Militantes bolsonaristas xingam alunos e são acusados de vandalizar Unifesp

Dois militantes identificados como bolsonaristas vandalizaram um painel artístico, tentaram invadir um espaço estudantil e hostilizaram professores, alunos e servidores do campus de Osasco da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) na última quarta-feira (20), segundo relataram membros da universidade.

Vídeos mostram as discussões e um dos militantes tentando entrar no centro de convívio estudantil, carregando tinta branca para pintar as manifestações. Também é possível vê-lo xingando os estudantes da Unifesp.

O painel depredado fazia parte de um projeto de extensão chamado "Unifesp mostra sua arte". Com tintas brancas, os agressores apagaram mensagens que falavam sobre diversidade e liberdade sexual. Eles também tentaram depredar um mural em homenagem a Marielle Franco e outras figuras feministas, mas foram impedidos por cerca de 20 alunos, na versão dos universitários.

Segundo o professor Rodrigo Medina Zagni, chefe do departamento de Relações Internacionais da Unifesp, a confusão aconteceu no prédio da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios por volta das 14h30. Ele estava em sala de aula quando alguns alunos do Diretório Acadêmico do curso de RI o procuraram pedindo ajuda.

Zagni conta que interrompeu a aula, desceu e abordou os militantes, que não estudam no local. Eles contestavam a homenagem a Marielle Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro, em 2018, e questionavam por que não havia também homenagens naquele espaço a Jair Bolsonaro (PL), com quem diziam se identificar, segundo o relato.

Em um vídeo gravado pelos alunos, um dos militantes, que usava uma camisa em que um cachorro defecava um símbolo do comunismo, acusa a instituição de fazer propaganda política. Estudantes contam que ele se queixava por pagar para a universidade "disseminar o lulismo".

Zagni afirma que os invasores foram convidados a se retirar, mas reagiram de forma agressiva.

Eles claramente estavam incitando um enfrentamento físico. Apesar de provocados, os estudantes perceberam a situação e não entraram na onda. Ficaram bem tranquilos e firmes e não deixaram que outros lugares fossem invadidos e depredados.
Rodrigo Medina Zagni, professor da Unifesp

De acordo com Zagni, os militantes carregavam latas de tinta e instrumentos de pintura, como é possível ver nos vídeos.

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"Eles também diziam palavras de ordem contra pessoas gays e lésbicas. E criticavam a existência de um mural que exaltava o movimento LGBTQIA+. O ambiente universitário, por natureza, é um espaço plural e democrático, inclusive para pessoas LGBTQIA+. Havia lá vários painéis e, se eles quisessem contestar alguma obra, poderiam fazer de outras formas. Nada justifica a entrada violenta no campus", disse o professor de RI.

Diante da resistência em deixar o local, a Polícia Militar foi acionada, segundo o professor, mas levou cerca de 50 minutos para chegar. Zagni conta que o diretor acadêmico do campus, Celso Takashi Yokomiso, foi "violentamente hostilizado" na frente dos policiais. No vídeo é possível ouvir os xingamentos.

Ao menos duas servidoras também foram xingadas. Uma bibliotecária e uma técnica de administração ouviram, por exemplo, que eram "burras" demais para passar em concurso público.

Zagni afirma que os militantes não foram conduzidos para a delegacia. Saíram de lá e compartilharam o vídeo da confusão em suas redes sociais.

As testemunhas não souberam dizer se os agressores eram maiores de 18 anos.

Em sua página no Instagram, um dos militantes se descreve como liberal na economia, conservador nos costumes e diz que gosta de questionar "esquerdistas sem noção". Também se define como defensor do porte de armas, contra o aborto e tem diversas fotos ao lado de políticos bolsonaristas, como o senador Marcos Pontes (PL-SP).

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Zagni e o diretor acadêmico do campus compareceram, no dia seguinte, à 1º Delegacia de Polícia de Osasco para lavrar um boletim de ocorrência. A Polícia Federal também foi acionada, já que se trata de uma universidade federal.

As testemunhas pedem que os agressores sejam identificados e que os equipamentos apreendidos passem por exame policial técnico.

"A faculdade, que era para estar em um dia normal, parou. É muito triste ver um cara vir quarta-feira à tarde para incomodar estudantes, professores e servidores. E esse foi só o começo. Fizeram o mesmo em Guarulhos há alguns dias, mas lá os estudantes estavam em maior número e acabaram expulsando os dois", disse Lucas Biagini, estudante e integrante do Diretório Acadêmico do campus.

Por meio de nota, a Unifesp informou que "nos dias 12 e 20 de setembro teve seus campi Guarulhos e Osasco, respectivamente, invadidos por pessoas que buscam projeção e visibilidade em mídias sociais. A Unifesp e as direções acadêmicas dos campi estão tomando medidas junto às autoridades competentes para encaminhamento de providências." E declarou que "condena veementemente qualquer tipo de violência física, verbal ou simbólica e atuará visando preservar a segurança e a integridade do ambiente e dos espaços acadêmicos para toda a sua comunidade."

Outros ataques a universidades

Recentemente, outros casos de agressão e hostilidade contra alunos e funcionários de universidades aconteceram no país. No início deste mês, o prédio da reitoria da UFPR (Universidade Federal do Paraná) em Curitiba foi invadido por oito pessoas que diziam ser membros do MBL (Movimento Brasil Livre). Uma funcionária que tentou evitar a invasão recebeu um soco no estômago de um dos agressores.

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O movimento afirmou que, nesse caso em Curitiba, "os alunos correram atrás de integrantes do MBL para intimidar e agredir".

Em julho, outro integrante do MBL, que dizia "investigar" o que acontece na universidade, invadiu um prédio da reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina para promover pichações sem autorização. Diante da resistência dos estudantes, houve uma confusão generalizada que acabou em confronto. Já o MBL classificou as agressões a um de seus membros, João Bettega, como "tentativa de homicídio".

O UOL entrou em contato com a PF e aguarda um posicionamento.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que informava a primeira versão da reportagem, Rodrigo Medina Zagni é chefe do departamento de Relações Internacionais da Unifesp, e não Relações Institucionais. O texto foi corrigido.

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