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Após morte em ação da PM, secretário diz que confronto é o último recurso

Do UOL, em São Paulo

17/02/2023 04h00

O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse, em entrevista ao UOL, que o confronto entre policiais e criminosos deve ser o último recurso.

A declaração ocorre após uma ação de policiais da Rota que mataram um assaltante na semana passada, na zona sul da capital paulista. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.

O que Derrite disse na entrevista:

  • Que irá ampliar o programa de câmeras acopladas nas fardas dos PMs.
  • Que as forças de segurança irão focar as finanças do PCC no combate ao crime organizado.
  • Que foram intensificadas as operações para evitar que as drogas cheguem à Cracolândia.

Confira os principais trechos da entrevista:

Confronto é último recurso

Jamais vou estimular o confronto [entre policiais e criminosos]. Porque isso pode causar um problema para o próprio policial e para a sociedade.

Mas a gente sabe que, infelizmente, os criminosos partem para cima do policial. Eles estão ousados, armados. Toda vez que há um confronto, instala-se um inquérito policial militar. Por vezes, um inquérito na Polícia Civil também.

Assaltante morto pela Rota

Não precisa o criminoso sacar a arma e atirar no policial. Ao contrário do que alguns imaginam, o policial não tem que esperar tomar um tiro. A partir do momento que a pessoa faz a menção, a lei já dá o amparo para o policial evitar que o disparo aconteça.

Até que se prove o contrário, pelo que eu vi naquele vídeo, a ação dos policiais está dentro da legalidade. Não há motivo para afastá-los do serviço operacional.

O inquérito policial militar foi instaurado, vai ser apurado e eu não vou interferir nisso. Se eu fizesse isso, estaria cometendo uma irregularidade.

Câmeras nas fardas da PM

Vou ampliar o programa. Quando digo que vou rever é justamente para trazer uma nova funcionalidade, de permitir que faça leitura de placa de veículo roubado.

A gente vai aplicar [as câmeras nas fardas] em algumas modalidades de policiamento que ainda não possuem, como policiamento rodoviário, de trânsito e ambiental.

O policial ambiental tem uma área grande de atuação, em mata fechada. Então, é importante saber a geolocalização exata desses policiais.

Ações na Cracolândia

A ideia é evitar que a droga chegue até lá para abastecer quem compra na região. A Polícia Civil tem realizado apreensões de carregamentos de droga. E a Polícia Militar tem coibido as ações delituosas no entorno, como furtos e roubos de celulares.

Aqueles criminosos têm o costume de estourar os vidros dos carros para roubar objetos. Esses produtos são utilizados para venda no mercado ilícito e para sustentar o vício desses usuários. Gera um ciclo vicioso negativo que interage na Cracolândia.

Combate ao PCC

O combate ao crime organizado, sem que se faça um trabalho de asfixia financeira, é um trabalho que vai ser em vão. Por isso que sempre falei que o confronto não é algo desejado. É fazer o que os países desenvolvidos fizeram.

O tráfico é a maior fonte de renda da organização criminosa. Tem que ver onde esse dinheiro está sendo empregado, se existem empresas de fachada.

Atos golpistas de 8 de janeiro

Nada que aconteceu lá em Brasília não guarda qualquer relação com o que estava acontecendo aqui.

Todos os 34 acampamentos no Estado de São Paulo foram desmobilizados em seis horas de operação de forma pacífica, sem resistência.

Se houve omissão ou não por parte das forças de segurança [em Brasília], fica complicado falar. Isso está sendo apurado pela Polícia Federal. Quem cometeu o crime vai ser identificado e punido.

Indulto de Bolsonaro aos PMs que participaram do Massacre do Carandiru

Ao que me parece, o indulto natalino não fala sobre o Carandiru. Ele fala [em indulto para policiais presos por] eventuais crimes cometidos há mais de 30 anos no exercício da função ou em razão dela. Parece que o caso do Carandiru se enquadra no texto do indulto.

Sobre os policiais que participaram dessa operação... O nosso ordenamento jurídico tem que obedecer o princípio da individualização da conduta para condenar uma pessoa. O disparo saiu de qual arma?

Segundo relatos de especialistas e de juristas, não houve perícia para dizer [de onde os tiros saíram]. Então, eles alegam que feriu o princípio da individualização da conduta. Que policiais que nem sequer entraram dentro da casa de detenção estavam condenados a mais de 70 anos de prisão.

Flexibilização de armas no governo Bolsonaro

As armas que estão nas mãos dos criminosos não foram adquiridas pelos meios legais. E o que a gente visualizou em 2019 e 2020 [primeiros anos do governo Bolsonaro] foi uma flexibilização com a possibilidade do cidadão idôneo possuir uma arma de fogo na sua residência, para a autodefesa e uma queda do número de homicídios. Não estou dizendo que caiu o homicídio por isso.

Essa constatação serve para mostrar que a flexibilização de armas para pessoas idôneas não ocasionou o aumento exponencial de homicídios como alguns estudiosos diziam que iria acontecer.

Sou favorável à flexibilização para que o cidadão possa se defender e defender a sua família dentro de alguns critérios técnicos, para ver se ele possui capacidade técnica, com teste psicológico.

Áudio polêmico de 2015

Em 2015, em áudio revelado pela Ponte Jornalismo, Derrite disse que era "vergonhoso" um policial que não tivesse ao menos três ocorrências com morte na carreira.

O áudio não está dizendo que policial bom tem que ter três [mortes no currículo]. Mas, de fato, cometi um erro. Em 2015, era tenente da Polícia Militar. Policiais foram transferidos da Rota.

Falei numa conversa privada de WhatsApp, não foi uma declaração pública. Confidencialmente falei via áudio, dizendo: "O policial que vai para cima, que enfrenta a criminalidade, acaba sendo transferido.

E falei que a polícia na época tinha um critério. Que quem tivesse um número x de ocorrência em cinco anos estava sendo transferido. Não falei que policial bom é que tem que ter três homicídios em cinco anos.

De toda forma, já me retratei em 2015. Foi um erro que cometi, tomado por uma emoção de ver amigos e bons policiais sendo transferidos.

Não guarda qualquer relação com o Guilherme Derrite, hoje secretário da Segurança Pública. Se na época já me arrependi, imagina hoje. Era tenente, fui promovido a capitão, me tornei parlamentar com quatro anos de exercício de mandato. Muita coisa aconteceu na minha vida pessoal e profissional.

As pessoas querem vincular esse áudio como se eu tivesse falado isso na semana passada. Tem duas possibilidades: ou é um grande equívoco ou é uma desonestidade.