, um agente foi baleado na cabeça. As outras 27 mortes ocorreram em 12 pontos da favela, de acordo com os boletins de ocorrência registrados pelos policiais envolvidos na operação da Polícia Civil.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ compilou os nomes e as idades de alguns mortos —a identificação se deu no IML (Instituto Médico Legal) por meio de parentes que foram reconhecer os corpos. Um relatório de inteligência da Polícia Civil também traz a identificação.
Dos 21 alvos de mandado de prisão obtidos pela polícia, três deles foram mortos na operação.
André Leonardo Mello Frias
O inspetor da Polícia Civil tinha 48 anos e estava há nove na corporação. Filho único, era tutor da mãe, que teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Deixa uma companheira e um enteado de 10 anos.
Frias foi baleado na cabeça logo no início da incursão no Jacarezinho. O policial, que foi sepultado nesta sexta, gostava de armas e de participar de operações policiais.
Omar Pereira da Silva
Conhecido como Umbigão, tinha 21 anos e foi preso em 2019 por roubos. Estava em liberdade provisória.
Foi morto dentro de uma casa em uma localidade conhecida como Beco da Síria. Em registro de ocorrência, os policiais disseram ter revidado disparos que partiram de uma casa e o acusaram de atirar uma granada na direção deles.
Contudo, uma família que mora no local contestou a informação, dizendo que o rapaz estava desarmado e escondido no quarto de uma menina de 9 anos. As testemunhas contam que os agentes invadiram o imóvel para matá-lo.
Carlos Ivan Avelino da Costa Junior
Tinha 32 anos e foi baleado às 6h30. De acordo com boletim de ocorrência, os agentes informaram que foi socorrido e levado ao Hospital Municipal Evandro Freire, na Ilha, zona norte do Rio. Mas só chegou ao local já morto três horas depois, com a "face totalmente dilacerada" por disparo de arma de fogo.
Na ocorrência, dois policiais informaram ter encontrado ao lado dele granadas, drogas e um radiotransmissor. Entretanto, documento de inteligência da Polícia Civil traz um depoimento da mãe dele, que diz desconhecer que Carlos, em prisão domiciliar desde 2017 após ser preso por envolvimento com o tráfico, tivesse qualquer tipo de ligação com o crime organizado, já que era dependente químico e morador de rua.
Matheus Gomes dos Santos
Aos 21 anos, tinha anotação por furto a transeunte em 2017 e aparece em uma foto armado.
O caso de Matheus viralizou nas redes sociais: ele era o jovem que estava morto em uma cadeira de plástico com o dedo na boca. Foi baleado no Beco da Síria. Segundo a polícia, foi encontrado ferido em uma cadeira.
O perito criminal aposentado Cássio Thyone Almeida de Rosa, integrante do conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, contesta a versão da polícia.
"O corpo está em uma posição extremamente incomum, com o tronco ereto", disse ele, o que levanta a suspeita de que o rapaz possa ter sido acomodado na cadeira após ser morto.
Moradores do Jacarezinho relatam que policiais fizeram isso para humilhá-lo. Segundo familiares, Matheus não morava no Jacarezinho e estava na casa da namorada.
Isaac Pinheiro de Oliveira
Morto aos 22, era alvo de mandado de prisão por suspeita de associação com o tráfico. Possuía seis anotações criminais como associação ao tráfico e furto qualificado. Ele aparece em fotos nas redes sociais com pistola e fuzil.
Morreu em uma casa junto com Richard Gabriel da Silva Ferreira. "Ele já tinha um histórico de ser usuário e de vender drogas. Ia ser pai, não merecia morrer dessa forma tão cruel", disse uma pessoa próxima, que não se identificou.
Jonas do Carmo dos Santos
Tinha 32 anos e trabalhava como servente de pedreiro e de pizzaiolo. Tinha dois filhos —um de sete anos e outro de apenas um mês.
Segundo a família, estava indo comprar pão a pedido da esposa quando foi morto. Parentes afirmam que Jonas já esteve preso, mas já havia cumprido sua pena.
Marlon Santana de Araújo
Morreu aos 23 anos. Segundo moradores era mototaxista. A mãe de Marlon chegou a ser alvo de boatos após um vídeo que circulou nas redes sociais mostrar uma mulher segurando um fuzil, mas o caso foi desmentido pela própria Polícia Civil. Ela chegou a relatar que sofreu ameaças e disse que irá entrar com um processo.
De acordo com familiares, Marlon teria avisado a mãe que estava encurralado em uma casa com vários corpos.
"Quando meu filho foi para se entregar, junto com outros, mataram todo mundo. Foi a hora que meu filho parou de falar comigo. Eu fui até lá. Falaram que meu filho estava na casa. Fiquei no beco esperando meu filho sair, mas ele não saiu."
"Ele mandou uma mensagem com a voz bem baixinha dizendo: 'Mãe, ora por mim'", disse o tio do rapaz, Anderson Araújo.
