Derrite diz que ouvidoria fala em 10 mortos por erro de 'interpretação'
Do UOL, em São Paulo
31/07/2023 14h44Atualizada em 01/08/2023 12h11
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, voltou a dizer que foram 8 mortos na operação deflagrada no Guarujá (SP) ontem após a morte de um soldado da Rota. Para ele, a posição da Ouvidoria da Polícia de SP de sustentar 10 mortes nos confrontos ocorre por um erro de "interpretação de texto".
O que disse o secretário?
"É só pedir pro pessoal da ouvidoria ler os B.O.'s". Em entrevista a GloboNews, Derrite disse que se trata de uma "questão puramente de interpretação de texto" porque houve dois policiais feridos em toda a ação —um deles foi o agente da Rota que morreu.
"Não foram 10 indivíduos, foram 8 mortos e 10 presos em flagrante". O secretário afirma que os mortos foram atingidos em oito diferentes confrontos e que não aceitaram se entregar à polícia, segundo a versão contada pelos PMs que participaram da ação. "Nós acreditamos nos policiais", completou.
Eles estão contabilizando a questão dos dois policiais militares que foram atingidos nos disparos, só tem essa explicação. Não tem nenhuma outra.
Guilherme Derrite à GloboNews
As imagens das câmeras dos uniformes serão disponibilizadas após solicitação do Ministério Público ou do Poder Judiciário, acrescentou Derrite.
Nenhum ministro do governo federal entrou em contato, disse o secretário da SSP ao ser questionado. "Mas estamos à disposição", afirmou.
Ouvidoria diz olhar com "preocupação" para operação
No entanto, a Ouvidoria da Polícia de SP sustenta que houve 10 mortos com base nos boletins de ocorrência. Em nota divulgada no início da tarde, o órgão afirma que recebeu "relatos de uma atuação violenta por parte das forças de segurança no local, que contabiliza até este momento uma dezena de mortes".
Também há relatos de "execução, tortura e outros ilícitos nas ações policiais na região" após a operação, segundo denunciado por moradores a órgãos de direitos humanos e movimentos sociais, diz a Ouvidoria.
A morte violenta do soldado PM e dos civis são inaceitáveis. Nada, nem nenhuma assimetria se justifica quando se clama por justiça e segurança para todos. Oportuno salientar que, a responsabilização dos envolvidos é necessária, como medida de justiça, nos termos da legislação brasileira.
Trecho de nota da Ouvidoria sobre a operação no Guarujá
Morte de PM e retaliação violenta
O soldado Patrick Bastos Reis foi assassinado durante patrulhamento na comunidade Vila Zilda na noite da quinta-feira (27). A retaliação chegou ao ápice no domingo, quando oito suspeitos foram mortos na chacina.
Ele trabalhava com colegas do 1º Batalhão de Choque quando o grupo foi "atacado por criminosos armados que efetuaram disparos de arma de fogo", segundo a SSP.
Além de Patrick, um cabo também foi atingido por um tiro e levado a uma UPA da região. Ele não corre risco de morte.
Uma operação para identificar os suspeitos do crime foi iniciada ainda na quinta-feira e equipes da Segurança Pública seguiram para o litoral na sexta-feira, na Operação Escudo.
O suspeito de atirar contra o policial foi preso ontem, segundo Tarcísio de Freitas. Antes de se entregar, ele usou as redes sociais para pedir que "parassem a matança"
Moradores relataram abuso policial
O UOL teve acesso a áudios em que moradores do Guarujá afirmam que agentes da Rota encapuzados invadiram casas nas comunidades.
Segundo os relatos, os policiais também teriam torturado um dos mortos, que estaria com marcas de queimaduras de cigarro no corpo.
Moradores acusam ainda os policiais de terem forjado flagrantes. Outro relato é de que uma das vítimas mortas seria uma pessoa com esquizofrenia.
Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, o governo não "recebeu nenhum documento oficial, nenhum indício, muito menos de materialidade de qualquer tipo de abuso praticado por agentes públicos", disse hoje à CNN.
Derrite acrescentou que "para nós, não passa apenas de narrativas, até porque o crime organizado obriga moradores a prestarem denúncias nesse sentido. Tudo que for falado nesse sentido, será objeto de apuração com a maior transparência", afirmou.
As denúncias são acompanhadas pela Ouvidoria das polícias, pela Comissão de Direitos Humanos da Alesp e pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.