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Rio: Operação deixa 5 mortos no Alemão; família de mulher acusa PMs

Moradores do Complexo do Alemão levam corpos e feridos para unidade de saúde após tiroteio - REGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Moradores do Complexo do Alemão levam corpos e feridos para unidade de saúde após tiroteio
Imagem: REGINALDO PIMENTA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Do UOL, no Rio

21/07/2022 12h47Atualizada em 21/07/2022 16h37

Familiares de Letícia Salles, 50, denunciam que policiais militares atiraram contra o carro em que ela estava e a atingiram no peito durante operação policial no Complexo do Alemão, zona norte do Rio. Letícia foi levada para uma unidade de saúde local, mas morreu.

Outras quatro pessoas morreram na ação, inclusive o policial militar Bruno de Paula Costa. A PM indica que os outros três homens mortos eram criminosos, mas não divulgou a identificação deles para a informação ser checada de forma independente. Ao longo da tarde, moradores levaram mortos e feridos para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Alemão — além dos cinco já confirmados.

De acordo com a PM, o cabo Costa foi atingido durante um ataque à base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) por criminosos.

Os familiares de Letícia afirmam que não havia tiroteio na Estrada do Itararé, de acesso à comunidade, quando os PMs dispararam contra o carro em que Letícia estava com o namorado e um primo. Os PMs não socorreram a mulher.

Procurada, a PM não respondeu sobre a responsabilização da morte de Letícia. Em nota, a corporação afirmou que "acompanha e colabora integralmente com todos os procedimentos".

Segundo a PM, quatro homens em fuga foram detidos na Favela da Galinha, perto do Alemão. A corporação também informou a apreensão de uma metralhadora .50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas.

Após a confirmação das mortes, uma manifestação de mototaxistas foi organizada nos acessos às comunidades. No Twitter, a Polícia Militar afirmou que o ato "é para garantir oportunidade de fuga de criminosos cercados na operação", sem maiores explicações.

A operação de hoje no Complexo do Alemão é feita por equipes do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM e da Core (Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais) da Polícia Civil. Às 13h, a ação ainda estava em curso. Nas comunidades do Juramento e Juramentinho, também na zona norte, PMs dos batalhões do Méier e do Irajá realizam outra operação.

21.jul.2022 - As polícias Militar e Civil iniciaram na madrugada operação conjunta no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, para combater roubos de veículos, cargas e a bancos - José Lucena/Estadão Conteúdo - José Lucena/Estadão Conteúdo
21.jul.2022 - As polícias Militar e Civil iniciaram na madrugada operação conjunta no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, para combater roubos de veículos, cargas e a bancos
Imagem: José Lucena/Estadão Conteúdo

Ainda em nota, a corporação informou que a operação de hoje ocorre após investigações sobre roubos de veículos em bairros da zona norte e roubos a bancos em Niterói, na Baixada Fluminense e também no município de Quatis. A PM afirma também que o grupo alvo da operação de hoje atua em roubos de carga e de óleo diesel — para derramar o combustível em acessos a comunidades e dificultar operações policiais.

A corporação não informou se havia mandados de prisão ou de busca e apreensão a serem cumpridos na operação de hoje.

Moradores relatam manhã de terror no Alemão

Nas redes sociais, moradores do Complexo relatam um cenário de guerra em meio à operação, com "rajadas de tiros" e moradores sendo acordados pelo barulho das balas.

"Já estamos no local mais seguro de nossa casa, já vai para quase 1 hora. Os tiros ecoam em nossos ouvidos. É desesperador demais. A nossa realidade não é perfeita igual muita gente pinta", desabafou Renata Trajano.

"Meu barraco treme a cada rasante desse helicóptero, isso não é normal, banalização das nossas vidas não é normal", completou a cofundadora do Coletivo Papo Reto.

"Muitas rajadas de tiros nesse momento. O cenário é de guerra. Tiroteio intenso nessa manhã aqui no Complexo do Alemão", relatou Rene Silva, fundador do Voz da Comunidade.

"Eu acabei de acordar com um tiro de fuzil entrando pelo teto da minha casa e acertando a barriga do meu marido, por causa da operação que está acontecendo no Alemão. E detalhe, eu moro a QUILÔMETROS DO ALEMÃO", publicou Jully Azevedo, detalhando que o companheiro foi atingido de raspão após o disparo ser amortecido primeiro por uma parede.

"Daqui dá pra ficar ouvindo o barulho da bala passando pertinho", afirmou um outro morador do Complexo, na madrugada de hoje.