Bruno Brasil
Preso em 2002 por tráfico, formação de quadrilha e porte ilegal de arma de fogo, acabou sendo solto três anos depois.
Segundo a Polícia Civil, era suspeito por associação para o tráfico de drogas. Foi morto em uma localidade conhecida como Beco da Zélia. De acordo com a família, Bruno vendia água e doces no mercado para vender na rua. Família acusa polícia de execução.
Cleyton da Silva Freitas de Lima
Tinha anotações por lesão corporal em 2012 e furto em 2014. Aos 26 anos, foi morto na Rua Darci Vargas. Após a operação, a Polícia Civil recebeu uma foto de uma faixa colocada na comunidade em homenagem a ele.
"Meu marido ficou de pé. Eles entraram na casa, colocaram meu marido de costas e atiraram. Os moradores da casa me contaram. Não tinha mais arma, não tinha mais nada. Eles estavam ajoelhados pedindo para não morrerem, e mataram mesmo assim. Meu marido podia ser o que for, mas esse não devia ser o fim dele", disse a esposa de Marlon ao UOL.
Caio da Silva Figueiredo
Não possuía anotações criminais. A irmã disse, em depoimento anexado a um relatório de inteligência da Polícia Civil, que soube da morte dele por conhecidos. E que teria ido morar com um amigo no Jacarezinho há alguns meses.
Ainda segundo a polícia, a irmã disse que Caio era usuário de drogas.
John Jefferson Mendes Rufino da Silva
Morreu aos 30 anos. Tinha registro por ameaça em 2015.
Antes de ser morto, trocou mensagens com a irmã dizendo que estava "encurralado" e pediu para que ela orasse por ele.
A tia de John Jefferson também conversou com o rapaz e enviou a última mensagem às 8h24 do dia 6.
Francisco Fabio Dias Araújo Chaves
Tinha 26 anos, era casado e deixa duas filhas, uma de três meses e outra de sete anos.
Atualmente trabalhava como entregador de aplicativos de delivery.
Jonathan Araújo da Silva
Tinha 18 anos. Trabalhava como entregador de mercado e, segundo a família, estava prestes a se alistar nas Forças Armadas.
Parentes contam que Jonathan morreu a caminho da casa da namorada.
Rai Barreiros de Araújo
Tinha 18 anos. Morador do Morro da Providência e foi, de acordo com parentes, morto junto com o amigo Pedro Donato Santana, 25, em uma casa.
Pedro Donato de Santana
Tinha 25 anos. Morador da Providência, no centro do Rio, foi morto quando estava na casa da namorada, segundo os parentes.
Amigo de Ray, deixou dois filhos, um menino de três anos e uma menina de seis meses.
Tinha anotações por roubos, furtos, porte ilegal de arma de fogo entre 2012 e 2015. Segundo a família, Pedro não tinha nenhum envolvimento com o tráfico local. Os parentes acusam a polícia de execução.
A mãe de Pedro disse que viu policiais debochando dos parentes dos mortos. "A gente olha para os policiais e eles estão rindo. Eles têm família, mas a gente também tem".
Guilherme de Aquino Simões
Tinha 35 anos. Foi preso por roubo em 2008 e estava foragido desde 2016. Em depoimento, a namorada disse que Guilherme "pertencia ao tráfico de drogas do Jacarezinho, onde atuava como soldado há pelo menos um ano".
Guilherme tinha uma filha. Durante o enterro, a menina gritou: "por que vocês estão levando ele?".
Richard Gabriel da Silva Ferreira
Tinha 23 anos. Era um dos 21 alvos de mandados de prisão que deram origem à operação da Polícia Civil. Pai de uma recém-nascida.
Rômulo Oliveira Lúcio
Aos 29 anos, já tinha sido preso e era procurado pela polícia. Relatório de inteligência da Polícia Civil tinha fotos dele armado. Em uma delas, aparecia com uma pistola na cintura. Em outra, ostentava um fuzil, postada em uma rede social em outubro de 2020.
Em outra imagem registrada às 6h38 de 1º de novembro de 2020, também exibia um fuzil. "Usualmente horário para que as forças policiais ingressem nas comunidades para cumprimento de determinações judiciais", diz o documento produzido pela Polícia Civil.
Era alvo de um dos mandados de prisão na operação por suspeita de associação para o tráfico.
Diogo Barbosa Gomes
Aos 38 anos, tinha anotações por desacato em 2014 e 2015. No relatório da Polícia Civil, aparece armado com fuzil em foto.
Wagner Luiz Magalhães Fagundes
Segundo a polícia, ficou preso por um dia em 2017 por receptação e tinha anotação por porte de droga para consumo próprio.
Segundo a polícia, a mãe de Wagner relatou que não o via há três anos e que ele era usuário de drogas. Tinha 38 anos.
Outras vítimas identificadas
- Luiz Augusto Oliveira de Farias
- Márcio da Silva Bezerra
- Maurício Ferreira da Silva
- Natan Oliveira de Almeida
- Pablo Araújo de Mello
- Rodrigo Paula de Barros
- Toni da Conceição
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