Síndico agredido por morador deixa UTI no DF: 'Sabia que ele era explosivo'
Agredido por um morador do prédio que administra em Águas Claras (DF), o síndico Wahby Abdel Karim Khalil, 42, deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) hoje, onde estava internado desde o último sábado (19), quando passou por uma cirurgia odontológica. Agora, Khalil se recupera do procedimento na ala de enfermaria do Hospital Santa Lúcia, localizado no centro de Brasília.
Khalil levou um soco na última quinta-feira (17) do professor de artes marciais Henrique Paulo Sampaio Campos, 49, após um desentendimento sobre o saco de boxe da academia coletiva do prédio em que vivem. O morador só se apresentou hoje na 21ª Delegacia de Policia, localizada em Taguatinga, que investiga o caso.
Segundo o delegado-chefe Alexandre Gratão, Henrique preferiu manter o silêncio e só vai se pronunciar perante o juízo. O caso é tratado como lesão corporal, mas a tipificação pode mudar após análise dos laudos médicos. Gratão não deu mais detalhes sobre a investigação.
O UOL entrou em contato com Henrique Paulo Sampaio Campos, por mensagens, ligações telefônicas e pelas redes sociais, mas, até o momento, não obteve resposta. O espaço segue aberto e será atualizado tão logo haja manifestação.
"Espero que a Justiça seja feita"
Por telefone, o síndico contou a o UOL que se recupera bem do procedimento e que está focado, no momento, apenas na saúde dele. Khalil também ressaltou que espera que Henrique Campos pague pela agressão cometida contra ele.
"Espero que a Justiça seja feita e que ele [Campos] possa responder pelo erro que cometeu. Vida que segue. A gente tem que olhar para a frente e não tem que olhar para as coisas que aconteceram", disse.
O síndico também pontuou que nunca teve problemas com o morador, mas que sabia do histórico violento que ele apresentava principalmente no prédio. Segundo Khalil, o professor de artes marciais já se envolveu em confusões com outros moradores em assembleias e também com o subsíndico.
"Eu sabia que o Rafael era uma pessoa nervosa, explosiva, tinha um temperamento difícil. Mas sempre nos tratamos muito bem e com respeito, sabe? Mas infelizmente isso aconteceu", relata.
Khalil também disse ao UOL que não tem medo do morador. "Não tem motivos para temê-lo. Eu não fiz nada para ele. Foi uma situação que o 'nervoso' falou mais alto na hora e agora só quero me recuperar", esclareceu.
Estado de saúde
De acordo com o hospital, o quadro de saúde do síndico é "estável e sem agravamentos". A cirurgia realizada teve como objetivo evitar que o síndico engolisse os próprios dentes, que ficaram amolecidos com o impacto da pancada. O síndico também não conseguia se alimentar com sólidos.
No relatório médico ao qual o UOL teve acesso, os profissionais de saúde solicitaram a realização de exodontia — extração cirúrgica de dente —, sob sedação médica, de forma emergencial, "para evitar broncoaspiração, foco de infecção ativo e dor intensa". De acordo com o boletim médico, a cirurgia "transcorreu sem intercorrências".
Repúdio ao agressor
Entidades que representam síndicos divulgaram uma nota de repúdio à agressão sofrida pelo síndico. No texto, INCC (Instituto Nacional de Condomínios e Apoio aos Condôminos), Abrassp (Associação Brasileira de Síndicos e Condomínios), Assosíndicos/DF (Associação dos Síndicos de Condomínios Residenciais e Comerciais do Distrito Federal) e o Grupo de Síndicos de Águas Claras criticaram a conduta "prepotente, arrogante e agressiva do morador do condomínio."
"É intolerável que um professor proceda com um soco, combinado com truculência, desrespeito e falta de civilidade se colocando acima da lei, agredindo física e moralmente o síndico do condomínio", diz a nota.
"As entidades entendem que todo o condômino tem o direito de se manifestar livremente nas assembleias, no livro de ocorrências do condomínio ou nos canais apropriados, porém não podemos admitir que síndicos que atuam para manter a ordem, cuidar do condomínio, buscam fazer cumprir a convenção e o regimento interno da edificação se tornem alvos de qualquer grau de intimidação, violência ou do cerceamento ao seu trabalho."
As entidades cobraram do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios) a instauração de "procedimentos de denúncia ao agressor".
Relembre o caso
O síndico Wahby Abdel Karim Khalil foi agredido por um morador do prédio em que ele vive durante um desentendimento sobre um saco de boxe instalado na academia coletiva do prédio.
A agressão foi registrada por imagens de câmeras de segurança do local. Nelas, é possível ver que o síndico, o professor e um funcionário do prédio conversam.
Em determinado momento, o agressor ameaça partir para cima de Khalil, que está de camiseta rosa. Segundos depois, o homem dá um soco no rosto do síndico, que cai ao chão e bate a cabeça.
O homem que vê a agressão tenta intervir, mas, após supostas ameaças por parte de Henrique Campos, sai do local. O professor de artes marciais segue exaltado e falando agressivamente, apontando para a vítima, que demora a conseguir se levantar.
O síndico foi socorrido por outros moradores e procurou a 21ª Delegacia de Polícia, localizada em Taguatinga (DF), para registrar um boletim de ocorrência contra o agressor. A Polícia Civil investiga o caso.
Na delegacia, Khalil informou que, há um ano, o morador instalou o saco de boxe na academia do prédio. Porém, no início de março, foram detectadas rachaduras no teto e, no dia da agressão, houve a comunicação ao homem de que seria necessário retirar o aparelho.
"Fui informar ao morador que estávamos recebendo reclamações de outros moradores por causa das rachaduras e, por isso, seria necessário retirar o saco de boxe e levar o caso à assembleia. Ele não gostou, tentei justificar e fui surpreendido com o soco. Foi tão forte que fiquei desacordado", disse em conversa com o UOL na ocasião.
Wahby foi encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal) e depois para um hospital. Ele foi diagnosticado com uma hemorragia no cérebro. Segundo seu advogado, o síndico não retornou para seu apartamento, com receio de que possa acontecer algo pior.
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