Conteúdo publicado há 10 meses

'Estão despreparados; basta dessa violência', diz avô de Eloá, morta no Rio

O avô da menina Eloá da Silva dos Santos, morta em uma ação da PM na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, disse que a Polícia Militar está despreparada para fazer o policiamento em determinadas áreas do estado e pediu o fim da violência que atinge crianças e adolescentes.

O que aconteceu:

A família de Eloá se divide para viver o luto e cuidar dos trâmites do enterro da menina — marcado para a manhã da segunda-feira (14). Em meio à dor, o avô, Fábio Santana da Cruz, cobrou justiça e responsabilização da "pessoa que deu o tiro" na menina. Moradores da região acusam a PM pela morte de Eloá e do adolescente Wendell Eduardo, 17.

O avô da menina disse ainda que gostaria que o Estado desse "uma resposta" às famílias que perdem crianças e adolescentes. "Estão despreparados. Não é o primeiro caso de criança que morre [em ação policial]. Está na hora de dar um basta nessa violência. O que nos resta é ir nos conformando. Mas é muita dor."

Eloá e Wendell foram mortos ontem durante uma ação policial na Ilha do Governador. A garota morreu enquanto brincava dentro de casa. Segundo monitoramento realizado pela ONG Rio de Paz, nos dois últimos anos, 16 crianças e adolescentes foram atingidas por arma de fogo. No ano passado, foram 11 crianças e adolescentes mortos, dez deles atingidos por balas perdidas, segundo a entidade.

Família abalada

O corpo de Eloá foi liberado para enterro por volta das 12h, mas a família foi informada que o velório e o sepultamento ocorrerão na segunda-feira (14). O pai da menina, segundo familiares, está "muito abalado".

"Estamos todos juntos aqui. Não estamos nem lembrando do Dia dos Pais. Estamos apoiando e acalmando ele, tentando fazer ele entender. A irmã mais velha dela, de 8 anos, já está entendendo um pouco porque viu o pai chorar. Ela consolou o pai dizendo que a irmã está céu", disse o avô da garota.

O avô disse que a menina era "a alegria da casa". "Quando eu chegava do trabalho, o primeiro abraço que eu recebia era o dela", afirma. "Quando ela passava uns dias sem me ver, já batia aquela sensação de vazio."

Fábio lembra que a mãe de Eloá mandou a menina se abaixar quando ouviu o barulho dos tiros na comunidade. "Logo em seguida, a irmã mais velha ouviu ela [Eloá] gritar 'ai, mãe', mas não deu tempo de salvar.

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O avô relata que a mulher chegou a se sentar com a filha no colo, enquanto os vizinhos saíram em busca de ajuda. "Cheguei do trabalho e fui para o hospital com aquela esperança, mas ela já estava sem vida."

O que dizem a polícia e o governo

A Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro afastou, no início da noite de ontem, o comandante do 17º BPM (Batalhão da Polícia Militar) da Ilha do Governador. A medida foi tomada para "dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos", disse a secretaria, por nota.

O governo do estado Rio informou que investe nas forças de segurança, "principalmente em tecnologia e treinamento". "Na atual gestão houve redução histórica dos crimes contra a vida. No acumulado de 2022, foram registrados os menores números de homicídios dolosos (intencionais) e de letalidade violenta em 31 anos, desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública.

Segundo a PM, "não havia operação policial no interior da comunidade." A corporação disse também que "o comando da unidade instaurou um procedimento apuratório para averiguar a conjuntura das ações e a corregedoria da corporação acompanha os trâmites." Segundo a PM, as imagens das câmeras corporais dos policiais serão disponibilizadas para auxiliar as investigações.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e 37ª DP.

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