Topo

Esse conteúdo é antigo

Criança é assaltada com a mãe no Rio e faz desenho da cena: 'Mata ela'

Garoto desenhou a situação pela qual passou com a mãe - Arquivo Pessoal
Garoto desenhou a situação pela qual passou com a mãe Imagem: Arquivo Pessoal

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

18/08/2021 12h38Atualizada em 19/08/2021 08h27

Uma mãe foi assaltada junto ao seu filho no Engenho de Dentro, zona norte do Rio, quando eles estavam a caminho da escola da criança, na sexta-feira (13). A professora Tatiana Carvalho, de 40 anos, contou que o episódio foi traumatizante e que os criminosos estavam armados. Ela se surpreedeu quando o menino ilustrou o assalto e a frase que os homens falavam se referindo a sua mãe: "Mata ela".

Tatiana conta que, assim que chegaram em casa, a avó tentou acalmar o neto de 7 anos e deu a ele um papel com giz de cera para que fizesse desenhos. O garoto fez dois: um da cena do assalto e outro caso a mãe tivesse sido baleada e morta.

Um deles mostra os bandidos na moto com a arma apontada para Tatiana e um deles falando: "Mata ela". A mãe do garoto foi desenhada com os braços para o alto, com figuras religiosas os protegendo.

Em um outro papel, caso a mãe tivesse morrido, o menino ilustrou como ela seria recebida no céu. Em amarelo, ele desenhou anjos, Deus, São Pedro, Maria, José, animais que ele conviveu e partiram e parentes que já morreram.

O menino que fazia terapia antes da pandemia vai retornar aos atendimentos, para lidar com ocorrido: "A forma dele de externar os sentimos foi através do desenho. Ele praticamente não fala no assunto, fica muito agarrado, dizendo que me ama e que não vive sem mim", afirmou a mãe, ao UOL.

menino - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

O assalto

Por volta das 13h da sexta-feira, Tatiana estava levando o filho para a escola, que fica a dois quarteirões de sua casa. Eles conversavam sobre o dia a dia, até que uma moto com dois homens de capacete parou ao lado deles. Sem entender o que os criminosos falavam, a professora chegou a dar dois passos para a frente, até que eles começaram a gritar que era um assalto.

Em entrevista ao UOL, a professora conta que na hora ficou em choque, desesperada e que o filho agarrou em sua perna: "Como eu demorei a entender o que estava acontecendo, demorei a entregar a bolsa em meio aquele momento de nervoso. Quando eu entreguei, o carona disse: 'Mata ela, mata ela, mata ela'. Foram os piores segundos da minha vida. Ele sacou a arma, joguei a bolsa e só queria sair dali correndo com meu filho para me abrigar, me esconder, mesmo sabendo que eu poderia levar um tiro nas costas e morrer do mesmo jeito".

Na hora em que os dois correram e atravessaram a sua, um carro vinha na mesma direção. Tatiana jogou o filho para a calçada, mas chegou a ganhar uma trombada do veículo. A professora caiu, se machucou, mas conseguiu rapidamente ser atendida na UPA (Unidade de pronto atendimento).

Há duas semanas os dois já tinham presenciando um assalto na região. O menino ficou assustado, mas eles conseguiram se esconder em uma lanchonete. Na ocasião, a mãe ensinou que, caso isso viesse a acontecer com eles, a recomendação era para não reagir e "ficar quietinho".

O caso foi registrado por um boletim de ocorrência online e está sendo investigado, em Piedade, zona norte da cidade: "Estamos alinhando com a vítima para comparecer pessoalmente em sede policial para prestar depoimento e ser fornecido fotografias dos suspeitos. Estamos em campo requisitando imagens de CFTV que auxiliem no deslinde do caso", disse uma fonte policial, que não se identificou.

Tatiana teve parte dos pertences devolvidos por um homem que passava no local e recolheu as coisas. Ela acredita que pelo fato de ter corrido, os bandidos ficaram assustados com a reação, arrancaram a moto e acabaram deixando a bolsa para trás.

"A todo momento eu achava que iria morrer na frente do meu filho, por isso esse ímpeto de sair correndo", desabafou a professora.

Após o assalto, a família passou o final de semana fora de casa, mas a mãe admite que continua abalada.

"Estamos com bastante medo. Passamos o final de semana fora, eu, meu filho e meu marido, retornamos na segunda-feira, mas ele não queria ir a escola. Ontem ele retornou e foi super bem recebido pelos amigos, a escola o deixou mais seguro. O lugar que aconteceu era um caminho de rotina mas agora não vai ser mais. Fico com receio porque vou voltar a trabalhar presencialmente e meu filho fica com a avó. Os bandidos se aproveitaram porque viram uma mulher sozinha, com uma criança, mas minha mãe já é mais idosa. Estou mais apreensiva ainda. Toda hora tenho a imagem deles na minha cabeça, escuto os gritos? são dias de terror", concluiu a professora.