Técnica de enfermagem atuava como agiota, diz polícia; família desconhecia
Danyanne da Cunha Januário da Silva, 35, encontrada morta em um terreno em Brazlândia (DF), atuava como agiota e teria sido morta pelos responsáveis por captar seus clientes, depois que um deles adquiriu uma dívida com a chefe, de acordo com investigação da Polícia Civil. A família da vítima diz que não tinha conhecimento das atividades da mulher, mas declarou que "isso já não importa".
Segundo detalhou a Polícia Civil, os suspeitos, de 24 e 26 anos, recebiam os pagamentos dos empréstimos feitos pela técnica em enfermagem e, em seguida, repassavam os valores para ela.
A investigação aponta que Danyanne emprestava o dinheiro com juros de 50% no pagamento — do valor arrecadado com juros, os captadores ficariam com 60% e ela, com 40% — e que o problema entre a vítima e os suspeitos começou depois de um deles não fazer o repasse correto dos recebimentos, acumulando uma dívida de mais de R$ 35 mil com a mulher.
"[O homem] Passou a inventar empréstimos e a pegar o dinheiro para si mesmo. A vítima não chegou a cobrar a dívida, mas o suspeito decidiu matá-la para não pagar o débito", disse a delegada chefe da 29ª DP, Valma Milograna, responsável pelo caso.
Dinâmica do crime
A técnica em enfermagem desapareceu na quarta-feira (27), mas seu corpo foi encontrado apenas na madrugada de ontem, a 40 km de onde ela foi vista pela última vez. Dallas Brasil, irmã de Danyanne, detalhou que ela saiu de casa, no Riacho Fundo, dizendo que iria receber uma quantia de um conhecido, de uma dívida antiga.
Segundo a delegada Milograna, a vítima já estava acostumada a se reunir com os suspeitos em uma casa de construção a poucos quilômetros de sua casa, onde eles resolviam seus negócios.
Os encontros costumavam ser rápidos e, por isso, a técnica em enfermagem não levou o telefone celular. Ao encontrar os parceiros, que teriam prometido entregar parte dos R$ 35 mil devidos, um terceiro homem, ainda não identificado, teria se aproximado com arma em punho e simulado um assalto.
"A vítima foi conduzida ao Incra, onde foi morta. Os suspeitos foram autuados em flagrante por ocultação de cadáver e serão responsabilizados também por homicídio qualificado e roubo de veículo", afirmou a delegada.
Câmeras de segurança do prédio onde a vítima morava registraram o último momento em que ela foi vista. Por volta das 22h27, a técnica em enfermagem entra no elevador. Vestida com um agasalho e calça preta, ela sai do local, entra em um carro e dá partida.
A perícia vai confirmar a causa da morte mas, segundo as apurações iniciais, Danyanne foi morta com um tiro na cabeça no mesmo dia do desaparecimento.
Ainda segundo a Polícia Civil, câmeras de trânsito registraram o carro da vítima passando pela BR-040 à 0h27 da quinta-feira (28).
"O veículo seguia sentido Valparaíso, entorno de Goiás. Portanto, não há como afirmar se ela era que dirigia ou quem estava na direção do volante", declarou o delegado Lúcio Valente, responsável pela investigação inicial.
O carro da profissional de saúde ainda não foi localizado. Danyanne deixa dois filhos, de 13 e 11 anos.
Família desconhecia atuação
A irmã da técnica em enfermagem disse ao UOL que está em choque. Há quatro meses, a avó das mulheres morreu. E ontem, horas depois da descoberta da morte de Danyanne, um irmão sofreu um acidente de moto e teve que passar por cirurgia.
Nossa avó nos criou. Eu ainda não superei a perda dela e agora um novo baque. Eu me fechei para o mundo depois da morte dela e não sabia do envolvimento da minha irmã com esse tipo de coisa [empréstimos ilegais]. Mas o que importa? Ela já não está mais aqui. Vamos deixar a polícia com a investigação e focar nesse homem que ainda não foi preso", Dallas Brasil, irmã da técnica de enfermagem.
Ainda segundo a mulher, os sobrinhos, filhos da vítima, estão em estado de choque.
"Uma mulher nova, cheia de sonhos e com a vida pela frente foi morta por dinheiro. Ela não ameaçou ninguém, não feriu ninguém. Sequer estava cobrando essa dívida, como os policiais analisaram nas mensagens. Mas mesmo assim, eles decidiram matar. Deixaram duas crianças órfãs. Queremos Justiça", desabafou Dallas.
O sindicato que representa os enfermeiros do DF lamentou a morte, em comunicado: "É com extremo pesar que o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos em Enfermagem do Distrito Federal comunica o falecimento da técnica em enfermagem Danyanne da Cunha Januário da Silva. Danyanne tinha 35 anos e atuava na Sala de Vacinas de Águas Claras, e era considerada uma excelente profissional pelos colegas de trabalho".
A nota conclui dizendo que "neste momento de dor, a direção do Sindate manifesta os mais sinceros sentimentos à família, amigos e colegas de trabalho".
* Com informações de Jéssica Lima, em colaboração para o UOL no Distrito Federal
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