Kiss: Vítima espera horas para depor, passa mal, mas pede para ser ouvida
O choro marcou diversos momentos da fala do sobrevivente Lucas Cauduro Peranzoni, que decidiu depor na noite desta quinta-feira (2), mesmo após ter passado mal durante a espera por seu depoimento no julgamento dos quatro réus acusados pelo incêndio na boate Kiss.
O Tribunal do Júri decidiu manter o testemunho de Peranzoni, quarto a ser ouvido hoje, após o advogado Jader Marques, que defende o sócio da Kiss Elissandro Spohr, conhecido como Kiko, pedir que a sessão de hoje fosse suspensa e retomada amanhã.
O juiz Orlando Faccini Neto argumentou que o adiamento poderia estar "procrastinando" o sofrimento do sobrevivente.
A próxima testemunha estava há alguns minutos atrás em atendimento psicológico porque tem se revelado de certa forma dramático um fenômeno da revivescência das coisas. E eu perquiri para minha assessoria no sentido de indagar no sentido de ver se ele tinha condições de depor ainda hoje e a informação que me foi transmitida é que ele queria depor."
Orlando Faccini Neto, juiz
Faccini Neto argumentou que "aguentaria" mais um depoimento. "Eu imagino que seja curto [o depoimento]. Se todos estão cansados, encurtarão aquilo que poderia ser mais longo se fosse amanhã", disse o juiz, propondo um intervalo de 40 minutos.
Porém, o advogado Jader Marques disse que não haveria tempo hábil para ir até o ponto de alimentação organizado pela banca que defende Spohr. "O deslocamento de ida e volta praticamente come o tempo dos 40, 45 minutos que se tem dado. Sei que o senhor tem pressa, que o processo urge, mas é difícil imaginar fazer o mesmo que os senhores, que vão aqui e voltam. E eu não estou sozinho", disse o advogado.
Em seguida, o magistrado se exaltou. "Eu vou lhe dizer: a minha janta está num tupperware [pote de plástico] gelado e eu vou comer ali na sala. Faça sua comida e traga de casa, doutor Jader, ou vai comer e depois a pessoa volta", disse, ouvindo-se aplausos dos presentes.
Marques rebateu, mas o magistrado não mudou de opinião, apenas ofereceu a própria janta para o advogado.
"Com um pouquinho de compreensão, o senhor, prestando atenção no que a gente está dizendo, o senhor dá dez minutos e resolve sem fazer isso. O senhor está provocando a plateia contra a defesa", disse o advogado de Kiko.
"Sensação é que tinha tocado gasolina", relata
Peranzoni trabalhava como DJ na noite da tragédia da Kiss. No momento do incêndio, estava na mesa de som - onde costumava ficar - e presenciou o início das chamas.
"Ele (o vocalista da banda Gurizada Fandangueira Marcelo de Jesus dos Santos, um dos réus) colocou a luva. Era muito pequeno, quando ele ergueu logo acima e eu percebi o que estava acontecendo quando não conseguiram apagar. (Tentaram) tocar alguma coisa e tentaram extintor e não conseguiram apagar. Foi quando eu vi, foi onde meu colega veio para pedir um extintor que teria no local onde eu fico, mas não deu tempo disso", contou.
O sobrevivente visualizou uma "nuvem preta muito densa" e decidiu sair do local, junto com o colega. "A sensação é que parece que tinha tocado gasolina. Pelo que eu lembrava não havia nada muito diferente ali para ter feito isso, não consigo explicar. Essa nuvem foi muito rápida. E como eu estava do outro lado, foi menos de 10 segundos para ela passar tudo, e era muito escuro."
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