Como livro de educação sexual e um desenho fizeram avô ser preso por abuso
O homem de 45 anos que foi preso nesta segunda-feira (6) em Itumbiara (GO) após uma aluna denunciar ser vítima de abusos em um desenho é o avô dela. A descoberta se deu durante uma aula idealizada pelo PQV- AE (Projeto Prevenção e Qualidade de Vida com Amor Exigente), projeto do município de prevenção ao abuso e exploração.
Na aula, a professora apresentou o livro "Pipo e Fifi: Ensinando Proteção contra Violência Sexual", de Caroline Arcari. Segundo Tânia Regina Martins de Sousa, coordenadora do projeto, o trabalho desenvolvido em sala de aula ajuda os alunos a identificarem os toques do "sim" e do "não".
"Muitas vezes as crianças entendem estes toques de forma equivocada. Por ser uma pessoa próxima, pode pensar que é carinho, mas durante a disciplina, os professores vão ajudando elas a discernir", afirmou.
Foi a partir desta discussão em sala de aula que a aluna afirmou que o avô a tocava com o "toque do não". A professora pediu para que ela desenhasse a situação na tentativa de elucidar os fatos. A partir do desenho, a criança deu mais detalhes da história.
Segundo o relato da aluna, quando todo mundo da casa estava dormindo, o avô ia ao encontro dela, tirava a roupa, e pedia para que ela tirasse também. Ele exigia que ela tocasse nas partes genitais dele — o que a fazia chorar. No entanto, ninguém a ouvia.
A professora então acionou o Conselho Tutelar e o homem foi preso posteriormente por estupro de vulnerável.
Por se tratar de um caso que tramita em segredo de Justiça, o UOL não pôde localizar a defesa do homem.
Cinco casos semelhantes só neste ano
O PQV- AE já existe há 12 anos no município de Itumbiara (GO) e vem ajudando a denunciar violência contra crianças e adolescentes.
Só este ano, foram contabilizados cinco casos em que, durante as aulas, os docentes identificaram possíveis situações de abuso sexual infantil. "Esse foi o primeiro deste ano que resultou em prisão. Geralmente são crimes que demoram para ser julgados", explica a coordenadora.
Segundo ela, o motivo para a demora é que, muitas vezes, a família não acredita na criança, ou ela é coagida a mudar o discurso quando vai ser ouvida. Além disso, há também situações em que os membros da família podem ter medo de denunciar o caso às autoridades por questões de dependência financeira ou ameaças.
"A professora começa a fazer atividade e as crianças percebem o que acontecem em casa. Se a família não denuncia, nós podemos intervir."
A coordenadora disse que, só em 2019, o número de casos foi de 132. Agora, após a pandemia, o alerta para a identificação de possíveis abusos é ainda maior. Ela ainda diz que a grande parte dos casos, o abusador são pessoas da família ou de muita confiança do núcleo familiar.
"O que observamos é que com a pandemia as crianças ficaram mais tempo em casa — e possivelmente esses abusadores também. Agora que retornamos presencialmente, começamos a identificar mais estas situações para fazer os encaminhamentos legais", explica.
Como denunciar violência sexual
Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.
Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.
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