Evaldo: Sem provas, defesa diz que militares reagiram a ataque do tráfico
A defesa dos 12 militares acusados de matar o músico Evaldo dos Santos Rosa e o catador de latinhas Luciano Macedo em abril de 2019, afirmou hoje, sem apresentar provas, que os réus reagiram a disparos de fuzil efetuados por traficantes. O advogado Paulo Henrique Pinto de Mello também disse que não há provas de "excesso" dos réus e que eles agiram "dentro dos limites das legalidades".
No dia 7 de abril de 2019, Evaldo seguia de carro junto com a família para um chá de bebê quando foram alvejados em Guadalupe, na zona norte do Rio de Janeiro, por centenas de disparos efetuados pelos militares. O músico foi atingido por nove tiros, e seu carro, por 62 —ao todo foram 257 disparos de fuzil e pistola.
"Condenar esses militares é chancelar a condenação da própria Força [Exército]. Com muito respeito às perdas, esses militares agiram dentro dos limites das legalidades. Para eu acusar alguém de matar alguém, preciso ter o dolo, o ângulo, em lugar nenhum está provado isso", argumentou Pinto de Mello durante o julgamento que acontece hoje na Justiça Militar no Rio.
A defesa levou ao Tribunal documentos com áudios sobre o chefe do tráfico na região, que descreve ataques contra militares na região do Moquiço, em Guadalupe.
"Não se tem nenhuma prova mínima que seja de excesso desses militares. As provas da autoria estão todas nesses áudios. Aqui está se tentando execrar homens de bem. Apesar das vítimas, nós precisamos que esse processo seja analisado com justiça."
Reação a tiros de fuzil, diz defesa
A defesa também mostrou um vídeo do capitão que estava com a tropa na manhã do dia das mortes de Evaldo Rosa e Macedo. Ele relatou que viram homens fortemente armados e foram atacados pelo chefe do tráfico na comunidade.
"O evento da manhã está totalmente ligado ao evento da tarde. Naquele momento do segundo fato, militares esses que estão aqui sofreram também tiros de fuzil em sua direção", disse ele, apesar de não haver provas de que isso tenha acontecido.
"E aí eu fico impressionado por vezes, quando falam: 'a viatura militar não tinha uma marca de bala? Não teve lugar nenhum que se visse uma marca de bala na direção dos militares'. Só quem já esteve em um confronto violento sabe como é. O traficante não se preocupa com a vida alheia, com contagem de balas. Eles atiram a esmo", afirmou o defensor.
Relembre o caso
Na tarde daquele domingo, Evaldo seguia de carro junto com a família para um chá de bebê quando foram alvejados por centenas de disparos efetuados por militares.
Os acusados são Fabio Henrique Souza Braz da Silva, Gabriel Christian Honorato, Gabriel da Silva de Barros Lins, Ítalo da Silva Nunes Romualdo, João Lucas da Costa Gonçalo, Leonardo Delfino Costa, Leonardo de Oliveira de Souza, Marlon Conceição da Silva, Matheus Santanna Claudino, Paulo Henrique Araújo Leite, Vitor Borges de Oliveira e Wilian Patrick Pinto Nascimento.
O Ministério Público Militar pediu hoje a condenação de oito dos 12 militares réus no processo. No julgamento, que acontece na Justiça Militar no Rio, a promotora Najla Nassif Palma afirmou que ficou comprovado que quatro dos 12 réus não atiraram: o cabo Paulo Henrique Araújo Leite e os soldados Vitor Borges de Oliveira, Wilian Patrick Pinto Nascimento e Leonardo Delfino Costa.
Dentro do carro do músico, também estavam o sogro dele, Sérgio Gonçalves de Araújo, 59 —que ficou ferido—, a esposa, Luciana Nogueira, o filho do casal —então com 7 anos— e uma amiga da família.
O catador Luciano Macedo viu a cena e tentou ajudar a família, mas também acabou sendo baleado. Ele foi socorrido, mas morreu 11 dias após o crime.
Os militares chegaram a ser presos em 2019, mas foram soltos após a decisão do STM (Superior Tribunal Militar) que concedeu a eles o direito de aguardar o julgamento em liberdade. Eles foram afastados das funções nas ruas.
Na época, eles disseram que confundiram o carro da família com o de criminosos que, pouco tempo antes, teriam roubado um veículo da mesma cor.
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