Topo

Esse conteúdo é antigo

Superlotação em hospital de Recife deixa pacientes sobre papelão e sob pia

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, em Salvador

09/01/2022 13h42Atualizada em 09/01/2022 15h06

Doentes que buscam atendimento médico no HR (Hospital da Restauração), localizado na área central do Recife (PE), estão espalhados pelos corredores da unidade, considerada a maior emergência da rede estadual. Devido à falta de leitos, há pessoas em camas improvisadas, colchonetes e até mesmo sobre papelões, conforme vídeo divulgado pelo Satenpe (Sindicato Profissional dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem de Pernambuco).

Em meio ao cenário de superlotação, as imagens também mostram um homem e uma mulher deitados embaixo de uma pia próximo ao refeitório utilizado pelos funcionários. Por causa do calor, alguns acompanhantes precisam abanar quem está à espera de atendimento. Procurada pelo UOL, a SES (Secretaria Estadual de Saúde) afirmou reconhecer a "grande demanda no HR, "que acolhe todos os usuários, e não nega atendimento" (leia nota completa abaixo).

O presidente do Satenpe, Francis Hebert, informou à reportagem que a "cena caótica" foi registrada na noite de quinta-feira (6), e afirma que não se trata de algo incomum naquela unidade. "Não tem outra maneira de a gente mostrar que a coisa está um caos a não ser através de imagens", afirma o dirigente, para quem o número de pessoas em tal situação é "incalculável".

"Ali foi só um pedacinho do que pegamos. É um corredor que não tem nada a ver com a área de atendimento. É um lugar em que as pessoas transitam para irem ao refeitório, bater o ponto, ou seja, uma área de deslocamento. E o que fizeram? Jogaram as pessoas para tudo quanto é lado", descreveu Hebert, que vê alto risco de contaminação no local diante da acomodação inadequada.

O dirigente afirma já ter formalizado uma denúncia sobre o caso tanto no Ministério Público do Estado como no Conselho Estadual de Saúde.

Em um segundo vídeo, o sindicato chama atenção para diversos leitos vazios em um outro hospital da capital pernambucana, sob o argumento de que as vagas podem ser redistribuídas. A SES diz, por sua vez, que não procede a informação de leitos vazios. "Nesse serviço está ocorrendo uma readequação de leitos para suprir a demanda de casos de síndrome respiratória aguda grave (Srag)", justificou a pasta.

Surto de 'flurona'

A maioria dos doentes à espera de atendimento no HR, de acordo com Francis Hebert, apresenta sintomas relacionados à infecção dupla pela variante ômicron da covid-19 e pelo vírus influenza A (H3N2) fenômeno que está sendo chamado de "flurona", uma junção do nome das duas doenças.

Além da estrutura precária de trabalho e da desvalorização profissional, ele diz que o atual surto afeta diretamente os profissionais de enfermagem, uma vez que 30% precisaram ser afastados de suas atividades após apresentarem sintomas do quadro viral. "Na verdade, como não há testes a contento, não há diagnóstico. No atestado, descreve-se gripe e essas arboviroses", afirma Hebert.

Segundo dados mais recentes, Pernambuco confirmou até agora 21 casos da nova cepa, entre 15 e 31 de dezembro. Os infetados são residentes do Grande Recife, do Sertão do São Francisco, do Agreste e da ilha de Fernando de Noronha. As pessoas contaminadas têm idades entre 1 e 67 anos. Não há registro de mortes.

Serviço opera com capacidade plena, diz secretaria

Em nota enviada ao UOL, a Secretaria Estadual de Saúde diz que o serviço está operando em sua plena capacidade, abastecido de insumos, com quadro regular de profissionais, assim como opera com todos os leitos ativos e infraestrutura em funcionamento.

"Vale ressaltar também que o alto fluxo de pacientes no HR, principal referência em neurologia, neurocirurgia e em atendimento a pacientes politraumatizados do Estado, tem sido agravado pela inexistência ou fechamento de alguns serviços municipais", afirma no comunicado.

De acordo com a pasta, a rede sob sua gestão, inclusive o HR, conta com leitos de retaguarda para o encaminhamento de pacientes para dar continuidade ao tratamento iniciado nas unidades de alta complexidade, em diversas regiões do Estado, por meio de serviços contratualizados.

"Por fim, a SES ressalta que está aberto o credenciamento de serviços de saúde para ampliação da oferta desses leitos, com incentivo de recursos do Tesouro Estadual", acrescenta.