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PE: Mulher trans que teve corpo incendiado morre após 15 dias internada

Mulher foi internada no Hospital da Restauração com 40% do corpo queimado - Reprodução/Google Street View
Mulher foi internada no Hospital da Restauração com 40% do corpo queimado Imagem: Reprodução/Google Street View

Ed Rodrigues

Colaboração para o UOL, do Recife

09/07/2021 12h54

A mulher trans de 32 anos que teve o corpo incendiado no Recife (PE) morreu na manhã de hoje. Roberta Silva passou 15 dias internada no Hospital da Restauração, em estado grave. Ela teve 40% do corpo lesionado com queimaduras de terceiro grau. Às 9h, segundo a unidade de saúde, a paciente não resistiu às falências respiratória e renal.

Com a morte dela, sobe para quatro o número de pessoas transexuais assassinadas em Pernambuco em menos de um mês.

O Movimento LGBTQIA+ Leões do Norte lamentou a morte de Roberta Silva. Ao UOL, o vice-presidente da entidade, Rildo Veras, disse que recebeu a notícia com tristeza.

"É preciso uma trans ser queimada e morrer para o estado nos ver como cidadãos e cidadãs. Parece que só a morte nos traz dignidade", disparou.

Para a Leões do Norte, os ataques sequenciados demonstram a dimensão da transfobia na sociedade brasileira.

"Só sendo queimados, esfaqueadas, é que somos percebidos pelo estado brasileiro. Vale ressaltar que em sua maioria são crimes de ódio. No imaginário comum do agressor, ele não quer só matar o corpo, mas também a história daquela pessoa", disse Rildo Veras.

"Foi só depois que Roberta foi queimada, que a notaram. Ela já era cidadã, moradora de rua, mas uma cidadã com seus direitos negados. Nós somos queimadas, esfaqueadas e mortas porque ousamos amar de maneira diferente do foi condicionado pela sociedade. E, por isso, pagamos com a vida. Mas não vão nos calar", acrescentou.

Em suas redes sociais, ao longo da semana, o governador Paulo Câmara exigiu da Polícia Civil uma investigação rigorosa de todos os casos registrados nas últimas semanas.

Segundo a SDS (Secretaria de Defesa Social), de janeiro a maio deste ano, o estado registrou 13 homicídios de pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Os números do mês de junho, informou a pasta, serão fechados no próximo dia 15.

Entenda o caso

Roberta Silva era moradora de rua e foi atacada no dia 24 de junho. Ela dormia, no Cais de Santa Rita, centro do Recife, quando foi incendiada por um adolescente de 16 anos. O jovem foi apreendido em flagrante e Roberta, socorrida no Hospital da Restauração, onde há um setor referência em queimaduras no estado.

A vítima deu entrada da unidade de saúde com 40% do corpo atingido e queimaduras de 3?. Devido às lesões, teve de imediato um dos braços totalmente amputado.

Dias depois, contra todos os esforços da equipe vascular do hospital, teve o outro braço amputado acima do cotovelo.

Após uma piora, Roberta precisou ser intubada e enviada à UTI do HR. Hoje, no entanto, ela não resistiu.

Outros casos

A morte de Roberta Silva é o quatro homicídio de pessoas trans em menos de 30 dias no estado.

No dia 18 de junho, Kalyndra Selva foi asfixiada pelo companheiro dela, no Recife. No último domingo (4), a cabeleireira Crismilly Pérola foi morta a tiro também na capital pernambucana.

Já na madrugada da quarta-feira (7), Fabiana da Silva Lucas foi assassinada a golpes de faca em Santa Cruz do Capibaribe, agreste pernambucano.