Abuso e cárcere privado: Pai revela traumas da mulher que matou noivo no DF
Durante mais de cinco anos, a ex-modelo e bacharela em direito Marcella Ellen Paiva Martins, 31, presa pelo assassinato do noivo em um motel do DF, viveu uma rotina de cárcere privado, agressões e abusos sexuais promovidos pelo ex-marido. A afirmação é do pai dela, o funcionário público Marcelo Martins de Araújo, 51, que diz acreditar que o crime tenha sido motivado por legítima defesa, uma vez que, em suas palavras, a filha "já não tolerava mais ser abusada".
"A Marcella é incapaz de fazer mal a alguém. Ela é um amor, uma filha linda, querida, carinhosa. Sempre foi muito inteligente, desde criança. Quando decidiu fazer direito, nós a apoiamos e ela foi vitoriosa, formou-se à base de muito estudo e dedicação", contou Marcelo, em entrevista ao UOL.
"Em 2013, porém, a vida dela deu uma guinada. Ela tinha 22 anos e conheceu um rapaz da igreja evangélica que frequentávamos. Ele era filho do pastor, tocava bateria na banda. Nós acreditávamos que ela seria acolhida com muito carinho e respeito. Mas ele tinha envolvimento com drogas, a gente não sabia. E ela foi arrastada para esse mundo de sofrimento".
Segundo Marcelo, a revelação se deu meses depois do casamento. Ele passou a se tornar cada vez mais ciumento e violento com ela. "Eles moraram um tempo conosco na Cidade Ocidental (GO) e depois se mudaram para Valparaíso (GO). Foi aí que o casamento deles começou a ruir. Ela se afastou, parou de ligar para nós. Um dia soubemos pelo noticiário que ela estava sendo vítima de violência doméstica", conta o pai de Marcella.
Marcelo lembra que, em 2016, foi noticiado que Marcella era mantida em cárcere privado pelo marido e agredida constantemente. O homem acabou preso em flagrante, mas o trauma teria deixado cicatrizes profundas na filha.
"Ela veio morar conosco um tempo, mas depois ele passou a persegui-la, difamando e ameaçando em todo lugar que ela ia. Então, ela ficou com medo de ele machucar a gente e foi embora, foi morar sozinha. Decidiu ir para São Paulo, onde tentou a carreira de modelo. Chegou a posar para uma revista, mas a carreira não deu certo. E ela já enfrentava um problema sério com drogas. Para se sustentar, tornou-se acompanhante de luxo".
Os pais de Marcella contam que fizeram de tudo para aconselhar a filha, convencê-la a buscar ajuda, oportunidades de trabalho mais seguras. Mas ela estava irredutível. "Como pais, só nos restava apoiá-la e observar seus passos para prestar apoio quando precisasse".
Conto de fadas moderno
Na opinião dos pais, a sorte de Marcella começou a mudar há dois anos quando ela conheceu Jordan Guimarães Lombardi, 40, um importante consultor empresarial de São Paulo.
Para os pais de Marcella, o romance entre os dois parecia coisa de filme. "Ele me chamava de 'papis' e a minha esposa de 'mamis'. Um homem gentil, educado, um verdadeiro cavalheiro. Depois de um tempo morando juntos, decidiram casar. Ele não pensou duas vezes. Saiu de São Paulo e veio até o Distrito Federal para pedir a mão dela em casamento. Assim, à moda antiga mesmo. Ele queria que ela esquecesse todo o sofrimento que passou", conta Marcelo.
"Ele me disse amar a Marcella, que ela tinha dado a ele uma sobrevida. Me contou que tinha pensado em se matar logo depois que se separou da esposa. Mas que a minha filha era o 'sopro de vida' que ele precisava. Para nós, ele também era o 'sopro de vida' que ela precisava. Estávamos empolgados para o casamento, que iria acontecer em janeiro".
Inchaço na hipófise
Marcelo revelou que a modelo estava em pânico após ter realizado um exame no hospital Albert Einstein, em São Paulo, que identificou um inchaço na sua glândula hipófise. O medo do câncer era um dos seus traumas, pois ela teve que fazer a retirada de um câncer de pele nas costas, no ano passado. Dois tios maternos morreram de câncer no cérebro e a avó materna também morreu com a doença.
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"Ela tinha verdadeiro pavor. Quando saiu o resultado da tomografia, o médico pediu que ela fizesse uma ressonância. Mas ela se negou, saiu correndo do hospital, com medo. Tudo isso foi acumulando dentro dela, o emocional dela estava muito abalado", contou o pai. "O que pode ter contribuído para o que aconteceu naquele quarto de motel".
Segundo Marcelo, a filha disse que o noivo a teria agredido fisicamente após consumirem por alguns dias uma quantidade grande de drogas (LSD, cocaína, maconha e anfetaminas). "Eles estavam fora de si. Quando ele a agrediu, ela não raciocinou. Pegou a arma que ela diz ser dele, que ele tinha comprado para 'resolver uma questão pessoal' e atirou", conta o pai, emocionado.
"Depois, ela só ficava repetindo: 'Eu matei o amor da minha vida. Eu matei o amor da minha vida'. Foi uma fatalidade, uma tristeza muito grande. Mas tudo indica que ela fez o que fez em legítima defesa".
Relembre o caso
O caso da bacharela em direito repercutiu nacionalmente por conta dos detalhes inusitados de sua fuga após a morte do noivo, atingido por um tiro de arma de fogo no olho, na madrugada do dia 9.
Após atirar contra Jordan dentro de um quarto de hotel em Brasília, ela teria fugido do local, nua e usando o veículo do noivo, um Audi Q7. Como o carro, que pertence à empresa da vítima, é rastreado, ele parou de funcionar cerca de seis quilômetros depois.
Segundo Johnny Cleik Rocha da Silva, advogado de Marcella, na tentativa de continuar fugindo, ela teria abordado duas vans escolares, sem sucesso, antes de "pegar carona" em um caminhão que a conduziu até Girassol (GO), onde o motorista, assustado, parou em um posto de gasolina e fugiu correndo. Cansada, ela decidiu se entregar.
O casal havia se conhecido há dois anos, em São Paulo, para onde a suspeita tinha se mudado em busca de "tentar a vida como modelo". Jordan trabalhava na capital paulista como sócio de uma empresa de consultoria empresarial norte-americana.
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