Conteúdo publicado há 5 meses

Advogado cita 'protesto' após pedir adiamento de audiência para fazer sexo

Um advogado faltou a uma audiência após a Justiça de Goiás ter negado o pedido dele para o adiamento da sessão sob a justificativa de ter um encontro para fazer sexo. Depois da negativa e da repercussão, o advogado alegou que a ação foi um "protesto".

O que aconteceu

O advogado, identificado como Manoel Bezerra Rocha, responde a um processo após ter supostamente ofendido uma desembargadora do TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás). Ela negou um pedido de habeas corpus de uma cliente dele.

O homem deveria ir à audiência do caso prevista para ocorrer na quinta-feira (23) e não compareceu. Apesar da ausência, o UOL apurou que a sessão ocorreu com a presença da desembargadora.

No site da Justiça de Goiás consta que a solicitação de adiamento foi realizada na quinta sob argumento de "tratamento de saúde". No documento, obtido pelo UOL, o advogado diz que sofre com os danos da "Covid Longa" e alega que médicos e cientistas "recomendam a prática do prazer sexual com fator preponderante que contribui para com a saúde física e mental do ser humano".

Visando contribuir para com esse caso essencial de saúde pública e, nesse particular, aterrissa hoje (23/11/2023), a maior autoridade em termos de sexo satisfatório do mundo. Ou seja, a extraordinária Paloma. Em razão de sua disputadíssima agenda, torna-se inviável o adiamento desse 'tratamento terapêutico' ao qual este Querelado [réu] deva a ser submetido. Advogado Manoel Bezerra Rocha em pedido à Justiça

Rocha ainda anexa no documento uma suposta conversa com a mulher do encontro, que só teria a quinta-feira (23) disponível.

O advogado chega a afirmar ser necessário que ele seja submetido "aos cuidados personalíssimos da extraordinária Paloma, a fim de ser alcançado o resultado que se espera."

É dizer: a parte Querelada [réu], justificadamente, necessita de todo o dia (e se Deus ajudar para que ele não falhe, toda a noite) a fim de se dedicar à prática do coito, ou seja, o sexo - vulgarmente também conhecido como 'trepada' - para que seja possível dar a continuidade de seu tratamento terapêutico (físico e psíquico) que a sua atual condição de saúde (física e mental) exige.
Advogado Manoel Bezerra Rocha em pedido à Justiça

Após repercussão, advogado cita 'protesto'

Ao UOL, o advogado apontou que enviou o pedido de adiamento e faltou a audiência como "protesto". Ele alega que a desembargadora, que não teve o nome divulgado, teria faltado três vezes às audiências e teve as solicitações aprovadas pelo juiz do caso.

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Rocha também declarou que o processo contra ele não deveria existir. De acordo com ele, "faltam requisitos formais básicos para o seu prosseguimento".

Sobre o suposto o encontro com uma "profissional do sexo", ele disse não saber "de onde tiraram isso". Ele esclareceu que uma amiga, que não é garota de programa, fez o envio das mensagens a pedido dele.

Ele também negou que ofendeu a desembargadora e disse que houve, "infelizmente, uma péssima interpretação de texto". "Porém, como percebi que o meu escrito poderia gerar equívocos, imediatamente, em menos de uma hora, protocolei nos autos o meu expresso pedido de desculpas e, no mesmo documento, enalteci a grandeza e o respeito pela nobre desembargadora."

Eu simplesmente quis fazer um protesto em forma de deboche contra um magistrado que não respeitou a legislação, que está agindo contrariando suas próprias decisões. (...) [Minha amiga] não é garota de programa e apenas fez o envio das mensagens a pedido meu para que eu pudesse fazer um protesto, de forma jocosa, contra a falta de seriedade do juiz que conduz o processo contra mim. Eu não poderia comparecer à audiência depois de tantas irregularidades e arbitrariedades, pois, penso, eu estaria convalidando todos esses atos juridicamente inaceitáveis.
Advogado Manoel Bezerra Rocha

Justiça e associação condenam declarações

Nesta sexta-feira (24), o TJ-GO emitiu nota de repúdio e classificou as declarações do advogado como "inaceitáveis".

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A Justiça ainda afirmou que as decisões judiciais podem ser questionadas através de recursos próprios e adequados. "A deliberada agressão, com utilização de termos que demonstram violência e desrespeito às magistradas e aos magistrados, é um ataque ao Poder Judiciário, além de violar o Estado Democrático de Direito, o que é inadmissível."

O TJ-GO também disse esperar que providências estejam sendo tomadas pela OAB-GO (Ordem dos Advogados do Brasil da Seção de Goiás). A reportagem procurou a seção, mas não obteve retorno. A matéria será atualizada tão logo haja manifestação.

O documento protocolado por Rocha "não tem qualquer embasamento legal, com termos altamente desrespeitosos", afirmou a Asmego (Associação dos Magistrados do Estado de Goiás).

A associação disse que providenciou representação solicitando a suspensão do direito de advocacia do advogado. O documento foi encaminhado ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e à OAB, estadual e federal.

A assessoria jurídica da Asmego recebe com tristeza essa situação. Entendemos que esse tipo de agressão não contribui para o Judiciário, colocando em xeque a própria advocacia. A população precisa do Judiciário e atos como esse tentam apenas descredibilizar a instituição.
Advogado Felipe Crosara

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