Quem é o MC de 'proibidões' preso como suspeito de integrar milícia no RJ
Maurício Businari
Colaboração para o UOL
15/09/2023 11h01
A polícia prendeu na manhã de ontem (14), no Rio de Janeiro, Leonardo Felipe da Silva, o MC Léo Zika, suspeito de participar da milícia liderada por Zinho, Luís Antônio da Silva Braga. Segundo a polícia, Léo Zika publica nas redes sociais músicas que exaltam o grupo liderado por Zinho.
Apesar de ser uma figura constante nas festas realizadas na periferia da Zona Oeste do Rio de Janeiro, região controlada por Zinho, o MC mantém uma presença discreta nas redes sociais. Quase não se encontram fotografias e vídeos com seu rosto, e muito do material é o que acaba sendo compartilhado por outros perfis, de simpatizantes do movimento.
Os policiais apreenderam uma pistola, carregador e munições que estavam com o MC. Após os procedimentos padrões, o suspeito foi encaminhado ao sistema prisional e está à disposição da Justiça.
Léo Zika compõe funks chamados de "proibidões", com letras que, segundo a polícia, exaltam o crime, o uso de armas e a guerra entre facções, geralmente com linguagem ofensiva. Suas músicas podem ser encontradas em plataformas de streaming gratuitas, como SoundCloud, YouTube e TikTok.
Eles surgiram nos anos 90 e suas letras exaltavam feitos de integrantes das facções ligadas ao narcotráfico. Atualmente, esse tipo de funk caiu no gosto dos integrantes das milícias armadas, que antes perseguiram os MCs e DJs que faziam esse tipo de música.
Os arts. 286 e 287 do Código Penal dizem que é crime "incitar, publicamente, a prática de crime" e "fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime". O art. 33, §2o, da lei 11.343/06 diz que é crime "induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga".
As letras dos funks
"Infelizmente sou a segunda geração. No Antares e no Rodo a milícia foi a solução. E na Três Pontes CLL deixou ciente. Tá com medo, sai da vida, mas tem que ter um de frente. O papo é reto só pra quem não se esconde. Cezarão e a Cacique e o QG sempre foi das Três Pontes. E lá no aço o 01 mandou o recado", diz trecho da letra do funk "A Solução", referindo-se às comunidades sob comando das milícias.
"Deu 7 horas que mudou o plantão, descansa secretário, quem assume é o Lobão. Se o pau quebrar, o menor dá o pesadão. CTKs e 62 e AR, já chegou o monstrão. E no atalho, o Alemão tem consciência que na tropa do G3 é serviço inteligente", canta o funkeiro em outra parte da letra, com claras referências a membros da facção e a armamentos pesados.
Outro funk disponível ao público é intitulado "Tropa do Barbante". A letra repete a fórmula anterior, com referências a membros do grupo e a armamentos:
"Mas o fornecedor de armas das Três Pontes fica doido porque toda semana o Faustão quer fuzil novo. E o Zinho tá milionário e deixou na condição. O Naval faz os contato, manda vim a munição. Meu informe do Deltão joga o drone pro céu. É 60 no jiraya e 120 no ladrão. Tropa do Barbante vai escutar Glock rajada. Nós é relíquia da famosa Família Braga".
"Protetores das comunidades"
Os membros da "Família Braga", que é um dos nomes da milícia comandada por Zinho, se autoproclamam como "protetores das comunidades". Usando a sigla CL 220, seus membros usam perfis no X, antigo Twitter, para se comunicar e denunciar ações de facções rivais.
A bandeira que nós levantamos diz muito sobre o que somos e sobre o que acreditamos. Ética, caráter, princípios, hierarquia, entre outros exemplares (sic) a qual tivemos a honra de aprender com nossos professores, acima de grupo paramilitar, nós somos a Família Braga. A família que já matou a fome de muitas outras famílias, o estado não reconhece, mas estamos todos os dias mostrando na prática que queremos o melhor para nossas comunidades e moradores. Honra aos nossos professores, gratidão eterna, CL e ECKO pela lenda que vocês são e pelo legado que deixaram aqui na terra, gratidão ao irmão que deu continuação ao legado da sua família e a todos que temos a honra de que fazemos parte da mesma família
Comunicado da milícia comandada por Zinho e postado no X, antigo Twitter
Zinho é o terceiro integrante da família Braga a assumir o controle do grupo. Seus irmãos Carlos Alexandre da Silva Braga, o Carlinhos Três Pontes, e Wellington da Silva Braga, o Ecko, foram mortos em operações policiais em 2017 e 2021, respectivamente.
O UOL entrou em contato com a Polícia Civil do Rio de Janeiro para obter mais informações, mas até o momento o órgão não havia respondido aos questionamentos.
Em nota, o TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro) informou que o processo com o nome do MC não foi localizado.
Pode ser por estar ainda em fase de inquérito ou tramitar em segredo de justiça, situações em que não aparece na busca. O nome informado também não consta até o momento na pauta de audiências de custódia de hoje
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em nota
O UOL não conseguiu localizar a defesa do MC Léo Zika.