Patriotas ou black blocs? Como funciona tática que prega a desobediência
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) disseram, sem apresentar provas, que os atos de vandalismo em Brasília na noite de segunda-feira, 12, foram praticados por infiltrados e black blocs —termo que se popularizou como sinônimo de "vândalos" desde os protestos de 2013.
Até agora não houve prisões pela destruição de ônibus e queima de carros, e as investigações estão em andamento. Testemunhas disseram que responsáveis pelo tumulto não escondiam fazer parte do "movimento" que "luta pelo Brasil" e usavam camisas verde-amarelas.
A menção de apoiadores de Bolsonaro ao termo "black blocs" para caracterizar os atos de vandalismo alimentou as dúvidas sobre o que significa ser black bloc e como eles se organizam. Veja a seguir:
O que significa ser black bloc?
Os black blocs não são um grupo estruturado, mas sim uma tática que os manifestantes usam para se organizar em um protesto. Com inspiração anarquista, eles não têm um líder, representante, nem mesmo uma divisão hierárquica.
Já a escolha das vestimentas serve para garantir o anonimato dos manifestantes. Mascarados e usando roupas escuras, eles andam sempre juntos durante os protestos, caracterizados, de forma unificada, como um grande bloco preto —é daí que vem o nome black blocs.
Por não ser um grupo, mas sim uma tática, é difícil definir exatamente quem são as pessoas que a usam. Mas, no geral, a prática é realizada por indivíduos anticapitalistas.
Black blocs são vândalos?
A tática se baseia na filosofia da desobediência civil, que, de acordo com o Manual de Ação Direta - Black Bloc — espécie de treinamento a distância para os manifestantes — é definida como a "não aceitação de uma regra, lei ou decisão imposta", e no confronto direto contra símbolos capitalistas e outras instituições de repressão e poder.
Por isso, depredações de prédios, principalmente vidraças de bancos, concessionárias e construções públicas, como monumentos, relógios e sedes administrativas, normalmente fazem parte da tática de guerrilha dos black blocs.
Ainda de acordo com o manual, a violência é uma reação à opressão. "Lembre que o que eles fazem conosco todos os dias é uma violência, a desobediência é uma reação a isso e, portanto, não é gratuita", descreve o guia.
Entretanto, na opinião pública, tais gestos podem se confundir, de forma generalizada, com violência, caos ou desordem — ou seja, vandalismo.
Quando black blocs chegaram ao Brasil?
As primeiras ações parecidas com a tática black bloc foram identificadas no Brasil durante o Movimento Antiglobalização, no início dos anos 2000, em São Paulo.
Mas a estratégia se difundiu mesmo no país depois das manifestações de junho de 2013, contra o aumento da tarifa dos transportes públicos.
Os black blocs voltaram a aparecer em 2014, nas manifestações contra a Copa do Mundo, e em 2016, depois do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
E no mundo?
Foi a imprensa alemã ocidental que usou pela primeira vez o termo Schwarzer Block (em português, bloco negro) para identificar grupos de pessoas que se organizavam para enfrentar a repressão policial, no início da década de 1980. Na época, os ativistas lutavam contra a construção de usinas nucleares.
Da Alemanha, a tática se difundiu pelo resto da Europa. Chegou aos EUA em 1988, mas ficou conhecida somente onze anos depois, quando um grupo black bloc participou de manifestações contra o encontro da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Seattle.
Ao longo dos anos 2000, outras grandes manifestações black blocs ocorreram em Gênova, na Itália, Heiligendamm, na Alemanha, Toronto, no Canadá, e Cairo, no Egito.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.