Zinho foi denunciado por pagar R$ 20 mil para não ser preso em 2017
Identificado pela polícia como líder da maior milícia do Rio, Luis Antonio da Silva Braga, o Zinho, foi denunciado por pagar R$ 20 mil em dinheiro, em um envelope, a policiais para evitar a sua prisão em 2017. Ele foi preso ao se entregar à PF no domingo (24).
O que aconteceu
Zinho estava em um carro importado avaliado em R$ 400 mil quando foi abordado por policiais civis em janeiro de 2017 em um terreno em obras, segundo a denúncia. Os agentes estavam em Campo Grande, reduto da milícia na zona oeste do Rio, para cumprir um mandado de prisão — que não era em nome dele.
Durante a abordagem, Zinho se identificou como irmão de Carlos Alexandre da Silva Braga, ainda de acordo com a denúncia. Na época, Carlinhos Três Pontes, como era conhecido o irmão de Zinho, chefiava o grupo paramilitar.
Inicialmente, ele disse que o terreno pertencia ao pai dele — mas mudou a versão. Uma retroescavadeira que estava no local foi apreendida.
Depois de ser abordado, Zinho foi levado para a delegacia em uma viatura. Além dele, outros dez trabalhadores da obra também foram detidos pela Polícia Civil, diz o documento.
Dentro da delegacia, Zinho ofereceu pagamento de R$ 20 mil para que fosse liberado. Ao ser informado que o homem detido era o irmão de Carlinhos Três Pontes, um dos agentes tentou, sem sucesso, convencer os colegas a liberá-lo imediatamente.
O dinheiro foi dividido entre quatro agentes e também custeou serviços na delegacia, segundo a denúncia. Os casos envolvendo corrupção de policiais foram publicados pelo site Fatos Policiais e confirmados pelo UOL.
A defesa de Zinho não foi localizada para se manifestar sobre o episódio. Caso haja posicionamento, o texto será atualizado.
Trinta minutos depois [da negociação com um dos policiais na delegacia], um funcionário de Zinho voltou com um envelope de R$ 20 mil (...). [Os quatro policiais que aceitaram o pagamento] entraram em uma viatura e dividiram o dinheiro. [20% do valor] ficou guardado em um armário (...). [O dinheiro era usado] para pagar a faxineira e o material de limpeza da delegacia.
Trecho de denúncia da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz
Diálogo revela esquema, diz denúncia
A 2ª Vara Criminal de Santa Cruz condenou em 2022 um delegado e um policial civil por chefiarem uma organização para prática de atividade criminosa, extorsão mediante sequestro, usurpação de função pública e corrução. Outros cinco agentes públicos também foram condenados pela Justiça por envolvimento com o grupo com penas que variaram de três a 53 anos de prisão.
O caso envolvendo o pagamento de R$ 20 mil ordenado por Zinho fez parte da denúncia.
O UOL teve acesso à transcrição do diálogo por telefone entre dois policiais comentando o episódio envolvendo a ida de Zinho à delegacia. A escuta foi feita com base em autorização da Justiça.
Segundo a denúncia, os diálogos revelam a participação dos policiais no esquema. Veja abaixo os principais trechos:
Delegado - "Quem está aqui [Zinho] é irmão do cara aqui da área [em referência a Carlinhos Três Pontes, chefe da milícia na época]"
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Quero receberInspetor - "Fala, doutor! Irmão de quem?"
Delegado - "Do tal cara que você pediu para fazer investigação em cima dele. Aquele que é o cara que manda aqui na área (...). Não tem mandado, não tem nada contra ele"
Inspetor - "Mas ele foi pego com o quê?"
Delegado - "Algum crime na linha ambiental (...). A princípio, vai ser termo circunstanciado. Aí, depois, apurando, aí vai ver se consegue fazer uma conexão e ver se tem mais alguma coisa"
Inspetor - "Estou falando pro [cita o nome do inspetor que fez a abordagem] pra ele tomar cuidado, entendeu? Pra depois não arrumar problema"
Delegado - "Não, tranquilo. Só que vai ter que fazer um papel aqui [registro de ocorrência] para justificar a entrada dele [Zinho] aqui"
Inspetor - "Se o senhor for fazer o RO, faz uma apreensão de retroescavadeira [a máquina estava no terreno] e põe ele como fiel depositário, entendeu?"
Como Zinho chegou ao poder
Carlinhos Três Pontes, chefe da milícia na época, morreu apenas três meses depois do episódio envolvendo o pagamento de Zinho aos policiais. Ele foi baleado em abril de 2017 ao tentar reagir a um cerco policial para prendê-lo.
Wellington da Silva Braga, o Ecko, outro irmão de Zinho, assumiu o controle do grupo em seguida. Assim como Carlinhos Três Pontes, Ecko também foi morto em uma operação policial em junho de 2021. Após a morte de Ecko, Zinho passou a chefiar a maior milícia do Rio.
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