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'Morreu como heroína', diz família de mulher que salvou médica em ataque

Agente de saúde morre e médica fica ferida após ataque em clínica de MT - Facebook/Reprodução
Agente de saúde morre e médica fica ferida após ataque em clínica de MT Imagem: Facebook/Reprodução

Bruna Barbosa

Colaboração ao Uol, de Cuiabá

29/08/2022 15h08

Quando ouviu os gritos e pedidos de socorro da médica Jaqueline da Croce, 31, esfaqueada por um dos pacientes atendidos na unidade de Estratégia Saúde da Família São José, em Primavera do Leste (MT), a agente de saúde Reggy Rose de Oliveira, 51, correu até o consultório e jogou uma cadeira no agressor. Reggy levou uma facada no peito e não resistiu, mas a atitude é descrita por sua família como "heróica", por ter salvado a colega.

O ataque aconteceu na quinta (25), quando Jaqueline, que está grávida de quatro meses, realizava os atendimentos na unidade de saúde, onde trabalhou por sete anos. A médica foi esfaqueada quatro vezes pelo suspeito, sendo dois golpes na barriga, um no braço e outro na perna.

Para a família, a agente de saúde foi "heroína" ao se arriscar para tentar ajudar a médica. Ela deixou três filhos: duas jovens de 20 e 27 anos, que está grávida de sete meses, e um adolescente de 17.

"Minha tia gritou com ele, falou alguma coisa e ele partiu para cima dela. Ela morreu como uma heroína, deu a vida dela em troca de duas vidas. Pensou na médica e na criança que a doutora estava esperando", lamenta a sobrinha de Rose, Laura Oliveira.

A facada quase atingiu o coração da agente de saúde, causando sangramento intenso. Ela chegou a ser socorrida com vida por uma das enfermeiras da unidade de saúde, mas morreu no hospital durante preparação para uma cirurgia.

Quando chegou ao hospital, Rose precisou de transferência de sangue, sendo necessárias três bolsas. Os médicos também precisaram drenar sangue do pulmão da vítima. Antes de desmaiar, ela pediu que a colega de trabalho cuidasse da filha gestante.

Ela disse que estava doendo muito, pediu para a amiga cuidar da filha que vai ganhar neném e fechou os olhos. Desmaiou. Laura Oliveira, sobrinha de Reggy

Descrita pela sobrinha como a "mais coração" dos nove irmãos, ela criava os três filhos sozinha e era viúva.

Rose morava em Minas Gerais, mas decidiu tentar a sorte em Mato Grosso e passou no concurso público da Saúde em Primavera do Leste.

A agente de saúde também tinha formação técnica em enfermagem, mas deixou a carreira de lado para passar as noites com a mãe, de 83 anos. Laura explica que a tia era a principal companhia da idosa.

Trabalhava em serviço social da igreja fazendo sopa para moradores de rua. Cuidou do meu avô até ele morrer, depois era a companheira da minha avó, dormia todos os dias com ela. Quando terminou o curso de enfermagem, trabalhava de dia como agente de saúde e à noite fazia plantão. Depois saiu para ficar as noites com a mãe.

Médica casou há um ano e espera primeiro filho

Jaqueline é recém-casada e oficializou a união com o marido no ano passado, há quatro meses ela descobriu que está grávida do primeiro filho, que vai se chamar Antony.

De acordo com o irmão, "por sorte" uma das facadas na barriga não atingiu o útero da médica. "Gravidez supertranquila, não teve nenhuma intercorrência, só que agora está na UTI. Ela fez uma cirurgia grande na barriga, teve que abrir para costurar o intestino que estava rompido". Leandro também ressaltou que Reggy foi "um anjo" ao intervir no ataque sofrido pela irmã.

No hospital, onde ainda permanece internada, Jaqueline conseguiu contar detalhes do que aconteceu na unidade de saúde, segundo conta o irmão:

A história que ela conta é que estava atendendo, de repente o cara entrou na sala, começou a gritar: 'Justiça, justiça', e pulou em cima dela. Ela caiu de costas e ele começou a esfaquear ela. Começou uma gritaria, a Reggy entrou e deu uma cadeirada nele. A Reggy salvou a vida da minha irmã e do meu sobrinho.

Para Leandro, que é cardiologista, a ação rápida da enfermeira que levou a irmã e agente de saúde para o hospital foi importante. Jaqueline deixou a UTI do Hospital das Clínicas, em Primavera do Leste, hoje, mas continua internada para tratamento.

A sorte dela é que veio rápido, só sobreviveu por causa disso. Agora temos que cuidar das complicações que podem surgir, pois ela ainda está em situação considerada grave.

Suspeito tentou entrar em creche

Antes de entrar na unidade de saúde, o agressor teria tentado entrar em uma creche no mesmo bairro. Laura conta que o paciente era atendido mensalmente no local para tratamento psiquiátrico. Leandro explica que não há relatos de comportamentos agressivos anteriores ao ataque.

Aos policiais militares que atenderam a ocorrência, o homem disse que cometeu o ataque por conta de um "atendimento ruim". Será investigado se ele teve um surto psicótico.

"Não teve como ser atendido outro dia, estava com a consulta marcada para sexta-feira de manhã, não sabemos se ele estava sem o remédio e ficou nervoso. Deu um surto e foi até o postinho. Segundo relatam, do lado do posto de saúde tinha uma creche, ele passou lá, tentou entrar e falou que precisava matar alguém".

O homem ainda tentou invadir a sala do dentista da unidade de saúde, que usou uma mesa para se defender das facadas. Ele chegou a gravar um vídeo mostrando a faca usada nos crimes e dizendo que tinha "acabado de agir".

O homem foi preso em flagrante do lado de fora da unidade. A Polícia Civil está investigando o caso.