'Descobri o Brasil aos 22 anos': russa revela esquisitices que vê por aqui
Até os 22 anos, Valeria Fomina nem sabia direito onde o Brasil estava localizado. Nascida e criada na cidade russa de Togliatti, a mil quilômetros de Moscou e onde os termômetros marcam -10º C, ela decidiu ir ao Rio. O que era para ser só uma temporada se transformou em um plano de vida.
Hoje, aos 33, Valeria dá aulas de russo a brasileiros, conta curiosidades sobre seu país nas redes sociais e celebra as diferenças culturais e o acolhimento: "o brasileiro é muito mais receptivo, aberto e sorri mais".
Valeria diz que, quando criança, até aprendeu na aula de geografia onde estava a América do Sul, mas, como a família não viajava para fora, a ideia de chegar a qualquer país do outro lado do Oceano Pacífico parecia improvável.
"Geralmente uma pessoa na Rússia tem ideia do que tem no Brasil apenas por meio das novelas, que são bem populares lá. Então a gente meio que imagina que tem praia, o Cristo Redentor, samba e futebol, mas não sabe de mais nada, inclusive não é uma coisa que procuramos explorar ou saber."
Feijoada no calorão?
Depois de fazer um intercâmbio, conhecer outras culturas e ouvir o som do idioma falado por amigos brasileiros pela primeira vez, Valeria decidiu que queria aprender a língua e até comprou um livro de português para iniciantes.
Quando eu conheci brasileiros [em uma viagem à Inglaterra em 2011, aos 22 anos], comecei a me interessar pela geografia do Brasil e descobri que, na verdade, tem vários estados e climas diferentes
Ela queria conhecer de perto o país. Em 2014, chegou ao Brasil em pleno Carnaval e se hospedou no Morro do Cantagalo, no Rio. A ideia inicial era passar só seis meses.
Ao pisar no país, Valeria estranhou muitas coisas, entre elas, a comida.
"Comer várias guarnições, arroz, feijão, batata frita, às vezes macarrão com salada, tudo junto, no mesmo prato, é muito estranho", diz ela.
"Os russos acham que no Brasil, como é mais quente, os brasileiros comeriam coisas mais leves. Por lá, em dias quentes costumamos comer verdura, legume, fruta, mas quando cheguei e vi feijoada no calor de 40º C do Rio de Janeiro foi algo bem curioso."
Aliás, a forma como os brasileiros lidam com o calor e o frio também chamou a atenção da russa.
Em lugares quentes, como o Rio, quando a temperatura baixa um pouco, quando faz 25º C e começa a chover, as pessoas colocam bota, casaco, cachecol, gorro
"Com 25º C, 20º C na Rússia, consideramos verão, então usamos short, top, chinelo. Só colocamos casaco quando baixa para 15 ºC, 10º C", explica Valeria.
Água e eletricidade
Ela também se surpreendeu com o chuveiro brasileiro — e tem medo dele até hoje.
"Estudamos na escola que eletricidade e água não casam. Quando cheguei e vi o chuveiro elétrico pela primeira vez, a água saindo e o fio passando... deu medo. Na Rússia, a água usada em casa é aquecida pelo sistema central e já vem quente pelos canos."
'Minha flor', não
Já o hábito brasileiro de abraçar e beijar uma pessoa que acabou de conhecer — tão comum no Brasil — é impensável no país onde ela nasceu.
"Na Rússia, temos um grau de formalidade bem grande ao falar com as pessoas desconhecidas, você usa senhor ou senhora. Já aqui o tratamento é bem diferente. Falam 'meu amor, minha flor, minha filha'. É um intimidade muito rápida e estranha com as pessoas que não conhece, como vendedor da loja, motorista."
'Voltem para a Rússia'
Apesar da receptividade brasileira, Valeria diz que, no início da guerra contra a Ucrânia, recebia vários ataques nas redes sociais — ela tem um Instagram com mais de 240 mil seguidores.
Falavam 'voltem para Rússia, ninguém quer vocês aqui, vocês são assassinos, seu presidente é assassino'. Uma vez, presencialmente, um homem não quis me vender um produto por eu ser russa, foi uma situação muito chata
Segundo Valeria, essa situação melhorou um pouco à medida que menos pessoas falavam sobre o conflito.
"Mas toda vez que qualquer vídeo meu viraliza, mais pessoas novas chegam, sempre tem gente falando, 'fale para Putin sair da Ucrânia, vocês são assassinos'. Antes era mais fácil produzir conteúdo sobre a Rússia, hoje está mais difícil."
O trabalho
No Brasil, Valeria chegou a trabalhar em um hostel como recepcionista, mas o aumento de interessados em aprender russo fez a jovem deixar o emprego para se dedicar somente às aulas do idioma.
As turmas cresceram: hoje Valeria tem um instituto, chamado Rússia Brasil, onde também trabalham quatro professoras russas, que moram no Brasil. Elas dão aulas on-line para 150 alunos.
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