Área de favelas urbanas mais que dobrou no país desde 1985, aponta estudo
O Brasil mais que dobrou a área ocupada por favelas em centros urbanizados nos últimos 35 anos. O dado consta em um levantamento feito a partir de imagens de satélites captadas pelo projeto MapBiomas (iniciativa multi-institucional que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia) e foi divulgado hoje.
Segundo o estudo, em 1985 o país tinha 897 km² de favelas nas áreas urbanizadas. Já em 2020, esse número saltou para 1.843 km² (o que equivale a 8,5 vezes o território do Recife, por exemplo). A alta nesse período foi de 105%, maior que o de urbanização geral —que ficou em 95% (veja mais abaixo).
O estudo aponta ainda que a Amazônia lidera o percentual de crescimento de ocupações de favelas no seu território. Segundo o MapBiomas, 18,2% do crescimento urbano nessa região foi em áreas informais.
A análise temporal das áreas ocupadas informalmente em todo o país mostra que elas são mais sensíveis às políticas econômicas e sociais, crescendo mais em períodos de retração do PIB [Produto Interno Bruto]."
Estudo do MapBiomas
No Amazonas, por exemplo, a informalidade responde hoje a 45% da área urbanizada. O estado é seguido pelo Amapá, que tem 22%.
Entre as cidades, duas do Norte também apresentam os piores indicadores: Belém tem 51% de sua área de favelas; e Manaus, 48%.
Os dados do MapBiomas coincidem com outra pesquisa divulgada no ano passado, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que também aponta Belém e Manaus com mais domicílios ocupados em aglomerados subnormais: 55,5% e 53,3%, respectivamente.
Segundo o IBGE, a estimativa de 2019 apontava que havia 5,1 milhões de domicílios ocupados em 13.151 mil aglomerados subnormais no país. Eles estavam em 734 municípios dos 26 estados e Distrito Federal, e desses, 35% estavam a mais de 2 km de um serviço de saúde.
Risco de deslizamentos
Outro dado do MapBiomas que chama a atenção é que, de acordo com imagens de satélite, houve também um crescimento nas ocupações em áreas com declive, ou seja, mais sujeitas a deslizamentos. Elas estão predominantemente localizadas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo.
Segundo o estudo, houve um crescimento na ocupação urbana em áreas com alta declividade, que atingem 1% do total das cidades (algo em torno de 400 km²).
Para Julio Cesar Pedrassoli, um dos coordenadores do levantamento, os dados devem servir para os gestores atuarem nessas regiões sem serviços urbanos adequados.
"Por um lado, temos grandes áreas sem os serviços públicos adequados; por outro, risco de acidentes potencializado pela crescente ocorrência de eventos climáticos extremos. Olhar para as ocupações informais pelo ângulo da adaptação às mudanças do clima é fundamental para evitarmos tragédias", diz.
A combinação desses dois dados deve acender uma luz amarela para os gestores públicos porque ela cria as condições perfeitas para desastres urbanos."
Julio Cesar Pedrassoli, um dos coordenadores do estudo
Dados gerais
O levantamento ainda aponta que, entre 195 e 2020, a área urbanizada do país passou de 21 mil km² para 41 mil km².
"A expansão urbana no Brasil tem se dado a passos largos: uma taxa anual de 1,97%, superior à taxa de crescimento da população, de 1,45%", aponta.
As cidades com maiores áreas urbanizadas são:
- São Paulo - 2.189 km²
- Rio de Janeiro - 1.745 km²
- Brasília - 892 km²
- Belo Horizonte - 871 km²
- Curitiba - 742 km²
"O levantamento mostrou que das áreas urbanizadas em 2020, pouco mais de um terço (34%) eram áreas de pastagens e áreas de uso misto de agricultura e pastagem e 13% eram de vegetação nativa em 1985. As áreas utilizadas para a expansão urbana refletem o uso do solo predominante em cada região", explica o MapBiomas.
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