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'Papai Noel' surpreende passageiros de app em SP: 'Já fui Coelho da Páscoa'

Do UOL, em São Paulo

19/12/2022 04h00Atualizada em 19/12/2022 12h11

O estudante de direito Marcus Rogério, 42, decidiu proporcionar uma experiência inusitada para os passageiros que pedem um carro por aplicativo na cidade de São Paulo. De dentro do carro, ele tem sido visto circulando vestido de Papai Noel e cumprimentando adultos e crianças, com direito a "ho, ho, ho" pela capital paulista.

Desde dezembro de 2020, a cada época de celebrações, o homem enfeita o próprio carro com diferentes temas e vive personagens icônicos durante as corridas. Segundo ele, a intenção do "Uber Temático", como chama o trabalho, é "tirar sorrisos" das pessoas.

A ideia começou ao final do primeiro ano de pandemia da covid-19. Marcus conta que, naquela época, ao observar a presença do Papai Noel em shoppings da cidade, ele pensou: como seria se o bom velhinho fosse o motorista que levasse as pessoas para todos os lados? Marcus, que trabalhou como motorista de ônibus por 12 anos e até então estava como colaborador da Uber há 2, resolveu vestir a fantasia e enfeitar o automóvel com decoração natalina.

"Eu resolvi sair de Papai Noel para ver como as pessoas iriam reagir e teve um bom resultado", diz ele ao UOL. Foi assim então que nasceu a ideia de criar o Uber Temático. "Depois vieram outros temas. Fiz do ano novo, aniversário de São Paulo, carnaval, páscoa, dia internacional da mulher, dia do indígena, dia das mães, festa junina, dias dos pais, dia das crianças, Halloween e depois voltei com o Papai Noel no volante."

Com a chegada de 2022, o calendário se manteve, mas com um adendo: a Copa Do Mundo. "Em um determinado ponto eu tava saindo de Papai Noel e de Copa do Mundo junto, mas aí o Brasil perdeu e voltei para o tema só do Natal."

Ao entrar no carro de Marcus, o passageiro tem uma experiência que foge à rotina. O carro é completamente decorado — dos bancos ao teto. O motorista se veste a caráter e até mesmo a música que toca na rádio é meticulosamente escolhida para que a experiência da corrida seja o mais fiel ao tema da ocasião.

"Eu faço meio de última hora, vem de coração. Eu faço a decoração e penso: aqui ficou bom, então é isso mesmo. É algo intuitivo. Eu compro as coisas na hora, acontece naturalmente", diz ele.

Atualmente dirigindo um carro da seção Black do aplicativo, Marcus afirma que chegou a ser alertado em um primeiro momento por outros colegas de uma possível rejeição dos passageiros da categoria que, segundo ele, têm perfil mais "executivo". No entanto, com o carro rodando a cidade, o resultado foi outro.

"Os motoristas do Black não fazem isso. Falaram que eu seria louco, porque só anda executivo no Black, pessoas que têm mais dinheiro, mas eu falei: amigo, para sorrir, todo mundo é igual. A aceitação me surpreendeu."

E é justamente para arrancar sorrisos que Marcus encontra motivação para continuar enfeitando as ruas e avenidas de São Paulo.

"As pessoas acabam ficando emocionadas de certa forma. Tem pessoas que passaram por algum problema, uma perda na família, ou que tá saindo de casa estressada e aí vê o carro todo decorado e isso muda o dia. Eu achava que a aceitação seria melhor na pandemia, quando as coisas estavam mais difíceis, mas não, continua tudo bem e por isso que eu continuo."

Entre as experiências marcantes, Marcus conta que já teve até a responsabilidade de receber carta de criança pedindo presente. A solicitação acabou virando uma campanha nas redes por um par de patins, entregue dias depois. "Foi uma coisa muito emocionante, tanto para mim para todos envolvidos na doação. E eu não esperava, mas foi muito gratificante ver o sorriso daquele garoto", lembra.

Durante os períodos mais críticos da pandemia, quando a vacina ainda não tinha sido distribuída amplamente no Brasil, Marcus diz que a experiência de dirigir o Uber Temático rendeu outras recordações especiais.

Foi uma coisa fora da curva. Muito emocionante porque eu senti que eu estava ajudando o próximo. Eram só algumas palavras de esperança, de mostrar que tem alguém que pode fazer algo por nós. Mas são essas simples ações que têm uma boa relevância na vida de alguém. Eu costumo brincar que não é só com dinheiro ou comida que se faz a caridade, mas também se vem do sorriso, de um abraço. Teve gente, depois das corridas, que falavam pra mim: olha, eu sei que a gente não pode se abraçar, mas eu posso te dar um abraço? E eu recebia, porque sabia que, de certa forma, eu fiz um bem para o dia da pessoa.
Marcus Rogério, motorista de app e Papai Noel

O motorista pretende em algum dia reunir as histórias e experiências que viveu durante estes anos em um livro. No entanto, ainda não tirou o projeto do papel. "Estou ainda fazendo a faculdade e é tudo muito corrido, mas está tudo guardado", diz ele.

Enquanto isso, dirigindo pelas ruas de São Paulo, Marcus continua colecionando histórias. "O que eu quero é tirar sorriso das pessoas. Se eu conseguir isso, tá bom."