Topo

Jacarezinho: Policial do Choque admite ter matado jovem sem troca de tiros

Jonatan Ribeiro de Almeida foi baleado e morto no Jacarezinho, zona norte do Rio - Reprodução
Jonatan Ribeiro de Almeida foi baleado e morto no Jacarezinho, zona norte do Rio Imagem: Reprodução

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

26/04/2022 12h25

Um cabo do Batalhão de Choque da Polícia Militar assumiu na Delegacia de Homicídios que atirou ontem à noite contra Jonatan Ribeiro de Almeida, 18, na favela do Jacarezinho, zona norte do Rio de Janeiro, sem que houvesse uma troca de tiros. O jovem não resistiu aos ferimentos e morreu na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Manguinhos, na mesma região.

No registro de ocorrência, obtido pelo UOL, o policial do Choque afirma que atirou contra Jonatan após ele tirar uma arma de fogo da cintura durante uma abordagem policial. A mãe de Jonatan nega que ele tivesse qualquer relação com o tráfico de drogas da comunidade. O jovem deixou um filho de quatro meses.

Os policiais afirmam que viram a vítima e outros homens vendendo drogas na localidade do Pontilhão, o que motivou a abordagem. Além do policial que atirou, havia outros dois agentes do Choque.

Não deram o direito do meu filho viver, diz mãe

Em entrevista à TV Globo, Monique Ribeiro dos Santos, mãe de Jonatan, explicou que o jovem trabalhava com sua irmã e aguardava o momento de se alistar ao Exército.

Não deram o direito do meu filho viver, porque não deram nenhum socorro. Mataram e deixaram lá."
Monique Ribeiro, mãe de Jonatan, morto no Jacarezinho

"[Ele era] um menino de bem, trabalhador, trabalha com a minha irmã em venda de roupas, faz entrega. Não estava trabalhando agora porque ele está para se alistar no quartel e não podia trabalhar de carteira assinada. E mataram meu filho com um tiro no peito. O que meu filho fez?", lamentou Monique.

Na noite de ontem, um protesto bloqueou a avenida Dom Hélder Câmara, entrada da comunidade.

Além de Monique, moradores relatam que Jonatan foi abandonado na rua, sem qualquer tipo de socorro, após ser baleado. Um vídeo gravado pelo ativista Diego Aguiar, morador do Jacarezinho, flagra o momento em que moradores socorrem Jonatan até a UPA em uma moto.

No Twitter, Aguiar disse ter testemunhado o momento e diz: "Eles deram o tiro e saíram correndo".

Na delegacia, os policiais afirmaram que não conseguiram prestar socorro porque "foram agredidos por populares, que começaram a atirar pedras" contra eles. Na versão da PM, os policiais saíram do local para buscar reforços e voltaram, mas o corpo não estava mais no local.

O registro de ocorrência indica que foram apreendidos pela Polícia Civil o fuzil utilizado pelo policial do Choque, além de uma pistola, tabletes de maconha e sacos de cocaína — atribuídos a Jonatan, mas sem comprovação.

Em nota, a Polícia Militar confirma a versão apresentada pelos policiais na Delegacia de Homicídios mas não cita a autoria do disparo que matou Jonatan. A corporação afirma que a Corregedoria da Polícia Militar irá apurar a ocorrência e que as armas estão à disposição da perícia.