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RJ: Jovem negro é preso enquanto comprava pão; delegado reconhece 'dúvida'

Policial que prendeu Yago reconheceu dúvida e pediu soltura - Vinícius Corrêa/Acervo familiar
Policial que prendeu Yago reconheceu dúvida e pediu soltura Imagem: Vinícius Corrêa/Acervo familiar

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

07/02/2022 19h28

O jovem Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, foi preso por policiais militares na comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo afirmou à polícia, em versão confirmada por familiares e amigos, ele estava tentando comprar pães para um churrasco com amigos, quando acabou detido, ontem, suspeito de tráfico e associação ao tráfico. Hoje, a Polícia Civil voltou atrás e pediu a soltura do rapaz.

Yago foi levado para a 25ª DP (Engenho Novo) por volta das 19h40. De acordo com a Polícia Militar, uma equipe do Batalhão do Choque "estava em patrulhamento pelas imediações da Travessa Amaro Rangel e vielas da comunidade do Jacarezinho quando se deparou com dois indivíduos — um deles carregando uma bolsa — que tentaram fugir ao avistarem os policiais. Eles foram capturados em posse de material entorpecente".

Com base no exposto pela PM, o delegado de plantão pediu não apenas a prisão do jovem, como a conversão do flagrante em prisão preventiva (recurso empregado quando o suspeito oferece risco à sociedade, à investigação ou de fuga).

Durante o andamento do caso, familiares, amigos e o próprio Yago Corrêa destacaram que o rapaz não conhecia o adolescente que estava com as drogas e todos confirmaram a versão de que o jovem iria comprar o pão para fazer pães de alho para um churrasco.

Além da grande mobilização na unidade prisional e do comportamento do estudante enquanto estava preso, o delegado, em um despacho solicitando a soltura do estudante, destacou que "logo após o término do procedimento surgiram fatos novos relevantes que geraram dúvida razoável em favor da não imputação pela prática de tráfico de drogas e associação ao tráfico".

O irmão mais velho de Yago, Vinicíus Corrêa, publicou nas redes sociais um apelo. "Ele foi preso injustamente pelos policiais que estão atuando na nossa comunidade. Ele está sendo acusado de associação ao tráfico de drogas e quem o conhece sabe que o Yago não é disso".

Em depoimento, um dos agentes do Choque que participou da ocorrência disse que quando os PMs se aproximaram, os dois rapazes correram. A família, no entanto, diz que ele pode ter se assustado ao ver o adolescente correr.

Hoje, a Polícia Civil enviou um pedido à Justiça reconhecendo que há uma "dúvida razoável" sobre a suspeita quanto ao estudante. O delegado destacou ainda que quer "evitar injustiças" e precisa de uma "melhor apuração dos fatos".

"O procedimento inteiro foi encaminhado para Justiça, inclusive com o despacho e as demais testemunhas que foram ouvidas depois. O pedido é justamente para ele ser solto na audiência de custódia", disse o delegado Marcelo Carregosa em entrevista ao UOL.

"Antes que haja qualquer questionamento sobre a percepção/instinto/impressão aqui alegada, em uma central de flagrantes diuturnamente são apresentadas inúmeras ocorrências, flagrantes e confusões de todos os tipos possíveis e, mesmo assim, vários padrões sempre se repetem (desde apresentação da ocorrência até padrões comportamentais dos envolvidos)", diz o despacho.

Yago Corrêa de Souza segue preso no presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio aguardando pela audiência de custódia que deve ser realizada amanhã.

"Quando existe algum fato que foge ao padrão, mesmo que seja algo subjetivo (muita das vezes até extremamente sutil — como a própria forma que o conduzido fala, se comporta e seus familiares) é preciso 'acender um sinal amarelo' de imediato para evitar uma injustiça", destacou o delegado adjunto.