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Família se sente insegura no Brasil, diz irmão de congolês morto no RJ

Colaboração para o UOL, em São Paulo

01/02/2022 20h15

Maurice Mugeny, o irmão de Moïse Mugenyi Kabagambe, relatou, em entrevista ao UOL News, que a família que vive no Rio de Janeiro (RJ) está insegura e com medo de sair de casa após a morte do jovem congolês de 24 anos.

Familiares relatam que Moïse foi espancado até a morte com pedaços de madeira na noite de 24 de janeiro, além de ter sido amarrado pelos agressores no quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. O motivo do crime seria a cobrança pela vítima de R$ 200 por duas diárias de trabalho no local.

Maurice, que vive na França, contou que foi mais difícil ainda receber a notícia da morte do irmão estando fora do Brasil. "E, agora pouco, acabou de sair o vídeo. Você ver o seu irmão morrendo assim... ele tentou lutar, fazer alguma coisa, mas não conseguiu. É muito difícil", disse.

O irmão de Moïse explicou que a família se mudou para o Brasil em 2011, após deixar o Congo por causa da situação política do país. Eles pediram e conseguiram asilo no Brasil, e ambos irmãos terminaram o ensino médio aqui.

A gente sai do nosso país para poder procurar uma vida melhor, ajudar a família, se sentir acolhido e acontece uma coisa dessas" Maurice Mugeny, irmão de Moïse Mugenyi Kabagambe

"Vendo o vídeo fico mais triste ainda porque até hoje eu não acreditava que o Moïse não está mais entre nós. E ainda pelo fato dele reclamar do dinheiro que trabalhou, fez dois dias trabalhando, e só pediu isso", completou Maurice.

Segundo ele, o temor da família que vive no Rio é a possibilidade do crime estar relacionado a milícias. Até o momento, a Polícia Civil não divulgou os nomes dos funcionários do quiosque envolvidos no crime.

No entanto, um homem, que não revelou sua identidade, afirma que participou da agressão, mas negou intenção de matar o congolês.

"Agora, até a minha mãe, meus irmãos e primos que estão no Brasil estão se sentindo inseguros. Porque, depois disso, não sabem o que vai acontecer com eles. Estão dizendo que essa parte [onde está localizado o quiosque] é da milícia. Agora ninguém sabe o que vai acontecer. Até sair na rua fica complicado para eles", disse Maurice.

O irmão cobrou justiça para Moïse e, apesar das fortes imagens do vídeo da agressão e morte do jovem, ressaltou a importância de se ter provas sobre o caso.

"Se não tivesse aquele vídeo, todo mundo ia falar é mentira e ninguém ia falar mais desse caso. Hoje tem uma prova. Só queremos justiça. Se não tivesse vídeo, iam falar que era mentira, não mataram ele ou ele que começou porque é preto, imigrante. Mas tem vídeo."

"Isso não vai trazer ele de volta. Vai ter outra pessoa, vai ser outro brasileiro preto, outro imigrante ou outro refugiado. Sei que tudo isso não vai trazer ele de volta. Mesmo assim, queremos justiça. Se essas pessoas ficarem fora [da cadeia], vai ser outro irmão ou filho de alguém", desabafou Maurice.