Mulher é condenada a 20 anos de prisão por assassinato de namorado italiano
Cléa Fernanda Máximo da Silva, 41, que confessou ter assassinado em 2018 o então namorado, o advogado italiano Carlo Cicchelli, 48, foi condenada a 20 anos, dois meses e 15 dias de prisão em regime fechado em um júri popular, nesta quinta-feira (15), na 7ª Vara Criminal da Capital, no Fórum do Barro Duro, em Maceió (AL).
A sentença foi lida no fim da noite pelo juiz Felipe Ferreira Munguba, que presidiu o júri composto exclusivamente por mulheres. A condenação pelas juradas se deu pelos crimes de homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa da vítima) e ocultação de cadáver.
Silva foi acusada de matar a facadas o namorado e esconder o corpo dele por cerca de 40 dias em um cômodo da casa onde moravam, no bairro de Ponta Grossa, na periferia de Maceió.
Detalhes da sentença
"As circunstâncias que acompanharam as condutas criminosas são graves; em relação ao crime de homicídio, anote-se que o delito foi praticado enquanto a vítima estava dentro de casa - o que dificulta a possibilidade de socorro - e amarrada na própria cama; igualmente, no que toca ao crime de ocultação de cadáver, o delito foi praticado no interior da residência da própria vítima, cujo corpo ficou trancafiado em um cômodo de seu próprio lar", destacou o magistrado na decisão.
Após ouvir a sentença condenatória, ela foi conduzida para uma unidade feminina do sistema prisional, onde está presa desde 2018. O magistrado negou o pedido da defesa de recorrer da sentença em liberdade e arbitrou que a condenada cumpra a pena, inicialmente, em regime fechado.
Além da pena de prisão, a mulher foi condenada a pagar 118 dias de multa, cada dia correspondendo a 1/30 do salário mínimo, e o pagamento das custas processuais. Por ser ré primária, tem direito a obter progressão de pena.
Na sentença, o juiz destacou também que o italiano ajudava financeiramente a namorada, ainda mesmo na Itália, quando a auxiliou a retomar a guarda do filho que ela tem com outro italiano.
"Apesar disso, foi assassinado, o que revela a intensidade de seu intenso dolo". relatou Munguba. O magistrado levou em conta ainda os 40 dias em que o corpo da vítima permaneceu escondido dentro de casa. No período, a ré se passou por ele e entrou em contato com a família italiana para pedir dinheiro. O texto destaca também que o corpo, ao ser encontrado, "já estava em fase de esqueletização e foram necessários exames periciais para confirmação da identidade do cadáver, o que aumenta a reprovabilidade de sua conduta."
Acusação alegou frieza e interesse financeiro
O julgamento durou cerca de 12 horas. Começou com depoimento do irmão da vítima, o italiano Antônio Emílio Cicchelli, por videoconferência. A acusação ainda arrolou outras duas testemunhas. A defesa, três.
O promotor de Justiça, Dênis Guimarães, sustentou a tese de que a ré cometeu os crimes de forma "fria e calculada por interesses financeiros''. Guimarães afirmou que a preocupação da acusação era a formação de um Conselho de Sentença totalmente feminino, pois as juradas "poderiam se sensibilizar sem julgar a crueldade cometida por uma mulher."
"Esperávamos desde o início a condenação, apesar de o Conselho ser feminino acreditamos até o fim que entenderia que o Ministério Público não estava ali acusando uma mulher, mas uma assassina que, friamente planejou um crime, atraiu a vítima, depois escondeu o cadáver e conseguia ter, para todos, uma vida normal convivendo com um corpo em estado avançado de decomposição em casa", explicou o promotor de Justiça.
Guimarães destacou ainda que a ré tentou extorquir os familiares do italiano. "Prova mais do que nítida de que era ambiciosa e tinha a pretensão de lucrar com o relacionamento. Cumprimos o nosso dever de promover justiça, o entendimento do júri foi 100% em consonância com o MP, e ela foi feita", completou.
Defesa apontou que a ré sofria agressões
A defesa da ré, feita pela advogada Julia Nunes, presidente da AME, instituição que defende mulheres vítimas de violência em Alagoas, justificou que a mulher teria sido vítima de uma série de violência e não teria outra alternativa, senão matar o namorado para se defender.
A defesa pediu a absolvição da ré, mas o júri não ficou convencido dos argumentos sustentados pela defesa. A advogada não se posicionou se vai recorrer da decisão.
O crime
A alagoana e o italiano começaram a se relacionar em 2014, quando Silva passou a ser vizinha da casa de Cicchelliem Turim, na Itália. Ela morou por 14 anos no pais e tem um filho com outro italiano.
Cicchelli largou a carreira e decidiu viver com a namorada em outra cidade italiana, onde montou um restaurante. Depois, vendeu uma casa e veio morar com ela no Brasil em junho de 2018.
O crime aconteceu três meses após a mudança. Cicchelli foi brutalmente assassinado em 27 setembro de 2018, dentro de casa. O crime só foi descoberto no dia 5 de novembro. Silva procurou a polícia, após saber que a família do italiano tinha informado ao Consulado Italiano no Recife, no dia 30 de outubro de 2018, que ele estava desaparecido.
O caso passou a ser investigado pela DEIC (Divisão Especial de Investigações e Capturas), da Polícia Civil de Alagoas. À família do namorado, Silva alegava que ele estava viajando e que tinha deixado o telefone com ela.
Segundo os autos, a mulher confessou o assassinato e disse que tinha sido vítima de violência praticada pelo namorado. Depois, em outra versão apresentada à polícia, ela disse que teria cometido o assassinato em um ritual de magia feito por ele.
Durante o período em que manteve o cadáver escondido, segundo os autos do processo, a mulher se passou pelo namorado e entrou em contato com familiares pedindo 5 mil euros. Em nome do namorado, alegou que contraiu uma dívida ao se envolver com a filha de um traficante. Os parentes enviaram o valor, mas acharam estranho o pedido, porque o advogado tinha vindo ao Brasil com o dinheiro da venda da casa.
O corpo do advogado foi encontrado com as mãos amarradas, embalado em sacos plásticos em cima de um sofá em um dos cômodos do imóvel. A mulher contou que utilizou carvão e outros produtos para disfarçar o mau cheiro exalado pelo cadáver durante quase 40 dias.
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