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Motoboy é investigado por matar ex, de 16 anos; mãe tentou evitar encontro

Thalya foi morta aos 16 anos; ex-namorado foi autuado por feminicídio  - Ãrquivo pessoal
Thalya foi morta aos 16 anos; ex-namorado foi autuado por feminicídio Imagem: Ãrquivo pessoal

Heloísa Barrense

Do UOL, em São Paulo

17/06/2021 16h31Atualizada em 17/06/2021 21h42

Thalya Hellen Moreira, de 16 anos, foi encontrada morta na terça-feira (15) na Zona Oeste de São Paulo. Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) o ex-namorado, o motoboy Thayan Alves, de 24 anos, foi preso em flagrante e é investigado pela morte da jovem. Eles haviam terminado o relacionamento recentemente e Thalya teria ido até a casa do ex, por volta das 20h23, para conversar com ele.

Policiais militares foram acionados para atender uma agressão com disparo de arma de fogo e foram recepcionados pelo pai e pela madrasta do motoboy. Segundo depoimento, o filho e a ex-namorada estavam no quarto quando o casal ouviu um barulho estranho.

Eles chamaram pelos jovens, mas nenhum dos dois responderam. Ao abrir a porta, encontraram os dois caídos com manchas de sangue ao redor. Ainda, de acordo com as testemunhas, o jovem estava consciente, porém tinha falas desconexas.

A morte de Thalya foi constatada no local e Thayan foi levado ao Hospital das Clínicas, onde passou por procedimento cirúrgico e permaneceu sob escolta policial.

O irmão de Thalya, Jeferson Moreira Alves, de 22 anos, afirmou ao UOL que os dois haviam terminado o relacionamento há poucos dias e que o pai e a madrasta de Thayan passaram para buscar a adolescente na casa.

"Minha mãe falou para ela não ir, ela desconfiava que ele iria fazer alguma coisa com ela, mas acredito que por ela estar com o pai e a madrasta do Thayan, ela se sentiu segura e foi", disse o irmão, afirmando que essa teria sido a primeira vez que o casal passou na casa de Thalya.

No momento em que o carro chegou, Jeferson e a mãe, Elissandra Moreira, de 37 anos, não estavam em casa. "Foi questão de minutos. Chegamos em casa, fomos fazer o jantar. Foi o tempo da minha mãe sentar na escada e a mulher ligar falando que aconteceu uma tragédia e desligar na nossa cara", disse o irmão.

mãe - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Elissandra Moreira ao lado da filha, Thalya, de 16 anos
Imagem: Arquivo pessoal

Momentos antes do crime, Elissandra afirmou que chegou a mandar mensagens para Thalya e desconfiou do tom das respostas. "A minha filha falou para eu não ficar falando com ela, coisa que ela nunca tinha dito antes. Ela sempre passava as mensagens com carinho. Eu tenho certeza que não foi ela que escreveu", afirmou, em entrevista ao UOL.

De acordo com Jeferson, os dois estavam vivendo um relacionamento por cerca de um ano e Thalya estava feliz pelo fim do namoro.

"A minha irmã reclamava muito para mim que ela se sentia sufocada, que ele prendia ela, não deixava ter contato com os amigos", contou. "Ele só deixava ela trancada e a minha irmã disse que não queria isso. Ela estava se distanciando da família, dos amigos. Trabalhava de segunda a sábado e ele tinha ciúmes até do trabalho dela."

Segundo Jeferson, Thalya havia conseguido um trabalho como manicure de um salão de beleza e queria ganhar dinheiro para ajudar nas contas de casa e estudar odontologia. Após o término, ela começou a retomar o contato com amigos e familiares.

"Eu nunca tive contato com o Thayan. Ele só queria minha irmã da porta para fora", afirmou Jeferson. Segundo o irmão, os dois se conheceram por intermédio de pessoas próximas.

"A minha irmã agiu por inocência. Ela foi conversar para ajudar, não sabia se ia ter um possível retorno eles dois, mas o que eu tenho para pedir é Justiça pela minha irmã."

Em nota, a SSP informou que o pai de Thayan disse que não sabia que o filho portava uma arma em casa.

Ameaças e roxos

Elissandra conta que não tinha muito contato com o ex-namorado da filha. "Ele vinha, buscava a minha filha, deixava ela trancada na casa no final de semana, e ia trabalhar. Eu brigava com ela e dizia para ela não ir."

A mãe afirmou que já desconfiava do comportamento de Thayan antes do crime. "Uma vez ela falou que ele brincou com uma arma, colocou a arma na cabeça dela. Ela dizia que era de brinquedo, mas eu duvidei. Eu acho que foi a arma que ele usou para matá-la", defende a mãe.

Outras ameaças também foram identificadas pela família durante o ano de relacionamento. Segundo Jeferson, ao saber que Thalya estava em uma chácara com amigos, Thayan enviou uma foto com uma faca no pescoço ameaçando tirar a própria vida. "Ele falava que ela era comprometida, que ela não deveria ter saído", relembra o irmão.

Elissandra também afirmou ter notado roxos espalhados pelo corpo da filha. "Ela aparecia com hematomas nos braços e nas pernas e dizia que era pancada, mas eu duvidava. Ela nunca tinha levado pancada assim."

Provas no celular

celular - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Família de adolescente acredita que celular pode ter provas sobre o crime
Imagem: Arquivo pessoal

A família agora busca tentar desbloquear o celular da adolescente, já que eles acreditam que o aparelho possua provas sobre o crime.

"A gente precisa de acesso às redes sociais, coisa que a polícia não nos deu suporte. Eles disseram que era algo que a gente deveria saber, porque é particular. Nos devolveram o aparelho e não quiseram desbloquear", informou Jeferson.

O irmão de Thalya ainda diz que, com o impacto, o aparelho foi danificado e que marcas de sangue podem ser vistas na tela. "É uma prova, deveria ter ficado com eles", defende.

O caso foi registrado pela 4ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), que autuou Thayan em flagrante por feminicídio, violência doméstica e porte ilegal de arma de fogo com numeração raspada.

"Feminicídio é uma coisa que acontece muito. A gente acha que nunca vai acontecer na nossa família, que nunca vai chegar, mas infelizmente estava próximo. A minha irmã era uma menina tão doce, tão sensível, ingênua... Ela agiu por achar que estava segura com o pai e a madrasta e eles a levaram para a morte."

As investigações do crime seguem por meio de inquérito policial. Segundo a SSP-SP, a autoridade policial solicitou a prisão preventiva, que foi decretada pela Justiça. O UOL entrou em contato com a SSP-SP para pedir um posicionamento a respeito do aparelho telefônico, mas não obteve um retorno.