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Médica que teve pais e irmã grávida mortos pelo cunhado: 'nada justifica'

Médica que teve pais e irmã grávida mortos pelo cunhado: ?Era uma família boa? Imagem: Instagram/reprodução

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

03/09/2021 21h48

Há quase um mês, o cotidiano da dra. Saliha Melo é de apreensão, dor e uma sucessão de perdas. No dia 13 de agosto, em Nova Friburgo (RJ), recebeu uma ligação do pai, Wellington Braga, 75, dizendo "chama a polícia porque o Ricardo está dando tiro em todo mundo aqui". Era o começo do pesadelo promovido pelo cunhado Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos, 43, suspeito de matar a tiros a esposa grávida, a juíza Nahaty Gomes de Mello, 33, e a sogra Rosemary Gomes de Mello, 67. Nesta semana, após 19 dias internado, Braga também faleceu. Em menos de um mês, a médica perdeu os pais e a irmã e agora faz apelo por justiça.

Desde a noite do crime, Ricardo alegava estar "em surto" e, desde então, estava sendo mantido preso no Hospital Penal Psiquiátrico para Presídio José Frederico Marques, em Benfica. Nesta sexta-feira (3), ele está sendo transferido para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8. A Justiça alegou que não havia elementos nos autos que indicassem distúrbios psiquiátricos e ordenou sua condução para um presídio comum.

Médica perdeu irmã grávida, pai e mãe, assassinados em crime em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução/Instagram

Uma vida alterada em 20 dias

Entre 13 de agosto e 1 de setembro, Saliha Melo teve que lidar com a perda da mãe, da irmã e do pai. Em entrevista ao UOL, ela conta que sua família era "muito boa", sempre ajudou todo mundo, doava e ajudava os necessitados e que não adianta buscar uma possível motivação para o crime: "É uma pessoa extremamente materialista, narcisista. É isso. Pessoas más, realmente más, não precisam de motivação. Não tem nada que justifique. O Ricardo é uma pessoa ruim, um assassino frio que entrou na nossa vida e fez todo mundo de idiota", desabafou.

A médica conta que a irmã era muito discreta, não se queixava do marido, mas que ela vivia um relacionamento tóxico: "Ele não sabia dividir, era uma pessoa extremamente materialista, frio, que não ama ninguém. Ele a afastava de mim. Queria estar junto quando não era para estar, era ciumento demais e possessivo", conta.

Além disso, ela diz que o tabelião "agia nas entrelinhas", promovendo o afastamento da irmã do convívio com a família, com base em supostas chantagens emocionais. "Teve um momento em que ela realmente queria sair do relacionamento por perceber esse comportamento possessivo e materialista, mas aí foi em um encontro de casais de uma igreja e, depois disso, assumiu um papel de submissão total", lembra.

Sobre a noite do crime, os detalhes não saem da cabeça. Ela diz ter recebido uma ligação de Tom, como era conhecido seu pai, sogro de Ricardo. "Ele estava consciente em todo o momento. Me ligou e disse 'chama o Paulinho [marido de Saliha], vem você, chama a polícia, porque Ricardo está dando tiro em todo mundo aqui'. Quando eu ouvi isso, saí correndo. Ele estava consciente, queria falar, mas eu não deixei porque ele tinha tomado um tiro na face e, quanto mais falava, mais ficava chocado e começava a chorar", conta.

A médica diz que o pai tentava contar o que, de fato, aconteceu, mas que não foi possível entender, por isso se concentrava em dizer apenas: "Depois você fala, pai. Eu estou aqui com você, eu te amo". O homem passou 19 dias internado num CTI de um hospital fluminense, mas faleceu na última quarta-feira (1).

Saliha fala ainda do incômodo sentido com o caminho adotado por Ricardo Jucá desde o início e que compõe a estratégia de sua defesa.

"A gente chama de surto porque ele é tabelião, se fosse um cara da favela, a gente diria que era surto de ciúme. Surto aonde? Isso é o que ele alega, mas não é. Isso não é um surto, isso é maldade. Surto é quando a pessoa dá um tiro, depois se mata e não diz que foi surto. Em mais de 10 anos de medicina, nunca vi um surtado dizer que está em surto. Faz parte do surto não saber que está surtando".

Nas redes sociais, a médica evitou expor a família, mas fez um desabafo: "Que a justiça seja feita. Que esse assassino cumpra o que tem que cumprir e onde tem que cumprir. E que essa decisão de que esse tesoureiro do inferno volte para o presídio comum, seja cumprida".

A defesa

Ricardo Jucá, empresário de Friburgo suspeito de matar esposa, sogra e sogro, praticava tiro com laudo psicológico Imagem: Facebook/reprodução

Na noite do crime e na audiência de custódia, Ricardo alegou que teve um surto e já sofria de vários problemas mentais. O advogado de defesa do suspeito, Paulo Marra Moraes, reforça a tese e diz que quando o processo se iniciar, será promovido um "Incidente de Sanidade Mental", feito por um perito judicial. A perícia avaliará se ele era capaz de entender a ilicitude dos atos no momento em que ocorreram os fatos.

O juiz Marcelo Alberto Chaves Villas, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, determinou que ele fosse transferido do Hospital Penal Psiquiátrico Roberto Medeiros, onde está preso atualmente: "Não há elementos nos autos de que o denunciado possua qualquer problema psicológico, acolho o requerimento do Ministério Público, determino a transferência do preso para o presídio comum", decidiu.

A transferência de Ricardo foi determinada desde o dia 20 de agosto, mas segundo a SEAP (Secretaria de Administração Penitenciária), somente hoje ele foi para um presídio comum.

"A Seap informa que Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos foi encaminhado, nesta sexta-feira (3), para o Presídio José Frederico Marques, em Benfica, de onde será transferido, ainda hoje, para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira. Esclarecemos, ainda, que a Corregedoria do órgão está apurando qualquer possível irregularidade que tenha ocorrido no caso citado", declarou em nota oficial.

Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos, de 43 anos, ao lado da esposa Natahy, grávida Imagem: Arquivo pessoal

Noite do crime

O crime que devastou a família aconteceu na noite de sexta-feira, 13 de agosto, em Cônego, Nova Friburgo. A sogra de Ricardo Jucá, Rosemary Gomes de Mello, de 67 anos, foi encontrada morta no primeiro andar da residência da família; a esposa grávida, Nahaty Gomes de Mello, de 33 anos, no segundo andar, na cama, sem vida e com uma pistola ao lado.

Os policiais militares receberam um chamado e, chegando ao local, encontraram Wellington Braga, de 75 anos, sogro do suspeito, baleado na boca. Ele disse aos agentes que seu genro estaria "completamento transtornado" dentro de casa.

O suspeito trabalhava como tabelião no mesmo cartório que Nahaty, juíza de paz, e era empresário do setor de criptomoedas.

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