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Mãe de 3 filhos, empresária com seguro de vida de R$ 1 mi desaparece em SP

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

30/09/2022 22h13Atualizada em 02/10/2022 19h08

Uma empresária de 31 anos está desaparecida desde o dia 20, quando saiu, sem levar carteira, documentos e celular, do apartamento em que morava com o marido, a sogra e três filhos pequenos, em Barueri, a 30 quilômetros de São Paulo. Dona de uma serralheria, a mulher tinha em seu nome duas apólices de seguro que, somadas, pagariam uma indenização de mais de R$ 1 milhão aos beneficiários de sua morte.

Jackeline Oliveira Minguette e sua família haviam se instalado no apartamento, em um condomínio de classe média, cerca de 30 dias antes de seu desaparecimento. Proprietários de uma casa em Boituva, decidiram alugar a unidade de três dormitórios para poderem ficar mais próximos da serralheria, localizada no município vizinho de Jandira.

No dia 20, a empresária estava com a sogra e os três filhos pequenos - um deles lactente, de 8 meses - no imóvel. O marido havia viajado a negócios para outro município. Por volta das 14h30, ela foi flagrada por câmeras de segurança do edifício pegando o elevador e depois atravessando a garagem do prédio até a portaria. Ela trajava camiseta preta, calça vermelha, meias brancas e um par de chinelos.

A mãe de Jackeline, Madalena Maria de Oliveira, 48, que mora na periferia de Jandira com o marido e os dois irmãos da empresária, só foi informada do desaparecimento da filha no final da tarde do dia 20, por volta das 18h30, logo após o genro ter retornado ao apartamento e ser informado por sua mãe que a esposa não tinha voltado. Em depoimento à polícia, a sogra de Jackeline disse que a nora havia saído para "espairecer um pouco".

Madalena diz que soube recentemente que o balanço financeiro da serralheria não ia bem. Apesar de ela e o marido terem iniciado o negócio, o casal foi perdendo o controle sobre as finanças após chamarem o genro e a filha para trabalharem com eles. "Acabei entregando o controle de tudo para ela, ficou tudo no nome dela. Eu, meu marido e meus outros dois filhos ficamos só com a parte da execução dos serviços", disse ao UOL.

A polícia descobriu que a empresária possui duas apólices de seguro de vida em seu nome, cujos prêmios ultrapassam o valor de R$ 1 milhão - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
A polícia descobriu que a empresária possui duas apólices de seguro de vida em seu nome, cujas indenizações ultrapassam o valor de R$ 1 milhão
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo o advogado Roberto Guastelli, que está auxiliando legalmente Madalena e sua família, foi estranho constatar que, no dia seguinte ao desaparecimento da esposa, Osvaldo recolheu objetos pessoais do apartamento e retornou a Boituva, com a mãe e os filhos. Depois entregou o apartamento.

Ainda no dia seguinte ao desaparecimento, descobriu-se que alguém teria transferido para a conta de Jackeline a quantia necessária para o pagamento da parcela de uma das apólices de seguro em seu nome, mantida em débito automático.

No dia seguinte ao desaparecimento, o marido de Jackeline enviou mensagem ao celular dela, apesar do aparelho estar com ele, no apartamentoNo dia seguinte ao desaparecimento, o marido de Jackeline enviou mensagem ao celular dela, apesar do aparelho estar com ele, no apartamento - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
No dia seguinte ao desaparecimento, o marido de Jackeline enviou mensagem ao celular dela, apesar do aparelho estar com ele, no apartamento
Imagem: Arquivo Pessoal

"Também no dia seguinte ao desaparecimento, Osvaldo enviou duas mensagens ao celular da esposa, mesmo sabendo que o aparelho estava dentro do apartamento. É, no mínimo, estranho", afirmou Guastelli.

Procurado, o marido de Jackeline, Osvaldo Félix, disse que não iria dar entrevista. Ele afirma que está à base de remédios tranquilizantes e sem condições de falar sobre o caso. "Não quero que distorçam a minha fala, como já aconteceu. Não quero ser atraiçoado novamente", declarou.

Cães farejadores

"Na versão dele [Osvaldo], minha filha desapareceu porque quis abandonar ele e os filhos, mas ela jamais, jamais faria uma coisa dessas", afirmou Madalena. "Ela estava dando de mamar para o caçula. Se ela quisesse fugir, por que sairia de chinelos, de mãos abanando?", indaga.

No dia seguinte ao desaparecimento, a polícia enviou agentes com cães farejadores para que pudessem encontrar pistas do caminho tomado pela empresária, após sair do prédio. O rastro acompanhado pelos animais terminava num ponto de ônibus, próximo de um rio.

"Chegamos a pensar que ela tinha se afogado, foi desesperador. Nos dias que seguiram procuramos ela em todos os lugares, ligamos para hospitais, albergues, IML. Mas nada de achá-la. Ele [Osvaldo] nem ajudou a procurar. Eu só quero a minha filha. Não sei se está viva ainda, já passou muito tempo. Mas quero ela de volta".

Madalena conta que, antes que Osvaldo deixasse de vez o apartamento para voltar a Boituva, ela pegou o celular da filha e levou embora. "Ele quis depois de volta, mas eu não devolvi. Entreguei para a polícia, eles vão investigar".

As câmeras do edifício flagraram Jackeline pegando o elevador e, na sequência, atravessando a garagem. - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
As câmeras do edifício flagraram Jackeline pegando o elevador e, na sequência, atravessando a garagem.
Imagem: Arquivo Pessoal

Segundo Roberto Guastelli, a polícia obteve a quebra do sigilo telemático dos telefones de Jackeline e Osvaldo. E também irá investigar a origem da transferência bancária para pagamento da apólice. "O delegado também irá confirmar quem são os beneficiários das apólices, que preliminarmente soubemos ser o marido e as crianças".

Sem um atestado de morte, explica o advogado, seria impossível ter acesso direto a indenização do seguro. "O beneficiário teria que abrir um processo de ausência de pessoa e esperar o prazo de 10 anos para que o juiz declarasse morte presumida", explicou.

A SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou em nota que foi instaurado inquérito policial pelo Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa de Carapicuíba, que apura as circunstâncias do caso.

"A Polícia Civil analisa imagens e realizou as oitivas das partes. A equipe da unidade trabalha nas diligências visando à completa elucidação dos fatos. Detalhes serão preservados para garantir autonomia ao trabalho policial", declara o órgão.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado, a cidade de Barueri fica a 30 quilômetros de São Paulo, e não a 470 quilômetros. A informação foi corrigida.