MP investiga 'suicídio' de idoso morto com 3 tiros; filhos são suspeitos
Após alegarem que a morte do pai Sérgio Faria Coelho de Souza, de 77 anos, foi um suicídio, dois filhos agora são acusados de homicídio. O caso aconteceu em outubro de 2016, mas policiais e promotores duvidam da possibilidade do homem ter se mantido consciente após, ao menos, dois tiros à queima-roupa.
De acordo com o "Fantástico", além dos filhos Sérgio e Daniela, os investigadores ainda possuem um terceiro suspeito, o namorado da filha que estava no local no dia da morte.
O inquérito foi finalizado dois anos após incidente e o trio foi acusado de homicídio qualificado pelo Ministério Público. A Polícia Civil pediu a prisão preventiva dos envolvidos, mas a justiça negou e concedeu a exumação do corpo para mais uma análise dos disparos.
Nesse novo procedimento, foi indicado que um dos tiros, localizado na mandíbula do idoso, penetrou o crânio "lateralmente", de tal forma que "preservaria o tronco cerebral do contato direto com o projétil".
Nelson Massini, perito particular que trabalha na defesa dos acusados, afirma que esse tiro foi o segundo dado pelo homem, que se manteve consciente e atirou contra si mesmo uma terceira vez.
A defesa da família mantém a versão do suicídio e reforça que o episódio foi parte de um drama familiar. "Eu espero, sinceramente, que a justiça seja feita e que seja reparado esse dano que já é um estrago na família", disse a advogada Ilcelene Bottari.
A morte
Cenas do incidente foram registradas pelas câmeras de segurança espalhadas pela casa onde o idoso morava com o filho, localizada em um bairro nobre da Zona Sul do Rio. Nas imagens da noite do ocorrido, Sérgio é visto atendendo o telefone e respondendo uma ligação de Vera, mulher com quem mantinha um relacionamento.
Enquanto conversava com a companheira, Sérgio desceu as escadas para um andar onde ficavam os quartos e não havia câmeras. Segundo o depoimento prestado por Daniela, ele estava no quarto dele, reclamando com a mulher, pois já havia pedido para que ela ligasse para o seu celular após às 22h, e nunca no fixo da casa.
Na versão contada pelos filhos à polícia, Sérgio ficou nervoso durante a conversa com Vera e passou a gritar com ela. Revoltado com a discussão, o idoso teria saído do quarto armado, ido em direção ao corredor onde todos os outros estavam e ameaçado atirar na própria cabeça.
O filho conta que afastou Eduardo e Daniela da cena, e viu seu pai fechar novamente a porta do quarto para efetuar um disparo. À polícia, Sérgio, o filho, disse ter pensado que tudo se tratava de um teatro do pai. Entretanto, ao ouvir o filho duvidar da sua intenção, o idoso teria aberto a porta do quarto, mostrado o peito com sangue na blusa e perguntado: "Isso é teatro?".
O primeiro tiro teria acontecido às 23h e os filhos e o genro de Sérgio afirmaram que haviam subido para acionar os serviços de emergência na sala, visto que o idoso estava agonizando de dor no corredor dos quartos e os celulares não captam sinal no andar de baixo da residência.
O filho aparece nas câmeras descendo as escadas mais uma vez após o telefonema para, posteriormente, se encontrar com Daniela e Eduardo na parte de fora da casa. Eles dizem que estavam no portão aguardando a chegada do socorro, quando ouviram mais dois disparos.
Às autoridades, o filho disse que o grupo entrou em desespero ao ouvir os tiros, pois acreditou que Sérgio havia se apossado da arma e atirado contra si mesmo. Entretanto, ao analisar as imagens das câmeras o Ministério Público afirma não ter notado "alteração no comportamento" do homem, que "possa indicar o momento dos disparos" que ele teria ouvido.
Na chegada da equipe de paramédicos e da polícia até o local, Sérgio foi encontrado morto. Ele tinha um tiro no peito, um no ouvido e outro na mandíbula. O trio disse ter presenciado um drama familiar e visto o idoso tirar a própria vida. Apesar das afirmações, o legista que analisou o corpo no Instituto Médico Legal discordou da versão e o caso passou a ser investigado como homicídio.
"A gente nunca tinha visto uma situação dessa, um suposto suicídio praticado com um disparo contra o peito e dois disparos na cabeça", afirmou Luiz Carlos Prestes, legista do MP-RJ, ao "Fantástico". Para o perito, Sérgio talvez tivesse conseguido atirar contra si mesmo duas vezes, mas "jamais" três.
Vera Lúcia de Castro Pinto é a única testemunha do incidente. Em depoimento, a mulher que estava no telefone com Sérgio diz ter mantido um relacionamento com ele durante 33 anos e que, na noite da morte dele, durante a ligação, ouviu uma voz feminina dizendo: "Essa casa é da minha mãe e eu não quero que essa p* ligue para cá".
O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza trabalhos de apoio emocional e prevenção ao suicídio e pode ser contatado a qualquer hora pelo telefone 188, com ligação gratuita a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar o site da instituição (www.cvv.org.br) e conversar com profissionais por meio do Chat, Skype ou e-mail.
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