'Liguei para meu inquilino, não atendeu. A casa já havia caído sobre ele'
Quando a chuva do último fim de semana começou a apertar no litoral norte de São Paulo, Lydia Lopes, de 43 anos, não poderia imaginar que sua antiga casa seria atingida pela enxurrada.
Ela morou por muitos anos na Barra do Sahy, em São Sebastião, onde é coordenadora operacional da sociedade de amigos local. Hoje mora em Camburi, uma localidade vizinha.
O imóvel anterior, na Vila Sahy, fora alugado para a família de Nando Santos, conhecido como Madeirada, que morava com a namorada e a filha dela.
Lydia aproveitava o Carnaval na rua, no sábado, mas decidiu retornar para casa em Camburi por volta da meia-noite quando percebeu que o volume das chuvas era forte.
"Em Boiçucanga, a água já batia na porta do carro. Já tinha caído um pedacinho da serra de Camburi, mas conseguimos chegar em casa."
Por volta das 4 horas da manhã, o celular dela começou a apitar. Era um vizinho, Igor, mandando mensagens — ele pedia para ela chamar o Corpo de Bombeiros porque as casas dela e de uma amiga, Gisele, na Vila Sahy, tinham caído.
Uma árvore também havia atingido a residência de Igor.
Mandei mensagem para o meu inquilino perguntando o que estava acontecendo e não tive retorno. Liguei. Chamou, chamou, chamou. Ele não atendeu. Eu não sabia, mas ele já estava morto e a casa tinha caído em cima dele
Ela queria ir até lá ainda na madrugada, mas foi impedida pelo namorado — estava tudo escuro e chovia muito.
"Foi quando me avisaram que o morro cedeu e a casa caiu. Perguntei do Madeirada. Falaram que ele estava debaixo da lama sob os escombros."
Foi naquele momento também que ela soube que a vizinha Gisele não estava em casa e conseguiu escapar, mas o filho da amiga e a namorada dele, não.
O mundo da gente vai acabando. Todas as informações cessaram, ninguém tinha sinal de telefone ou internet, era muito desencontro de informação. No domingo, eu só conseguia chorar. Na segunda, consegui chegar ao meu trabalho e parecia um campo de guerra
Na Sociedade Amigos da Barra do Sahy, Lydia acolheu um de seus funcionários e a família inteira -- cerca de 20 pessoas.
José Lopes era avô de Levy Santos de Oliveira, de apenas nove meses. O bebê morreu na tragédia e foi sepultado na manhã desta terça.
Segundo Lydia, os corpos da namorada de Madeirada e da filha dela já foram resgatados e serão levados para São Paulo. O corpo de Madeirada foi para Salvador.
Não estamos pegando doações porque não temos espaço. Mas começamos uma arrecadação de dinheiro para a família dos funcionários e para tentar reconstruir o Sahy, que está totalmente sem água
Lydia explica que, em Barra do Sahy, há dois mercados. Ambos têm muitas filas e, nesta quarta, já havia prateleiras vazias. "Já não tinha mais nada de comer."
Em Camburi, onde Lydia mora agora, o volume de água também foi intenso. "Na minha casa encheu só a cozinha e a sala, consegui levantar as coisas. Eu moro em uma parte alta, a rua de baixo alagou e o pessoal perdeu muita coisa. Do Sertão de Camburi para dentro encheu muito."
No total, já são 48 mortos na tragédia no litoral norte de São Paulo e ao menos 57 pessoas continuam desaparecidas.
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