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Varíola dos macacos: médico acusado de homofobia é afastado

Caso de homofobia denunciado por jovem aconteceu na UPA Central de Santo André - Google Street View/Reprodução
Caso de homofobia denunciado por jovem aconteceu na UPA Central de Santo André Imagem: Google Street View/Reprodução

Do UOL, em São Paulo

30/07/2022 18h06Atualizada em 30/07/2022 20h29

Um médico da rede municipal de Santo André (SP) foi afastado do cargo após ser denunciado por homofobia em atendimento a paciente com suspeita de varíola dos macacos.

O afastamento temporário foi anunciado pela prefeitura do município na manhã de hoje, mas o caso ocorreu durante uma consulta na segunda-feira (25) na UPA Central de Santo André. O paciente, o artista Matheus Góis, 23, buscou ajuda médica após ter sintomas semelhantes aos da covid-19 e notar pequenas bolhas no corpo.

Na ocasião, Matheus procurou o Centro Médico de Especialidades da Vila Vitória. No primeiro atendimento, ele chegou a fazer um exame para sífilis, que deu negativo. Uma médica desconfiou, então, da possibilidade da varíola dos macacos e o encaminhou para outra unidade de saúde, a UPA Central de Santo André, que tinha estrutura suficiente para realização do exame.

"Chegando à UPA eu fui atendido por um médico que me tratou com um desdém total, como se eu fosse um leproso e negligente. Eu disse que tinha ido ao centro de especialidade e ele me indagou sobre a minha sorologia [para HIV]. Eu disse que era negativo e ele respondeu: 'Você tem certeza mesmo? Porque se você está lá [no Centro de Especialidades], era por alguma doença. Você tem doença?'", contou Matheus em publicação no Twitter. A "doença" em questão, segundo o jovem, seria Aids.

Após a pergunta sobre HIV, o médico teria pedido que o jovem se retirasse do consultório para que as enfermeiras "lidassem com a situação". Segundo Matheus, o tratamento das profissionais foi "impecável" e as enfermeiras trataram o vírus como "mais um a ser solucionado com recursos e informações que elas tinham".

"Em nenhum momento me senti coagido ou tratado como um portador da 'nova praga gay'. Somente o médico homem me tratou com total repulsa", disse Matheus. A publicação feita por ele foi compartilhada quase 3 mil vezes em pouco mais de dois dias.

Em nota, o município lamentou o ocorrido e disse que um processo de apuração sobre o caso foi iniciado. "Durante este processo, o médico permanecerá afastado dos plantões nos equipamentos municipais de saúde", pontuou o posicionamento.

O nome do médico não foi divulgado e o UOL não conseguiu encontrar a defesa do acusado.

Estigma sobre doença preocupa especialistas

Especialistas se preocupam com o surgimento de um estigma em relação a pessoas gays e bissexuais devido à varíola dos macacos — uma doença que pode ser transmitida pelo contato físico próximo.

Na segunda-feira (25), a OMS (Organização Mundial da Saúde) publicou um comunicado lembrando que a infecção não está diretamente ligada a estes grupos, mas reconhecendo que "alguns casos foram identificados por meio de clínicas sexuais nas comunidades gays, bissexuais e de homens que fazem sexo com outros homens".

"É importante ressaltar que o risco da varíola dos macacos não está limitado a homens que têm relações sexuais com outros homens. Qualquer um que tenha contato próximo com alguém infectado está em risco", afirmou comunicado da OMS.

Em entrevista ao Estadão, o epidemiologista Fábio Mesquita lembrou a importância de não tratar a varíola dos macacos como o vírus da HIV no começo da epidemia da Aids.

"Naquela época, nossa ignorância era muito grande. Demoramos para entender a ciência, o que era e como transmitia. Olhamos só para o número de casos e como se fosse algo necessariamente associado a uma comunidade", comparou.

"A forma de não cometermos o mesmo erro é dizer que, nesse momento, a comunidade precisa ficar atenta, porque está disseminando o vírus de forma importante. Mas também precisamos afirmar que não há evidência científica de que a varíola dos macacos ficará restrito a ela", afirmou.