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Ilha flutuante desprendida da Ilha de Marajó é removida de rio após 3 dias

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL

30/04/2022 04h00

Uma faixa de terra, equivalente a um campo de futebol, se desprendeu do continente e flutuou por três dias em um rio do município de Afuá, na Ilha do Marajó (PA), deixando moradores surpresos com a ilhota flutuante. Foi necessário uma operação de mais de 12 horas, envolvendo seis embarcações e 17 pessoas, para a retirada do material, para evitar riscos à navegação e à população local.

Segundo o secretário de meio ambiente do município, Hilder Félix, a situação foi registrada na terça-feira (26), mas só foi possível remover a faixa de terra na quinta (28). "Recebemos o comunicado de uma madeireira na região informando que ela [a ilhota] tinha 'encalhado' no local. Antes de acionar a secretaria, eles já tinham tentado removê-la, sem sucesso".

Ainda segundo o secretário, não se sabe de onde a ilhota se desprendeu. O terreno, segundo foi avaliado por engenheiros ambientais, tem uma vegetação madura, com rastros de gado, que pode ser decorrente da criação de bubalinos, uma das principais atividades econômicas da região. Isso pode dar uma pista do que causou a soltura da terra.

A gente imagina que pode ter ocorrido o pisoteamento da terra pelos animais e ela tenha ficado fofa, o que facilitou com que a força da água, da Pororoca, tenha arrancado do lugar.
Hilder Félix, secretário de meio ambiente de Afuá

A extensa faixa de terra chegou a ficar flutuando pelo rio Santana, um dos principais corredores de transporte da região, atraindo muitos curiosos. A preocupação do órgão municipal era que o avanço do pedaço de terra prejudicasse um dos principais acessos ao município, bem como a possibilidade de curiosos tentarem acessar a ilhota.

"Caso a ilha continuasse avançando, poderia encalhar no rio e deixá-lo intrafegável, isolando a zona rural da cidade, onde vivem pelo menos doze mil habitantes. Além do risco de destruição de trapiches e embarcações de comunidades ribeirinhas [...] Pelo tamanho da faixa de terra e da vegetação, não sabemos o que poderiam encontrar lá, desde animais silvestres, até jacarés, cobras", explica Félix.

Raízes, erosão e pororoca

O sismólogo da Universidade Federal do Pará, Lorenildo Barbosa, explica que esse fenômeno, em menor proporção, chega a ser comum na região e tem forte influência das marés. "Está sempre acontecendo, mas em pequenas dimensões, como durante a força da pororoca. Normalmente não se trata de uma peça tão extensa que lentamente será desagregada, e vai com a corrente na direção do oceano".

Ainda segundo o professor, o que sustenta o solo ao longo das margens é o entrelaçamento das raízes. "As raízes são rasas, elas não têm profundidade para resistir à força de erosão do movimento das águas do rio".

No caso de peças menores, o que ocorre, segundo o especialista, é que fiquem vagando por algum tempo, agreguem a outro local ou vá sendo "digerida" pelo oceano.

O secretário de meio ambiente de Afuá, Hilder Félix, conta que esse fenômeno ocorre sempre nessa época do ano, por conta do inverno amazônico, mas é a primeira vez que um pedaço de terra deste tamanho é registrado flutuando na região.

"Nessa época, ocorre o que chamamos de 'maré lançante', que é uma maré mais alta e forte, que sofre influência da pororoca. Apesar da Pororoca não acontecer no nosso município, mas no vizinho, de Chaves, a força da água pode ter sido maior esse ano e ter chegado até aqui".

Operação contou com a Marinha

A operação de movimentação da faixa de terra até um local seguro demorou cerca de 12 horas na região. A ação só pôde ser realizada ontem, com apoio de uma empresa madeireira, corpo de bombeiros e supervisão da Marinha.

Para movimentar a ilhota foi necessário amarrar cabos nas vegetação e esperar a maré baixar para poder arrastá-la.

"Amarramos os cabos nas embarcações e nas vegetações mais firmes para que pudessem empurrá-la e conduzimos na vazante para fora do município seguindo no canal norte, que é baía aberta e não tem perigo de causar danos a ninguém".

Ainda segundo o secretário de meio ambiente, o mais provável é que a faixa de terra siga flutuando pela baía até encalhar em alguma praia onde deve se juntar.