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Adolescentes denunciam racismo em loja de eletrônicos em shopping de SP

Adolescentes denunciam racismo após serem perseguidos por um funcionário da Fast Shop, no Shopping Pátio Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. - Reprodução/TV Globo
Adolescentes denunciam racismo após serem perseguidos por um funcionário da Fast Shop, no Shopping Pátio Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

23/07/2022 23h59Atualizada em 24/07/2022 13h51

Três adolescentes denunciam que sofreram racismo ao serem perseguidos por um funcionário dentro da Fast Shop, loja de eletrônicos e eletrodomésticos, no Shopping Pátio Higienópolis, em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista. O caso teria ocorrido na última quarta-feira (20).

Os meninos gravaram um vídeo em que mostram o suposto segurança os perseguindo.

Na filmagem de pouco mais de dois minutos, o funcionário aparece ao menos sete vezes atrás dos jovens.

"Seguinte, mano: tem um cara aqui olhando nós para todo lugar que nós vamos, então vão ficar olhando, mano", disse um dos adolescentes na gravação, transmitida pelo SP2, da TV Globo. "Aí o cara vem atrás, o cara vem atrás, ó", reforça em outro trecho da gravação.

Em um relato indignado nas redes sociais, o jornalista Djalma Campos, pai de um dos adolescentes, disse que o filho e o sobrinho foram ao shopping Pátio Higienópolis para assistir ao filme "Minions 2" e, depois da sessão, se deslocaram, com um amigo, até a loja Fast Shop.

E ali começou um problema que todo negro/negra, adulto ou criança, já enfrentou na vida: a perseguição por conta do racismo. Um homem — funcionário da Fast Shop — passou a persegui-los em vários ambientes da loja. Ao ser filmado pelo meu filho, ouviu a pergunta sobre o porquê da perseguição. Ele disse que era 'gestor' da loja. Traduzindo: ele é a pessoa que, ao olhar para um garoto negro, cria aquela régua que faz com que toda pessoa que tenha 1 grama de melanina na pele seja identificada como bandido ou potencialmente perigoso. Djalma Campos, pai de um dos adolescentes

O jornalista reforçou que racismo é crime e classificou a perseguição do funcionário como uma "atitude vergonhosa e que consiste na ação mais vil e nojenta que uma loja é capaz cometer".

"Qual é a desculpa? Os garotos vão sair com televisores de 32 polegadas nas costas porta afora? Ou as jaquetas de Star Wars e os tênis de basquete apontam algum tipo de delito que eu — já bem mais maduro e experiente que os meninos quando o assunto é esta chaga chamada racismo — não sou capaz de entender? Qual é a 'desculpa' desta vez? Por 'sorte', meu filho registrou a atitude asquerosa de seu 'segurança' (gestor de departamento) cometeu. Ou seria melhor darmos o nome correto: crime de racismo!"

O adolescente que filmou a ação lamentou o episódio e disse que sentiu "nervosismo" ao passar por isso.

[Eu senti] nervosismo. Porque era minha primeira saída sozinho, andar sozinho, e logo de cara acontece isso. Um dos adolescentes perseguidos na loja

Já a professora universitária Sandra Regina Leite Campos, mãe de um dos adolescentes, disse, em entrevista à emissora, que ligou no estabelecimento e denunciou o episódio à gerente da loja, que deu uma desculpa.

"Ela [gerente] até me falou assim: 'É que a loja tem tido muita reclamação dos clientes não estarem sendo atendidos, não ter alguém por perto'. Eu falei: 'Mas o que uma criança de 13 anos vai comprar no setor de geladeira e fogão?'. Eles estavam ali sendo adolescentes, só. (...) O fato de eles serem pretos determinou a postura do profissional."

O que dizem o estabelecimento e o shopping

Em nota enviada ao UOL, a Fast Shop disse que "repudia todo e qualquer ato discriminatório e que "iniciou uma investigação para apurar o ocorrido".

"Caso seja comprovada qualquer atitude irregular ou discriminatória por parte de algum colaborador, todas as medidas serão adotadas", finaliza a rede em posicionamento.

Já o Shopping Pátio Higienópolis declarou que "assim que tomou ciência do relato, entrou em contato com a cliente e com o lojista para apurar os fatos".

"O shopping reitera que não compactua e repudia qualquer ato que denote discriminação ou qualquer forma de racismo. O empreendimento tem estabelecido um rigoroso código de ética e conduta e promove treinamento e palestras educativas para público interno e lojistas."

A Secretaria de Segurança Pública afirmou que foi registrado um boletim de ocorrência por injúria racial na delegacia eletrônica. "Por se tratar de crime de ação penal condicionada, a vítima foi orientada quanto à necessidade de representar criminalmente contra o autor", complementa o comunicado.