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Natal em janeiro e padre casado: as diferenças entre ortodoxos e católicos

Cristãos ortodoxos acendem velas no Natal, celebrado em 7 de janeiro - Elvis Barukcic/AFP
Cristãos ortodoxos acendem velas no Natal, celebrado em 7 de janeiro Imagem: Elvis Barukcic/AFP

Thiago Varella

Colaboração para o UOL

01/10/2022 04h00

A presença do candidato Padre Kelmon (PTB) na corrida eleitoral para a presidência fez muita gente se perguntar qual seria a diferença entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa. Kelmon se apresenta como membro de uma igreja ortodoxa, mas a relação do candidato com a igreja tem sido alvo de polêmica.

Em seu site oficial, a Igreja Ortodoxa negou que Kelmon seja sacerdote no Brasil... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/09/29/quem-e-o-candidato-padre-kelmon-que-tem-chamado-atencao-dos-eleitores.htm?cmpid=copiaecola
Kelmon se apresenta como sacerdote da Igreja Ortodoxa... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2022/09/29/quem-e-o-candidato-padre-kelmon-que-tem-chamado-atencao-dos-eleitores.htm?cmpid=copiaecola

As diferenças entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Ortodoxa são várias, mas ambas são igrejas cristãs, com doutrinas semelhantes, como o respeito aos ícones e aos sete sacramentos.

Padre Kelmon - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Ligação do Padre Kelmon (PTB) com igreja ortodoxa é alvo de polêmica
Imagem: Reprodução/TV Globo

De acordo com Felipe Zangari, teólogo e mestre em ciências da Religião pela PUC-Campinas, os ortodoxos consideram que sua igreja tem cerca de dois mil anos, assim como os católicos. Isso porque Roma e Constantinopla, as sedes do Império Romano e, consequentemente, da igreja cristã, caminhavam juntas até 1054. Foi então que, na chamada Grande Cisma ou Cisma do Oriente, a Igreja Ortodoxa se separou da Católica e passou a não mais reconhecer o papa como autoridade e a renegar a infalibilidade papal.

Essa separação, na verdade, já vinha de longos conflitos, que se agravaram quando o imperador romano deixou Roma e foi para Constantinopla, no ano 330 d.C. Foi quando o bispo de Constantinopla passou a ter mais influência nas igrejas do oriente do que o bispo de Roma.

E as diferenças?

Quando falamos de Igreja Ortodoxa, na verdade, nos referimos a uma comunhão de 15 Igrejas Ortodoxas Autocéfalas, cada uma com o direito de resolver seus próprios problemas internos, como remover seus bispos e patriarcas. Todas elas, no entanto, mantêm em comum a comunhão canônica e sacramental plena umas com as outras.

E, como os ortodoxos não reconhecem o papa, eles têm como chefe espiritual o Patriarca de Constantinopla, que tem uma autoridade bem menor do que o do bispo de Roma.

A autoridade máxima entre os ortodoxos não está em uma única figura, mas no Santo Sínodo Ecumênico, formado pelos arcebispos-primazes das igrejas autônomas e pelos patriarcas chefes das igrejas autocéfalas e que são reunidos pelo Patriarca de Constantinopla.

A maioria das igrejas ortodoxas utiliza o rito bizantino em vez do rito latino que vemos nas missas da Igreja Católica Apostólica Romana. São várias as diferenças como a utilização do calendário juliano que tem 13 dias a mais do que o gregoriano. Com isso, os ortodoxos celebram o Natal no dia 7 de janeiro do calendário gregoriano.

Os padres se vestem de maneira diferente, homens casados podem ser ordenados e a missa tem outra liturgia. Quanto às imagens de santos, os ortodoxos não focalizam o uso realista da arte e preferem pinturas nas igrejas em vez de estátuas. Até a cruz é diferente, com três barras.

Há várias outras diferenças, sobretudo teológicas. E mesmo entre as igrejas ortodoxas existem singularidades.

Existe outra igreja ortodoxa?

Há um outro ramo de igrejas ortodoxas, chamadas de Igrejas Ortodoxas Orientais, que se separaram da igreja cristã no ano 451 d.C., após o Concílio de Calcedônia, por não aceitarem a doutrina das duas naturezas de Cristo, a divina e a humana.

No Brasil, esse ramo está presente por meio da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, em comunhão com a Igreja Ortodoxa Síria e seu patriarca.

O candidato Padre Kelmon utiliza insígnias próprias dessa tradição, mas não faz parte da Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia no Brasil e teria sido ordenado pela Igreja Ortodoxa do Peru, sem vínculos com o patriarcado sírio.