Captação de água em Salto (SP) zera e moradores enfrentam torneiras secas
Quem tentou abrir a torneira para lavar a louça ou até cozinhar em Salto, cidade a 80km de São Paulo, não conseguiu fazer nada disso. Toda a cidade está hoje sem abastecimento de água porque a captação está praticamente zerada.
Quando o auxiliar de produção Ricardo Porto, 32, que mora no bairro Jardim Primavera, foi se arrumar para trabalhar hoje, notou que algo estava errado.
"Fui escovar os dentes e, quando abri a torneira, não saiu nada. Como sabia que aquela é de água que vem da rua, abri o chuveiro, que tem água da caixa, e tinha. Aí percebi que seria um dia difícil", afirma.
Não só para ele. Toda a cidade, que tem aproximadamente 120 mil habitantes, está sem água "pelos próximos dias". A decisão foi tomada pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), depois da avaliação de um índice preocupante.
Aproximadamente 80% da cidade é abastecida pelo Ribeirão Piraí. Hoje, a água não chegou nem ao número 0 da régua de medição, e as bombas não conseguiam chegar no pouco que sobrou.
"A equipe técnica que monitora o Plano de Racionamento, decidiu fechar a cidade toda, como medida emergencial, para evitar o colapso do sistema e conseguir recuperar o nível dos reservatórios para os próximos dias", informa o órgão.
Há 100 dias não chove no município, que já tinha adotado o racionamento há cerca de um mês.
A partir de amanhã, inclusive, um esquema ainda mais rígido começa a funcionar. A cidade foi dividida em quatro grupos, considerando bairros mais populosos e os que ficam em áreas mais altas da cidade, e a divisão por ETA (Estações de Tratamento de Água).
Um grupo de cada ETA ficará sem água das 8h às 20h. O outro grupo, das 20h às 20h do dia seguinte.
"Falta chuva, o tempo está seco. Tem muita gente que desperdiça. Está complicado", finaliza o auxiliar de produção.
Falta de água na cidade vizinha
Em Itu (SP), que fica ao lado de Salto, a falta d'água lembra a situação de 2014, quando houve até quebra-quebra e confusão durante protestos por causa do racionamento, que durou mais de 10 meses.
"Vou ser sincera: tenho medo de ter que comprar um caminhão-pipa com os vizinhos de novo", lamenta a empresária Daiane Alcântara, que vive no bairro de Jardim Novo Itu.
Há sete anos, um grupo da rua se juntou para a comprar água de um caminhão-pipa para garantir o abastecimento nas casas. Na época, fez com que até as empresas do ramo tivessem que se adaptar à nova rotina.
O novo rodízio de água começou em 1º de agosto, e foi aumentado na última quinta-feira. Agora, o abastecimento é feito um dia sim, dois dias não. Segundo a CIS (Companhia Ituana de Saneamento), quatro das nove bacias de captação de água estão com 5% da capacidade.
Racionamento é "quase certo" em Valinhos
Valinhos, na Região Metropolitana de Campinas (SP), é a primeira cidade da região a anunciar abertamente a possibilidade de racionamento, que será decidida nesta segunda-feira.
Hoje falta água desde o começo da manhã nos bairros mais altos do município, que tem mais de 130 mil habitantes. Caminhões-pipa estão sendo utilizados para abastecer as caixas d'águas existentes nessas regiões, porém duas das quatro barragens municipais estão com menos de 30% da capacidade — uma delas está com apenas 5%.
"Enfrentamos um cenário de estiagem severa, tal como todo o Sudeste do Brasil. Frente à soma de fatores de clima, falta de chuvas e alto consumo, Valinhos está sim caminhando ao sistema de rodízio de fornecimento de água", disse o presidente do DAEV (Departamento de Água e Esgoto de Valinhos), Ivair Nunes Pereira.
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