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Jacarés são encontrados mortos e sem cauda em rios no Pantanal de MT

Caio Santana

Do UOL, em São Paulo

06/10/2021 23h50Atualizada em 07/10/2021 13h40

Uma consultora de turismo denuncia o abate massivo de jacarés, encontrados sem suas caudas, na região da Baía Siá Mariana, no município de Barão de Melgaço (MT). Camila Sacal, de 35 anos, formalizou uma denúncia junto à polícia, em Cuiabá, na última segunda-feira (4).

Nesses últimos dias fui duas vezes para o Pantanal. Passei pelo canal do Leme, entre o Rio Cuiabá e a Baía Siá Mariana, onde geralmente achamos mais de dois mil jacarés. Nesse ano, não vi nenhum, devido às queimadas e à questão hídrica. Entrei no canal e vi algo boiando, chegamos perto e era um jacaré morto sem rabo
Camila Sacal, consultora de turismo

Sem acreditar, ela disse que resolveu gravar o que viu no dia seguinte, 1º de outubro. Um pirangueiro (piloto de barco) conhecedor da região a explicou que os animais caçados daquela forma eram alvo de caçadores em busca apenas do filé do réptil. A prática costuma descartar a parte do bicho que não tem grande valor comercial. Em viagem de Barão de Melgaço à Ilha do Piraim, ela ouviu mais relatos de pessoas que presenciaram a matança de jacarés (encontrados sem cauda).

Fiz as imagens, pedi para o pirangueiro mostrar o jacaré sem rabo. Só do que a gente contou, tinham 32. Mas o canal é muito grande, então foi muito mais

foto 1 - Reprodução/ Camila Sacal - Reprodução/ Camila Sacal
Cauda de jacarés é retirada para fazer filé com carne do animal; caça de animais silvestres é crime ambiental
Imagem: Reprodução/ Camila Sacal

"Normalmente essas pessoas caçam o animal e cortam só o rabo porque é a área com mais carne", explicou Yhuri Cardoso Nóbrega, doutor em Ecologia de Ecossistemas, em entrevista ao UOL.

Ele, que é coordenador do Projeto Caiman, instituição referência no Brasil em conservação de jacarés, com foco na espécie "papo-amarelo", explica que a caça é uma das principais ameaças à conservação. "É um problema de saúde pública e ecológico. Pessoas que comem carne de caça estão sujeitas a se contaminar com uma série de patógenos [organismos que provocam doenças] que, em casos graves, pode levar até à morte".

Por meio de nota, a Sema-MT (Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato Grosso) disse que uma equipe realizou fiscalização no Corixo do Leme, que dá acesso à Baía Siá Mariana, em 29 de setembro. A secretaria informou que não tem como confirmar a veracidade de vídeos que mostram os animais mortos e sem cauda no leito d'água.

Proprietários de pousadas e moradores da região já haviam informado sobre os animais abatidos dias antes da vistoria, mas não foi possível reconhecer os autores do crime ambiental. Os fiscais também não encontraram carcaças no trecho que passaram. Ao UOL, a assessoria da Sema disse que equipes retornarão ao local ainda nesta semana para novo monitoramento.

A caça de animais silvestres é proibida por lei e tem como punição multa e apreensão de equipamentos e veículos. "Os moradores foram orientados pela equipe da Sema para que comuniquem imediatamente à Pasta caso verifiquem alguma atitude suspeita ou prática de crimes ambientais, possibilitando que os infratores possam ser autuados", concluiu a secretaria.

foto 2 - Reprodução/ Camila Sacal - Reprodução/ Camila Sacal
Carcaças de jacarés já estavam em estado de decomposição
Imagem: Reprodução/ Camila Sacal

Problemas diversos

Ao navegar pelos rios da região, a altura do leito d'água assusta. Somente em Cáceres, também no Mato Grosso e distante cerca de 320 km de Barão de Melgaço, o Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste da Marinha do Brasil indica que o nível da água está em apenas 28 centímetros desde segunda-feira (4).

"Ver a Baía de Chacororé, que tem de seis a sete metros de água, agora com 30, 40 centímetros e colocar o remo e sentir o leito, é apavorante. Não ter mais bichos quase nenhum e quando ver, eles estarem mortos, você não consegue falar. Se pergunta 'O que está acontecendo? Onde vamos parar com isso?'", desabafa Camila.