SP: 'Racismo está escancarado', diz delegada sobre mulher que imitou macaco

A delegada da Polícia Civil, Mônica Gamboa, afirmou que o caso da mulher que imitou um macaco em direção a três mulheres negras no shopping Open Mall The Square, na Granja Viana, bairro nobre de Cotia (Grande São Paulo), se configura como crime de racismo. A mulher identificada como Thaís Nakamura, 40, será indiciada e interrogada na segunda-feira (17).

O que se sabe

Delegada disse que está convicta de que houve crime de racismo, após ter tido acesso às câmeras de segurança. Além de imitar um macaco, Thaís proferiu ofensas a três mulheres negras em um restaurante.

Este tipo de crime é inafiançável e tem como pena de dois a cinco anos de reclusão. Agora, a polícia espera que Thaís compareça ao 2º DP de Cotia na segunda-feira.

Pelo vídeo, temos os gestos, a conduta racista não é só verbal. Quando ela dança imitando macaco já demonstra uma conduta discriminatória. As outras provas são os depoimentos das vítimas. As quatro [vítimas] foram ofendidas. O racismo já fica escancarado. Mônica Gamboa, delegada de polícia

Outro lado: O UOL procurou a defesa de Thaís Nakamura, mas não obteve retorno até o momento.

A mulher havia consumido bebidas alcoólicas no restaurante em que estava com o marido, segundo a delegada. Conforme a polícia, a nota fiscal da mesa onde Thaís estava mostra que foram compradas no restaurante dez cervejas de 600 ml, ao custo de R$ 210.

Thaís Nakamura é investigada por imitar macaco a três mulheres negras em shopping
Thaís Nakamura é investigada por imitar macaco a três mulheres negras em shopping Imagem: Divulgação

Investigação

Gerente de restaurante foi ouvido nesta sexta-feira, diz delegada. Na semana passada, o garçom também foi ouvido pela polícia.

Continua após a publicidade

Os depoimentos foram imprescindíveis para confirmar a autoria do crime, ainda de acordo com a delegada.

Eles falaram que não sabiam que tinha acontecido algo dessa gravidade, souberam que havia uma animosidade. O gerente colocou a Thaís em outra mesa. O garçom viu ela imitando macaco. Mônica Gamboa, delegada de polícia

A polícia chegou à identificação da mulher por meio do trabalho da perícia.

Tivemos que fazer uma edição com a aproximação de imagem e mandamos para a perícia. Ela foi identificada com o reconhecimento facial. A perícia nos mandou as imagens e chegamos à mulher.

As testemunhas relataram à polícia que o marido da mulher que proferiu as ofensas racistas é um homem de origem japonesa — o que ajudou a polícia a identificar a mulher cujo sobrenome é Nakamura.

O que me chamou a atenção é a proporção do comportamento da autora. Me parece que é o comportamento de alguém que já tem hábito de fazer isso [crime de racismo]. O vídeo já é suficiente para indiciar alguém pelo crime de racismo, mas minha convicção é pelo conjunto dos atos.
Mônica Gamboa, delegada que investiga o caso

Continua após a publicidade

O registro do caso foi feito pela filha de uma das vítimas que, segundo a delegada, ficou indignada com as ofensas. "As três mulheres disseram que já estavam acostumadas com essa situação."

O que dizem as vítimas

À policia, uma das vítimas disse que convidou as irmãs e uma amiga no dia 8 de julho para assistirem a um show no shopping de Cotia porque "estavam tristes" com a morte do pai — que segundo ela, havia morrido há pouco tempo.

Durante o depoimento, a mulher disse que ao namorado uma mulher branca perguntou o que ele estava fazendo no "meio de negros." Ele pediu, então, que a mulher branca repetisse o que havia falado. Dessa vez, na frente da namorada. Ela teria se negado.

Ao ir ao banheiro, a vitima passou perto da mulher branca. Na volta, ela disse que percebeu que a mulher a chamou de macaco. "Parei, olhei para atrás e perguntei se realmente ela estava incomodada e ela gesticulou que sim e disse 'É isso mesmo'".

Ao voltar para a mesa e relatar aos familiares e amigos o que ocorreu, a mulher afirma que todos olharam para a mulher branca, que voltou a gesticular, imitando um macaco.

Continua após a publicidade

Neste momento, peguei meu celular e fui até ela perguntando e gravando se ela estava incomodada e xingando-a de 'ridícula' enquanto o garçom tentava me segurar e minha amiga gritava 'racista'. Vítima de racismo

Outra vítima relatou à polícia que a mulher branca se referiu a elas chamando-as de "lindas" e "corajosas" em tom irônico.

Senti uma mão no meu ombro e vi que era uma moça branca e loira me falando 'vocês são lindas e corajosas de estarem aqui'. Até então, entendi como um elogio e agradeci. Depois disso comentei com minha amiga o que a moça branca havia falado e minha amiga me afirmou que a moça era racista e estava falando com ironia.
Vítima de racismo

Irritada após o ato racista, a vítima disse que se dirigiu até a mulher branca e a chamou de "linda". A mulher teria, então, tentado agredir a vítima, que disse em depoimento que a agrediu com um tapa "para se defender"

A amiga das vítimas que presenciou os fatos disse que tentou gravar a mulher branca imitando um macaco mas não conseguiu.

O companheiro da mulher branca que imitou um macaco chegou a se desculpar pelo ato racista, segundo o marido de uma das vítimas.

Continua após a publicidade

Concluímos que ela já estava sendo racista com nossa família em falas junto ao seu marido, porém, ele não conseguia controlar a sua esposa. Fui até ele e pedi que, se ele não conseguisse tranquilizá-la, que ele fosse para outra mesa porque ela estava nos ofendendo e que isso era crime contra toda minha família. Marido de uma das vítimas

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.