Cabeleireira trans é morta um mês após sofrer ataque transfóbico no Recife
No último domingo (4), a cabeleireira Crismilly Pérola, de 37 anos, não retornou para a casa onde morava na comunidade Beira-rio, no Recife, após uma festa. Cris, Bombom ou Piu-piu, como a mulher trans era conhecida por amigos e vizinhos, foi encontrada morta, com uma perfuração provocada por arma de fogo, na manhã desta segunda-feira (5).
O assassinato ocorreu um mês após a vítima ter sofrido um ataque transfóbico em um bar. A morte da cabeleireira é o terceiro registro de violência contra mulheres trans em menos de um mês na capital pernambucana.
Dias antes da agressão, o homem não identificado xingou gratuitamente a mulher, conta Izabelli Soares, prima da vítima, ao UOL.
"Ela não deu detalhes sobre o primeiro desentendimento nem explicou como foram os xingamentos. Só disse que o homem começou a falar coisas com ela do nada."
Izabelli conta que, no bar, o homem pediu cigarro e bebida, mas Crismilly se recusou a dar. "Foi o bastante para ele ir para cima dela. Acreditamos que ele só queria confusão por ela ser trans."
Nessa ocasião, a cabeleireira ficou internada por alguns dias por causa das lesões pelo corpo e de um braço quebrado.
No último domingo, de acordo com a familiar, Crismilly passou a tarde na companhia de outros familiares. Ela morava em uma casa atrás da residência onde viviam mãe, avó, tios e primos. Solteira, Crismilly Pérola trabalhava como cabeleireira havia mais de dez anos. Atendia clientes nas casas deles.
Por volta das 21h, ela saiu sozinha para ir a uma festa no bairro. A partir daí, a família não teve mais notícias da cabeleireira e foi surpreendida com a informação da morte logo pela manhã da segunda.
"Um tio da gente ficou sabendo e nos ligou umas 7h30", disse Izabelli. Segundo a familiar, a prima era muito querida na comunidade, mas já tinha relatado situações nas quais foi hostilizada por ser uma mulher trans.
"Não temos ideia de quem pode ter feito isso com ela. A única coisa que a polícia disse é que investigarão o homem com quem teve a confusão do mês passado."
Crismilly foi encontrada por populares às margens do rio já sem vida, vestida com short jeans e blusa (roupa com que havia saído no dia anterior) e um ferimento no pescoço. Ela foi achada às margens no rio Capibaribe, perto do local onde ocorreu a festa, no bairro da Várzea
Os familiares contaram que, segundo peritos criminais que estiveram no local, não havia indícios de violência sexual.
Questionada pela reportagem, a Polícia Civil informou que instaurou inquérito policial para apurar a morte de Crismilly e que ainda desconhece a autoria e motivação do crime. A investigação está sob o comando do DHPP (Departamento de Homicídio e de Proteção à Pessoa).
O UOL tentou contato com a mãe da vítima para ter mais detalhes, mas ela não atendeu as ligações.
Outros casos
Em menos de um mês, Pernambuco registrou três casos de violência contra mulheres trans. Além da cabeleireira Crismilly Pérola, outros dois casos em Recife.
No dia 18 de junho, Kalyndra Selva foi encontrada morta com sinais de asfixia. O companheiro dela é o principal suspeito pelo crime.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil informou que o autor foi preso em flagrante no dia 19 de junho e que investigações seguem em sigilo até a conclusão do inquérito policial.
Poucos dias depois, em 24 de junho, Roberta Silva foi atacada no centro da cidade. Um adolescente de 16 anos ateou fogo na mulher trans, que estava em situação de rua. Ela permanece internada no Hospital da Restauração, intubada e em estado grave.
Em decorrência da agressão, ela teve 40% do corpo queimado e teve os dois braços amputados, um totalmente e outro, acima do cotovelo.
Sobre este caso, a polícia informou que o adolescente responsável pela tentativa de homicídio foi apreendido no mesmo dia e está em uma Unidade de Atendimento Inicial da Secretaria de Criança e Juventude.
Números em Pernambuco
Segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco, os índices de violência contra a população LGBTQIA+ em Pernambuco caíram em 2021.
A pasta aponta que, no período de janeiro até maio, 13 pessoas da população LGBTQIA+ foram vítimas de Crime Violento Letal Intencional (CVLI) no estado.
No ano passado, no mesmo período, o total de CVLIs contra essa população no estado foi de 47. De um ano para o outro, a redução de 72,34%.
As estatísticas, ressalta a SDS, levam em conta a orientação sexual ou gênero declarado pelas vítimas.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.