Primeiro 'titanossauro anão' é descoberto no interior de SP
Uma nova espécie de dinossauro foi encontrado em Ibirá, no interior de São Paulo. Batizado de Ibirania parva, o titanossauro mede entre 5,7 e 6 metros e é uma forma "anã" dos saurópodes - grupo de animais pescoçudos e herbívoros. Alguns indivíduos desta espécie já foram identificados como "anãos" em regiões de ilhas antigas, como Argentina e Equador. No entanto, o Ibirania é a primeira espécie de titanossauro comprovadamente anã das Américas.
O estudo publicado por 12 autores na quinta-feira passada (15) na revista científica Ameghiniana detalha a descoberta. Ao UOL, um dos autores do estudo, Bruno Navarro, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, disse que a informação foi a "maior surpresa" para os pesquisadores.
Segundo ele, os cientistas trabalharam com diferentes linhas de pensamento para compreender a presença dos animais na região. Entre elas, a de que redução de tamanho poderia ser da própria genética, uma vez que a redução de tamanho poderia ser uma tendência que a própria genética já demonstrava.
Outra hipótese ainda era do reflexo dos nichos ecológicos de cada tipo de dinossauro, já que alguns eram especializados em alimentos de copas de árvores e outros de vegetação rasteira.
No entanto, para Bruno, elas não contemplavam todas lacunas para justificar o tamanho muito reduzido do animal. Assim, os pesquisadores começaram a pensar que o próprio ambiente poderia ter sido uma influência.
"Pensamos que o ambiente possa ter atuado analogamente como uma ilha: com presença de vegetação seca, falta de recursos, confinamento", explica, informando que a espécie anã só havia sido detectada em ilhas até então.
A espécie é originária do Período Cretáceo, cerca de 80 milhões de anos atrás. Naquela época, o interior de São Paulo tinha um ecossistema muito diferente do atual. Segundo Bruno, a aparência da região seria o que se assemelha às savanas africanas de hoje.
Uma longa jornada
Os primeiros materiais da espécie começaram a ser localizados a partir de 1999, em uma região conhecida como Sítio dos Irmãos Garcia. No entanto, os materiais do holótipo - indivíduo que carrega o nome da espécie - foram descobertos apenas em 2005, pelo professor Dr. Marcelo Adorna Fernandes, do Laboratório de Paleoecologia e Paleoicnologia do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade Federal de São Carlos.
Entre os itens recuperados estavam diversos elementos vertebrais e de membros de ao menos quatro indivíduos diferentes. Os pesquisadores já sabiam que se tratava de uma nova espécie que apresentava características únicas, mas ainda restavam dúvidas se era um animal juvenil ou na fase adulta.
A equipe trabalhou com outros materiais de museus para identificar a idade dos indivíduos. "Fizemos análises do tecido ósseo e constatamos que eram animais totalmente maduros, que já tinham parado de crescer antes da morte", conta.
Ao realizarem a descoberta durante o ano de 2020, os autores do estudo decidiram batizar a nova espécie como Ibirania parva. "O nome Ibrania é a junção das palavras Ibirá - em homenagem à cidade onde a espécie foi encontrada - e 'ania', que em grego significa 'caminhante, peregrino'. Já 'parva' é o latim para 'pequeno', devido ao tamanho reduzido da espécie. Como a palavra Ibirá vem do Tupi - significando 'árvore' - podemos traduzir o nome desse novo dinossauro como 'o pequeno peregrino das árvores'", explica.
A descoberta traz à luz que o nanismo em dinossauros não está limitado ao confinamento em ilhas, mas coloca o ambiente em que eles viviam como uma parte influente na formação de seus corpos. "É mais uma peça para o quebra-cabeça de reconstruir o ecossistema da região. Temos agora um ponto de partida também para outros materiais de estudo", finaliza Bruno.
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