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Moradora e policial são mortos em operação no Alemão: 'Cenário de guerra'

Do UOL, em São Paulo

21/07/2022 09h06Atualizada em 21/07/2022 11h56

Moradores e vizinhos do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, descreveram momentos de terror vividos na região desde a madrugada de hoje, durante uma operação das equipes de elite das Polícias Militar e Civil do estado. Pelo menos uma moradora e um policial foram mortos, segundo a Secretaria de Saúde e a PM.

Eles foram identificados como Letícia Marinho dos Sales, 50, e o cabo Bruno de Paula Costa, 38. O homem foi baleado enquanto trabalhava na UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Nova Brasília. Segundo a PM, a base foi atacada por criminosos em retaliação à operação.

O policial chegou a ser levado para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu aos ferimentos. Ele estava na Polícia Militar desde 2014.

Em nota ao UOL, a PM afirmou que a operação busca criminosos conhecidos pelo roubo de veículos, assaltos a bancos — como os realizados nas cidades de Quatis, Niterói e na Baixada Fluminense — e roubos de carga, como óleo diesel, material derramado em ladeiras para dificultar o avanço de viaturas durante operações policiais.

A presença de membros desse grupo criminoso no conjunto de favelas que forma o Alemão teria sido detectada a partir de "informações dos setores de inteligência" do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) da PM e do Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil.

Nas redes sociais, moradores do Complexo relatam um cenário de guerra em meio a operação, com "rajadas de tiros" e moradores sendo acordados pelo barulho das balas.

"Já estamos no local mais seguro de nossa casa, já vai para quase 1 hora. Os tiros ecoam em nossos ouvidos. É desesperador demais. A nossa realidade não é perfeita igual muita gente pinta", desabafou Renata Trajano.

"Meu barraco treme a cada rasante desse helicóptero, isso não é normal, banalização das nossas vidas não é normal", completou a cofundadora do Coletivo Papo Reto.

"Muitas rajadas de tiros nesse momento. O cenário é de guerra. Tiroteio intenso nessa manhã aqui no Complexo do Alemão", relatou Rene Silva, fundador do Voz da Comunidade.

"Eu acabei de acordar com um tiro de fuzil entrando pelo teto da minha casa e acertando a barriga do meu marido, por causa da operação que está acontecendo no Alemão. E detalhe, eu moro a QUILÔMETROS DO ALEMÃO", publicou Jully Azevedo, detalhando que o companheiro foi atingido de raspão após o disparo ser amortecido primeiro por uma parede.

"Daqui dá pra ficar ouvindo o barulho da bala passando pertinho", afirmou um outro morador do Complexo, na madrugada de hoje.

400 policiais participam de operação

Questionada pelo UOL, a Polícia Militar do Rio de Janeiro não deu informações sobre a morte de civis. A Polícia Civil ainda não retornou o contato da reportagem.

A PM confirmou que 400 agentes participam da operação no Alemão, com o auxílio de quatro aeronaves e dez veículos blindados.

Na comunidade da Fazendinha, a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) "está sendo atacada por criminosos, que também derramaram óleo em via pública e atearam fogo em objetos", segundo a corporação.

Além da presença no Alemão, policiais militares do 3ºBPM (Méier), do 41ºBPM (Irajá) e de outros batalhões do 2º Comando de Policiamento de Área estão nas comunidades de Juramento e Juramentinho.

A operação de hoje acontece sob a ADPF 365, que proíbe operações policiais nas favelas do Rio durante a pandemia.