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Vídeo: Tubarão nada 200 m em rio e banhistas se unem para tentar resgatá-lo

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

22/02/2022 16h35Atualizada em 22/02/2022 20h44

Uma fêmea de tubarão galha-preta, com pouco mais de 2 metros de comprimento, encalhou na tarde de ontem (21) no rio Itanhaém, no litoral de São Paulo, a 200 metros da Praia da Saudade. Testemunhas registraram em vídeo o momento em que ela, aparentemente debilitada, contou com a ajuda de banhistas para se soltar do banco de areia. Ninguém se feriu na operação.

O surgimento do tubarão na Boca da Barra, região em que o rio Itanhaém se encontra com o mar, chamou a atenção de muitos banhistas, que observavam a cena, enquanto algumas pessoas tentavam se aproximar para salvar o animal.

Testemunhas afirmaram que o animal estaria tendo filhotes no momento em que foi avistado e que, por essa razão, estaria desorientada e debilitada.

No vídeo é possível acompanhar a movimentação dos banhistas e curiosos que se aglomeraram em torno do tubarão. Um deles tenta empurrá-lo com uma bicicleta, para ajudá-lo a se soltar do banco de areia. Em um dado momento, um homem decide puxar o animal pelo rabo, momento em que o animal teria enfim se soltado e nadado para mais longe.

O tubarão, que estava debilitado e tombado para o lado, foi ajudado por banhistas a se soltar do banco de areia - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
O tubarão, que estava debilitado e tombado para o lado, foi ajudado por banhistas a se soltar do banco de areia
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Segundo o secretário de Planejamento e Meio Ambiente de Itanhaém, César Augusto de Souza Ferreira, surgiram informações de que o tubarão teria mesmo conseguido se desprender do banco de areia e retornado ao mar. Mas a prefeitura ainda trata essa informação como uma hipótese.

"De qualquer maneira, hoje (22) orientamos o pessoal que trabalha com limpeza pública dos mais de 26 km de praia da cidade para que ficasse atento a qualquer sinal do tubarão. Se essa fêmea não sobreviveu, poderia aparecer em algum trecho da praia, mas até agora não tivemos informações de nenhum avistamento".

Ferreira afirmou ao UOL que é a primeira vez que a cidade registra uma aparição como essa, de um tubarão se deslocando do mar em direção ao rio, ainda que outros testemunhos tenham acontecido em ocasiões anteriores. Mas que essa área, por ser marcada pelo encontro da água doce com salgada, guarda surpresas que dificilmente são testemunhadas pelos frequentadores das praias.

"Temos relatos de pescadores que já viram tubarões fazerem isso, mas da maneira como ocorreu, com dezenas de turistas e banhistas observando a cena e interagindo com o animal, foi a primeira vez. Essa é uma área muito interessante, a da Boca da Barra, por conta da influência de duas marés diferentes. A do rio e a do mar. Certa vez, já registramos o caso de um jacaré que surgiu na praia, após a cheia do rio".

O biólogo e professor doutor da Unesp Otto Bismarck Gadig, especialista em tubarões, contou ao UOL que recebeu diversas imagens e relatos de pessoas que estiveram presentes ontem na Praia da Saudade. Ele confirmou que o animal em questão se trata mesmo de uma fêmea da espécie galha-preta, com pouco mais de 2 metros de comprimento, e que aparentava estar muito debilitada.

"Essa espécie é muito comum no litoral do Brasil, incluindo o Sudeste. É o típico animal de regiões costeiras", afirma o especialista, que desde 1996 realiza um estudo sobre tubarões naquela área de Itanhaém, no encontro do rio com o mar. O estudo teve início em 2016 e já registrou o surgimento de mais de 20 mil animais de 30 espécies diferentes na área.

Curioso dizer que o galha-preta é uma das cinco espécies de tubarão que procuraram aquela área no verão, para parir seus filhotes. Porém, não é comum que avancem muito em direção ao rio, pois eles não são adaptados para processar a água doce. No caso dessa fêmea, ela estava a 200 metros do mar, num momento de maré cheia, o que com certeza contribuiu para aumentar os níveis de salinidade do rio naquele trecho.
Otto Bismarck Gadig, especialista em tubarões

Por essa razão, Gadig não acredita que a debilidade do animal se deva ao choque que poderia ser causado pela água doce a um animal exclusivamente marinho. "Infelizmente, sem um estudo mais detalhado do animal, não dá para saber com certeza o que aconteceu. Se ela estava mesmo tendo filhotes, se escapou de uma rede de pesca, se estava ferida ou doente".

Destino incerto

O biólogo afirma também que não dá para se ter certeza se ela sobreviveu ou não. Ele acredita que a hipótese mais viável é a de que tenha morrido. Contatos seus que estavam no local informaram que a fêmea não teria retornado ao mar logo após a ajuda do banhista.

"Soube que, momentos mais tarde, tiveram a ideia de amarrá-la pela cauda a um jet ski e tentado puxá-la em direção ao mar. Mas a corda teria arrebentado e, a partir daí, o animal teria sumido. Segundo informações que recebi, ela teria reaparecido no final da noite de ontem, mas já boiando, morta, no rio".

Apesar de não ter recebido informações sobre a tentativa de salvamento com o jet ski, o secretário de Planejamento de Meio Ambiente de Itanhaém confirmou que testemunhas avistaram o tubarão no rio por volta das 23h. "Mas não sabemos se estava vivo ou morto. Na segunda hipótese, talvez saberemos se as equipes de limpeza encontraram a carcaça encalhada em alguma praia da cidade daqui a alguns dias".

Apesar de ninguém ter se ferido, tanto o biólogo quanto o secretário pedem às pessoas que não interajam diretamente com os tubarões na água. Apesar do histórico muito pequeno de ataques, acidentes podem ocorrer. "Sugiro que, no caso de um avistamento como esse, as pessoas informem os Bombeiros, através do telefone 193", orienta Ferreira. "Ou então entrem em contato direto com a prefeitura."