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Defesa de Jairinho quer ouvir médicas e fazer reconstituição no hospital

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

13/06/2022 22h42

Após sete horas de depoimento, a juíza Elizabeth Louro, da 2ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, determinou o prazo de cinco dias para que o MPRJ (Ministério Público) e a acusação se manifestem sobre o pedido da defesa de Jairinho para ouvir o depoimento das médicas que atenderam o menino Henry Borel, no Hospital Barra da D'Or, na zona oeste da cidade, no ano passado, e uma possível reconstituição do socorro prestado ao garoto dentro do hospital.

A defesa de Jairinho afirma que o enteado dele chegou vivo à unidade na madrugada de 8 de março de 2021 e contesta o atendimento médico prestado, além de apontar falhas no laudo do IML (Instituto Médico Legal), assinado por Leonardo Tauil, que atestou a morte da criança.

Em depoimento na tarde de hoje, o ex-vereador negou que Henry tenha dado entrada na unidade com sinais de maus tratos.

"As lesões que ocorreram podem ser em decorrência das massagens, dos procedimentos médicos. Se o Henry tivesse chegado com indícios de violência doméstica, eu não estaria recebendo pêsames até o dia do velório", afirmou.

Jairinho atacou ainda por diversas vezes o laudo do IML. Ele acusou o perito de ter emitido um documento sem ver o corpo do garoto. Para sustentar a afirmação, ele apontou que o corpo de Henry tinha um pneumotórax que não havia sido descrito pelo profissional.

À imprensa, o advogado Cláudio Dalledone reafirmou as irregularidades que vê no documento. "A hipótese acusatória não está parando em pé, ela não resiste, o laudo de necropsia é um laudo onde nós temos fundadas suspeitas e elementos suficientes para instaurar um inquérito policial sobre falsa perícia. Há uma ilegalidade incontornável que são as complementações —isso é contra a lei".

O réu e os advogados de defesa se referem ao fato do laudo de necropsia do menino ter sofrido complementações no decorrer das investigações policiais sobre o caso. De acordo com a defesa, fotografias de origem desconhecida foram usadas para acrescentar informações ao documento.

"Tudo leva a crer que ele [perito] não viu o corpo. As fotografias são um escândalo e a prova viva disso. Ele não sabia dessas fotografias que foram tiradas por alguém que não tinha a mínima noção médico-legal. Foi tirada por algum curioso que chegou na mão do delegado e entusiasmou o delegado, que por sua vez trouxe o Tauil a fazer essas complementações de algo que ele não viu e não assistiu", complementa Dalledone.

"Todas essas complementações são nulas de pleno direito. Elas não merecem prosperar", finalizou o advogado, dizendo que ainda é investigada a causa da morte do menino.

Câmeras de segurança

As câmeras de segurança do hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, onde Henry foi atendido, também foram citadas ao longo do interrogatório como parte importante para o processo de defesa de Jairinho. O réu disse que as imagens são essenciais para demonstrar que Henry chegou no hospital "sem nenhum arranhão".

"Caso essa criança tivesse algum sinal de agressão, algum sinal de violência, isso não seria visto prontamente? Óbvio que sim. É protocolo".

No decorrer das investigações, a unidade havia informado à Polícia Civil do Rio que as câmeras estavam em manutenção na madrugada de 8 de março, não havendo portanto flagrado a entrada do garoto na emergência. "Eu preciso das câmeras. É impossível que o hospital ficou completamente às escuras no dia do falecimento do meu enteado", disse Jairinho.

A advogada Flávia Frois disse que a defesa busca a verdade sobre o caso. "Difícil, em pleno século 21, ano de 2022, imaginar que a gente tem fita cassete em um hospital da magnitude do Barra D'Or, a gente imaginar que esses arquivos não estejam em nuvem. A defesa vai buscar isso porque a defesa quer a verdade".

Os advogados defendem ainda uma reconstituição do crime no local. "Nós temos que ter uma reprodução simulada no Barra D'Or também, não só no apartamento, então tudo isso deixa muito claro as imperfeições dessa investigação", complementou Dalledone.

No decorrer do depoimento, Jairinho disse ainda que ele, a então namorada, Monique Medeiros, e o menino Henry Borel tinham uma vida feliz. Em tentativa de desqualificar o depoimento da ex-companheira, que relatou viver um relacionamento abusivo, o ex-vereador disse que Monique era uma supermulher.